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os 10 posts mais lidos (esta semana) seguidos dos posts mais recentes (26 Outubro 2016):

Dec 30, 2010

Isabelle Caro (28 anos) faleceu [actualizada em 9.01.2011 com um novo texto e link; actualizada em 22.01.2011 ]

Talvez seja a imagem do corpo de Isabelle Caro que mais seja divulgada. Mas aquele corpo era apenas a consequência...Se fosse possível fotografar os pensamentos...A campanha (publicitária recorde-se, a uma marca de roupa, Nolita) tem estado a ser noticiada erradamente como uma campanha anti anorexia. As imagens chocantes contribuiram certamente para a discussão geral dos tamanhos zero na moda.

A anorexia é uma doença mental não uma opção ou estilo de vida em relação à qual existem muitos preconceitos, mitos e ideias erradas. Ser anoréctico não é 'ter a mania das dietas' é algo muito mais complexo. 'Coitada, tão magrinha' ou 'Que horror, tão magra' ou 'Por esse andar acontece-te o mesmo que áquela que morreu' são palavras que não ajudam a quem sofre da doença.

Como ex-anoréctica faço um pedido aos familiares, amigos, colegas, professores, treinadores que convivem com alguém com doenças do comportamento alimentar (anorexia ou bulimia): procurem informar-se sobre a doença e como ajudar. Não se preocupem tanto em 'entender a doença', não se preocupem tanto com o corpo esquelético, os cabelos a cair, a perda de forças...ANTES DO CORPO MAGRO VEJAM O SER HUMANO EM SOFRIMENTO QUE O HABITA.

A anorexia mata também em Portugal.

[acrescentado em 9 de Janeiro 2011]Uma médica portuguesa, Ana Matos Pires,  comentou assim (aqui) a campanha em 2007 quando foi lançada.
citando parcialmente o post cuja leitura integral recomendo:
"O lado positivo desta campanha, para mim e enquanto médica, é chamar a atenção para a necessidade de tratar precoce e eficazmente esta doença de modo a evitar situações como a apresentada nos cartazes, isto é, estados limite de caquexia que podem levar à a morte. Não me parece, contudo, que vá atingir outros objectivos medicamente significativos e, neste sentido, assino de cruz as declarações da psiquiatra Dulce Bouça, Presidente do Núcleo das Doenças do Comportamento Alimentar, presentes no Público de domingo passado: "Esta imagem tem um impacto mediático muito forte e uma mensagem muito intensa, que estabelece uma relação muito próxima entre o que é a vida e o que é a morte" e mais à frente "Quando um doente tem já uma anorexia, está de tal maneira em sofrimento que fica pouco sensível a estas imagens. Uma pessoa que esteja a iniciar a doença ou uma pessoa saudável que queira perder algum peso pensa sempre que nunca vai chegar àquele ponto". Na mesma peça jornalística podiam ler-se as opiniões de dois clínicos italianos que, tal como a Dulce Bouça, são autoridades na matéria, com provas científicas dadas. Fabiola de Clercq, presidente da Associação Italiana para o Estudo da Anorexia, comentou que a imagem é "demasiado crua" e que pode até fazer com que algumas pessoas sintam inveja do corpo de Isabelle e tentem ficar mais magras do que ela.  Riccardo dalle Grave, presidente da Associação Italiana de Problemas da Alimentação e do Peso, afirmou que "As imagens tornam banal um problema sério".
Também um texto e discussão sobre a história de Isabelle Caro pode ser encontrado em EDbites (aqui em inglês)
O blogue de Isabelle: http://neigeisabelle.blog.mongenie.com/
Actualização em 22.01.2011: Em Janeiro de 2011 a mãe de Isabelle suicidou-se. O post publicado em EdBites (em inglês) discute as falsas ideias sobre a 'reponsabilidade' na doença dos que envolvem o doente. Como habitualmente a recentrar a questão fugindo aos sensasionalismo, que foi infelizmente e mais uma vez o modo como o assunto voltou a ser tratado na imprensa.Ler aqui em EDBites.

Nov 27, 2010

por uns tempos vou deixar de colocar posts regularmente mas...

...continuarei a ler atentamente e a responder aos vossos comentários e emails que agradeço. As interrogações sobre a anorexia e bulimia permanecem online e 'lá fora'. Podemos encontrar-nos em esqueciaana@gmail.com ou no Facebook em esqueciaana.
ex-ana [ aqui desde 7 de Maio de 2009],
ex-anoréctica [há muitos anos]
à procura de respostas [sempre]
Fotografia: Lomografia Portugal's Photos - Lomoférias 2010 - 2º prémio - Jean Pol

Nov 21, 2010

... o que já sabemos sobre a anorexia, bulímia... ( " What we already know" )

O que JÁ sabemos...O título de uma página do King's College de Londres, com muitos recursos sobre doenças do comportameno alimentar (DCA; TA no Brasil) é elucidativo.
Alguma informação também para os cuidadores, familiares, ... (em várias línguas, infelizmente com algumas traduções bastante imperfeitas)

Nov 20, 2010

... filme " Maus Hábitos / Malos Habitos"


O filme, de 2007 é de um realizador mexicano Simon Bross. Ganhou 7 prémios. Em Portugal não recordo que tenha estado em sala. A história desenvolve-se em torno de doenças do comportamento alimentar. Tive conhecimento dele  por um blogue brasileiro (aqui).
"Especialista em transtornos alimentares, o psiquiatra Alexandre Azevedo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas, da USP (Universidade de São Paulo), foi assistir ao filme por indicação de uma paciente, que identificou sua condição nas telas. "O filme é bastante realista na apresentação das crenças que um portador do transtorno apresenta; claro que com certo 'colorido', por se tratar de uma ficção", critica. Mas ele diz que não o recomendaria para qualquer um: "No caso de uma paciente ainda resistente ao tratamento, ela vai ouvir o discurso da personagem como sendo verdadeiro e, assim, reforçar as crenças que tem sobre a doença".

[...]
esqueciaana: Uma resposta desse psiquiatra sobre o filme chama a atenção para o efeito (positivo ou negativo) que esta ficcção, e as ficções em geral sobre as doenças do comportamento alimentar podem ter.

"UOL Ciência e Saúde: Na sua opinião, o filme pode ajudar pacientes e familiares a entenderem melhor a doença? Você o indicou ou indicaria?


Alexandre Azevedo (psiquiatra): O filme só poderá ser indicado a pacientes que realmente já adquiriram crítica sobre a doença, ou seja, percebem-se doentes e desejam tratar-se e melhorar. No caso de uma paciente ainda resistente ao tratamento, ela vai ouvir o discurso da personagem como sendo verdadeiro e, assim, reforçar as crenças que tem sobre a doença. Nesse caso, filmes como esse podem até agravar os sintomas. No caso de pacientes adultas, que participam do tratamento e desejam melhorar, o filme pode ajudar a compreender a origem da doença e o quão vazia é a crença de que um corpo magro é garantia de sucesso. Além disso, ela pode se identificar com o sofrimento do personagem e isso lhe dará motivação para melhorar."

Nov 18, 2010

... emoções e anorexia

Está disponível na página da European Eating Disorders Review (aqui) o resumo e artigo publicado por uma equipa de investigadores portugueses. Já temos noticiado neste blogue anteriores trabalhos de alguns autores como por exemplo Sandra Torres (aqui O Corpo e o Silêncio das Emoções e aqui).
O processamento cognitivo das emoções na anorexia nervosa.(Torres S, MP Guerra, L Lencastre, Roma-Torres A, Brandão I, C Queirós, Vieira F.)
Resumo (tradução do original inglês)
OBJETIVO: Este estudo pretende explorar o processamento cognitivo das emoções na anorexia nervosa (AN), com base no estudo das emoções sentidas e avaliação das capacidades meta-emocionais.
MÉTODO: Oitenta pacientes com AN e um grupo de controle de 80 mulheres saudáveis foram analisadas em relação à depressão, ansiedade e alexitimia [nota de esqueciaana alexitimia significa incapacidade de identificar ou expressar emoções] e executou uma tarefa experimental para analisar a experiência emocional e as capacidades meta-emocionais.
RESULTADOS: Apesar de apresentarem níveis mais elevados de alexitimia, as participantes com AN demonstraram que eram capazes de imaginar as emoções em situações hipotéticas e de as identificar e classificar. O grupo de pacientes com AN revelou sentir de forma mais intensa e interna emoções negativas, em comparação com o grupo de controle, mas este padrão emocional tende a ocorrer em situações associadas à alimentação e ao peso.
CONCLUSÕES: Os resultados sobre as capacidades meta-emocionais não sugeriram um déficit global no processamento emocional, mas sim sensibilidades específicas relativas a situações relevantes para a AN.
foto flickr cc : (aqui)

Nov 17, 2010

...chamada urgente


Informação sobre os apoios e consultas especializadas em Portugal (Porto, Braga, Viseu, Coimbra, Amadora/Sintra,Lisboa ....mais informações ou rectificações serão sempre bem-vindas para esqueciaana@gmail.com )
LISBOA - Consulta de Comportamento Alimentar do Hospital de Santa Maria - 217805000
A Associação de Familiares e Amigos dos Anorécticos e Bulímicos tem actividades na região de Lisboa (+info)
COIMBRA - Consulta de Comportamento Alimentar dos Hospitais de Coimbra - 239402901
A Associação de Familiares e Amigos dos Anorécticos e Bulímicos está a reactivar o Núcleo de Coimbra (+info)
PORTO - Consulta de Comportamento Alimentar do Hospital de São João no Porto - 225512100 e Consulta de Pedo-Psiquiatria do Hospital de Crianças Maria Pia no Porto (funciona nas instalações do Magalhães Lemos) - 226089900
A Associação de Familiares e Amigos dos Anorécticos e Bulímicos promove reuniões regulares em horário pós laboral no São João (+info)
BRAGA - Consulta de Comportamento Alimentar do Hospital de S. Marcos em Braga - 253209000
A Associação de Familiares e Amigos dos Anorécticos e Bulímicos possui um núcleo em Braga (+info)
AMADORA SINTRA- Consulta de Doenças do Comportamento Alimentar, Hospital Fernando da Fonseca. Tel geral do Hospital: 214348200
A Associação de Familiares e Amigos dos Anorécticos e Bulímicos tem actividades na região de Lisboa (+info)
VISEU- Consulta de Doenças do Comportamento Alimentar, no Departamento de Psiquiatria do Hospital São Teotónio .Tel geral do Hospital: 232 420 500.
Existem ainda centros de saúde (19 no total) associados ao Instituto Português da Juventude (IPJ). Mais informação sobre esses centros e respectivos contactos podem ser encontradas AQUI.
Um telefonema que pode MUDAR tanta coisa para melhor...
foto de julia fullerton-batten (aqui)

Nov 16, 2010

... hoje na SIC notícias


Hoje, por volta das duas horas da manhã a SIC notícias vai transmitir um programa sobre anorexia.
(02:15 - Toda a Verdade)

Nov 14, 2010

... ensino relativo à anorexia e bulimia (Universidade de Cardiff)

Na Universidade de Cardiff ( País de Gales, Reino Unido) vai ser lançado um curso sobre bulimia e anorexia. Pode ser frequentado como um módulo autónomo ou integrado no MSc in Advanced Practice (ensino pos graduado). Centra-se em quatro domínios: avaliação e motivação, diagnóstico, programa de tratamentos e gestão do risco. Tem uma aproximação multidisciplinar envolvendo médicos, investigadores, doentes com doenças do comportamento alimentar (DCA) e cuidadores. + informação aqui e aqui.
Na mesma universidade encontram-se disponíveis recursos informativos sobre a anorexia e a bulimia nas seguintes páginas:

Em Portugal existe investigação cujos resultados estão publicados em teses e revistas científicas (de que vamos dando notícia no esqueciaana). Existem equipas que investigam as doenças do comportamento alimentar (DCA) pelo menos nas academias do Porto, Coimbra e Lisboa.

Pedido aos leitores de Portugal: enviem-me a informação que possuam (ficheiros, sites, links) sobre o ensino das doenças do comportamento alimentar (DCA) nas Faculdades de Medicina (e outros estabelecimentos, como as Escolas Superiores de Enfermagem). Fica a promessa de divulgação. Endereço:  esqueciaana@gmail.com

Nov 13, 2010

..." hoje é um bom dia para começar novos desafios"

FAXINA NA ALMA

do grande poeta brasileiro Carlos Drummond Andrade

Não importa onde você parou...em que momento da vida você cansou...
O que importa é que sempre é possível e necessário recomeçar.
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...
E renovar as esperanças na vida e o mais importante, acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período? foi aprendizado...
Chorou muito? foi limpeza da alma...
Ficou com raiva das pessoas? foi para perdoá-las um dia...
Sentiu-se só por diversas vezes? é porque fechaste a porta até para os anjos...
Acreditou que tudo estava perdido? era o início de sua melhora...
Pois é... agora é hora de reiniciar... de pensar na luz...
De encontrar prazer nas coisas simples de novo.
Que tal um novo emprego?
Uma nova profissão ?
Um corte de cabelo arrojado, diferente?
Um novo curso...Ou aquele velho desejo de aprender a pintar...
Desenhar... dominar o computador... ou qualquer outra coisa...
Olha quanto desafio... quanta coisa nova nesse mundão de meu Deus te esperando.
Esta se sentindo sozinho? besteira...
Tem tanta gente que você afastou com o seu "período de isolamento"...
Tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu para "chegar" perto de você.
Quando nos trancamos na tristeza...nem nós mesmos nos suportamos...
Ficamos horríveis...o mal humor vai comendo nosso fígado...até a boca fica amarga.
Recomeçar... hoje é um bom dia para começar novos desafios
Onde você quer chegar?
Ir alto... sonhe alto... queira o melhor do melhor...
Queira coisas boas para a vida...
Pensando assim trazemos para nós aquilo que desejamos...
Pensando pequeno... coisas pequenas teremos...
Já se desejarmos fortemente o melhor e principalmente lutarmos
Pelo melhor...o melhor vai se instalar na nossa vida.
E é hoje o dia da faxina mental...Jogue fora tudo que te prende ao passado... Ao mundinho de coisas tristes...fotos... peças de roupa, papel de bala... ingressos de cinema...
bilhetes de viagens... e toda aquela tranqueira que guardamos quando nos julgamos apaixonados...
Jogue tudo fora... mas principalmente... esvazie seu coração...fique pronto para a vida... para um novo amor...
Lembre-se somos apaixonáveis...somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes...
afinal de contas...Nós somos o "Amor"...
Porque somos do tamanho daquilo que vemos, e não do tamanho da nossa altura.

nota do esqueciaana: deste poema de Drummond de Andrade existem diversas versões na Internet. Esta aqui apresentada foi publicada numa revista literária seguida de outro poema de uma sobrinha do poeta. (aqui)
imagem flickr cc (aqui) acompanhada pela citação:~ liberate your heart from the cage of fear ~ : Love is what we are born with. Fear is what we have learned here. The spiritual journey is the unlearning of fear and the acceptance of love back into our hearts.(Marianne Williamson)

Nov 5, 2010

..."As imagens do nosso próprio corpo são sentimentos? " ( entrevista a António Damásio)

Numa entrevista dada ao jornal Publico a resposta de António Damásio fez-me pensar na distorção da imagem do próprio corpo sentida por alguns doentes com anorexia. Acham que esta minha associação está errada ou que o avanço do conhecimento neste domínio poderá contribuir para dar resposta aos (ainda) tão desconhecidos aspectos da anorexia nervosa?

P: As imagens do nosso próprio corpo são sentimentos?

Resposta de António Damásio [bolds do esqueciaana]

Sim, só que os mapas do corpo são diferentes dos mapas do mundo exterior. De facto, se há algo de novo no meu último livro [O livro da consciência]— algo que penso há muito tempo, mas que só agora consegui finalmente verbalizar numa forma que me agrada —, consiste em dizer que as imagens do corpo são imagens de uma natureza diferente das imagens do exterior. Porquê? Porque são imagens que começam a ser geradas ao nível do tronco cerebral, numa região do cérebro que está naquilo que eu descrevo no livro como uma união, uma fusão praticamente completa com o corpo. E o que isso vai permitir do ponto de vista teórico — e também prático, julgo eu — é fazer com que essas imagens não sejam só imagens cognitivas, divorciadas do seu objecto, mas sim imagens ligadas ao seu objecto, que é o corpo. Ou seja, imagens sentidas.

Ora isso prende-se com um problema absolutamente central, que inúmeros filósofos e neurocientistas têm enfrentado. É o problema dos qualia — a dificuldade de explicar que nós não só temos imagens, mas que também sentimos essas imagens. Quando olhamos para o mar, não vemos apenas o azul do mar, sentimos que estamos a viver esse momento de percepção.

Muitas pessoas têm dito que isto é impossível de compreender, que é algo que está fora do campo das neurociências. Mas eu acho que existe a possibilidade de que o modelo que acabei de descrever resolva o problema dos qualia. É óptimo vislumbrar a possibilidade de ligar coerentemente os sentimentos e a consciência. Por exemplo, neste momento, você tem uma imagem de mim, que está a construir a nível visual, mas também a nível auditivo. Mas há também uma outra imagem que surge ao mesmo tempo na sua mente: a imagem do seu próprio organismo, que está a ser gerada automaticamente no seu tronco cerebral e representada na sua ínsula [uma região do córtex cerebral]. Ora, essa imagem é uma imagem que, por estar ligada a si, está ao mesmo tempo a produzir um mapa que é sentimento. E é aí que me parece que está o grande segredo de criar uma consciência sentida e não uma consciência de autómato.

Imagem de Giuseppe Mastromatteo retirada daqui.

... António Damásio (video sobre a consciência)

«Neste seu novo trabalho, António Damásio desmistifica a ideia de que a consciência é algo separado do corpo e apresenta novas evidências científicas de que espantosa consciência que é, na verdade, um processo biológico criado pelo cérebro.

Além das três perspectivas tradicionais usadas para estudar a mente ( pessoal, comportamental e neurológica ), Damásio introduz a evolucionista , que implica uma mudança radical na forma como a história da mente consciente é vista e falada.

Ciência Hoje inclui nesta notícia um vídeo de António Damásio datado de 12 de Agosto último inserido em «Big Think», um fórum global que põe em contacto ideias e pessoas. Neste vídeo «Consciência' é como nós sabemos que existimos», o investigador que foi Prémio Pessoa em 1992, salienta: «A mente permite-nos perceber como é o Mundo, mas é a consciência que nos dá a vantagem subjectiva de dizer «Eu estou aqui, existo, tenho uma vida e há coisas à minha volta que se referem a mim».
Fonte Ciência Hoje (aqui)

Nov 3, 2010

...Anorexia doença (não opção!!! )



Uma das 23 ideias erradas associadas às doenças do comportamento alimentar é de que não é uma doença ( + aqui). Na Classificação Internacional de Doenças (CID) rev. 10 e na Classificação e descrição das doenças mentais da Associação Norte Americana de Psiquitria (APA) ( em inglês :Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - DSM) encontram-se caracterizações da Anorexia Nervosa.
Actualmente discutem-se os critérios de diagnóstico da Anorexia e da Bulimia no âmbito da nova versão do manual DSM V ( + aqui, aqui e aqui por exemplo) .
Imagem acima: alguns dos efeitos da anorexia no caso feminino (c) comotudofunciona/womenhealth.gov [clique para ampliar].  NOTA: existem também efeitos específicos em relação ao sexo masculino.
 A fotografia  do rosto está disponível em vários locais na Web mas desconheço a autoria,  Exemplifica  como o mecanismo de autofocagem do cérebro pode falhar.

Oct 24, 2010

... " Não basta abrir a janela " [ Fernando Pessoa ]


Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

In Poemas Inconjuntos,In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Fernando Cabral Martins, Richard Zenith, 2001.
A partir de agora na página da Casa Fernando Pessoa podem ser consultadas também as obras da Biblioteca Pessoal de Fernando Pessoa (digitalizada, obras em formato .pdf, algumas com anotações à margem do próprio Pessoa, inclui obras inéditas do próprio) (aqui)

Oct 17, 2010

...Médicos, ignorância e doenças do comportamento alimentar

 Abaixo transcrevo com autorização da autora (Carrie  Arnold do Blogue  EDbites dos US ) um texto sobre os médicos. Há mais de um mês tenho este texto que está muito bem escrito no original inglês (espero que a minha tradução livre não o estrague) para colocar no blogue e tenho hesitado em fazê-lo. Porquê?


Porque, apesar de saber que a alguns médicos assentam que nem uma luva as ignorâncias abaixo enumeradas, existem médicos excelentes em Portugal. Muitos médicos portugueses têm apoiado a recuperação de muitos doentes com anorexia e bulimia. Muitos doentes foram "salvos" por médicos maravilhosos, tecnica e humanamente maravilhosos. Os ex-doentes estão aí para testemunhá-lo. Mas principalmente porque os doentes devem procurar apoio dos especialistas, sempre!
Concluído o preâmbulo-aviso, segue a transcrição
...Médicos, ignorância e doenças do comportamento alimentar (dca)
 [no original: Doctors, ignorance, and eating disorders]
03/09/2010

" Há um aspecto interessante que encontrei numa dicussão sobre porque é que os médicos estão tão alheados das doenças do comportamento alimentar (Anorexia, Bulimia). Há aspectos relativos às empresas de seguros (nos Estados Unidos) e às regras dos serviços nacionais de saúde (no Canadá, no Reino Unido, etc.). Mas não estou a referir-me a isso.  É que a maioria dos clínicos não entende a doença, mesmo quando, eventualmente se intitulam de "especialistas" em doenças do comportamento alimentar (dca).

Penso que as possíveis razões para esse facto são:

1. Desconhecimento. Alguns médicos de facto, no fundo, não possuem a chave para o problema.  A situação mais perigosa (e frequente) é quando os médicos pensam que possuem a chave, mas de facto não a têm. Posso ser ainda mais específica: há aqueles que não têm idéia de que eles não percebem do assunto e há aqueles que não querem admitir que não percebem do assunto.

É curioso, porque eu respeito a sério um médico que me diz: "Sabe, isso realmente não é minha área de especialização, mas deixe-me procurar alguém que possa ajudá-la melhor." Admito que é difícil para alguém (um médico em particular) admitir que não sabe tudo, mas posso garantir-vos que passarei a respeitá-lo mais se assumir essa ignorância.

2. Impotência. Muitas das coisas para que os clínicos são formados e treinados para tratar envolvem, basicamente, dizer a um paciente o que fazer ou receitar-lhe um remédio, e o problema ficará resolvido. Mesmo noutras doenças que podem ser crónicas, complexas, há um caminho óbvio a seguir. Primeiro tenta-se um tratamento A, depois o B, depois o C. Assim, alguns médicos vão aconselhar a velha rotina "have a sandwich"  porque é o tipo de coisa que funciona com outras doenças.

Mas o problema com um transtorno alimentar não é realmente comer a sandocha. É convencer-te a comer (e digerir) a sandocha. Nem todos os doentes com dca padecem de problemas gastrointestinais mas posso garantir-vos que a maioria dos doentes pensa em comer a sandocha.   É o medo do que poderá acontecer se comer uma sanduiche que ataca a maioria dos pacientes. Penso que isso não é de facto compreendido. 

Outra coisa que acho que muitos médicos não percebem é que anorexia e a bulimia não são como as outras doenças. Porquê?

3. Pressupostos  errados. Quando alguém fica doente, geralmente quer melhorar. O problema com as doenças do comportamento alimenta é que muitos doentes  não reconhecem que têm um problema. E mesmo quando reconhecem, muitas vezes há problemas sérios com o acompanhamento clínico. Às vezes a motivação desaparece. Às vezes o doente mente para sair do consultório.  Às vezes o paciente sub valoriza a dificuldade do tratamento. Ou então o doente não compreendem a gravidade do problema ("o meu transtorno alimentar não é problemático"). A maioria dos médicos não percebem este comportamento. Não percebem porque alguém fica com estes  sintomas. Por isso, assumem que o doente está pronto e disposto a parar o comportamento doentio- o que nem sempre é verdade.

4. Regulam-se pelo doente. Nem sempre isso é mau. Acho que é bom que os médicos deixem 'assumir a liderança' aos doentes num estilo interactivo, em relação aos tipos de tratamentos que funcionam melhor, esse tipo de coisas. Mas quando um paciente não se rala verdadeiramente com uma coisa que o está a matar, os médicos muitas vezes pensam que afinal não deve ser assim tão grave.
(Eu tive este problema com a depressão simplesmente porque não demonstro plenamente as minhas emoções e tenho ao mesmo tempo um forte sentido de humor negro. Por isso, posso estar com uma depressão grave e ao mesmo tempo dizer graçolas ... de que só eu sei o verdadeiro significado).

5. A comunicação social, os mídia . Na comunicação social, quando se veêm os casos de doenças do comportamento alimentar, são apresentadas as situações mais extremas.    Por isso quando alguém entra no consultório com um peso que não é tão baixo como daquela magrizela que viu na TV na noite passada, ou que não vomita ou usa laxantes com a mesma frequência, é muito mais fácil (mas apesar disso irresponsável e estúpido) mandar o doente embora.

6. Sobre-valorização ou desvalorização das análises laboratoriais. Muitas pessoas podem estar com graves distúrbios do comportamento alimentar e mesmo assim terem o resultado das análises laboratoriais nos parâmetros normais. Por outro lado, as pessoas podem parecer mais ou menos saudáveis e terem resultados laboratoriais malucos. Mas como que peso não é realmente baixo, possivelmente não estão muito doentes. Ou se o peso é muito baixo, mas os resultados das análises laboratoriais estão normais, então não é provável que esteja muito doente.  

7. A sobrevalorização do peso. Esta explica-se por si só.

 

8. A histeria anti-obsesidade. Quando todas as mensagens que se ouvem são para se certificar de que as pessoas não estão demasiado gordas, provavelmente os médicos não reparam se elas estão demasiado magras.  Frequentemente os médicos encorajam os esforços para os doentes perderem peso porque pensam "Finalmente! Alguém a quem não tenho de debitar a lenga-lenga dos perigos dos fritos!" . Ou então os médicos ignoram a perda de peso de uma criança em crescimento porque ainda não está com "subpeso", embora a perda de peso seja rápida, acentuada, e coloca essa criança fora da curva de crescimento normal.  

9. Simplesmente não sabem lidar com as doenças do comportamento alimentar.  Sou a primeira a reconhecer que não sou uma pessoa fácil de tratar, especialmente quando estava doente. Faltava às consultas ou desaparecia e ignorava as recomendações dos médicos.  Eu não sabia que  tinha um problema, e que uma crise iria aparecer e que o inferno iria desabar sobre mim. Não invejo a sorte dos meus  médicos e terapeutas, e esse é um dos motivos mais óbvios porque não quero ser médica / terapeuta. Mas os pacientes resistentes carregam muita coisa com eles. Faz parte do jogo, e é a vida de alguém que está em jogo nas mãos dos médicos.

Porque acha que tantos médicos não conseguem entender as doenças do comportamento alimentar? Partilhe connosco os seus comentários, mas peço que isso não se transforme numa comparação para saber quem está mais doente. Não precisa dizer quantas vezes por dia ..., ou o seu peso / IMC. Não é essa a questão. O que eu estou curiosa por saber é o que a sua experiência lhe ensinou sobre porque tantos médicos estão alheados do que são as doenças do comportamento alimentar. "

Oct 7, 2010

...vamos fazer o que ainda não foi feito!


Fazer o que ainda não foi feito não será um bom lema de vida? ou dito de outra forma:
"CRIAR não é SONHAR, mas ao invés atento CONSTRUIR O QUE SE SONHA" [Manuel Mendes]
Não há como o olhar das crianças para expressar esse gosto pelo ignorado
Gosto da frase "vamos fazer o que ainda não foi feito"  num sentido mais geral do que a letra do Abrunhosa.

Sobre este post recebemos um comentário que transcrevemos parcialmente:
<< "fazer diferente" foi o lema que me trouxe até ao dia de hoje, cheio de cheiro de mudança. "fazer diferente" foi o único argumento para mudar d psiquiatra quando em 6 anos não encontrava as mudanças que queria na minha vida (de doente), "fazer diferente foi o que me levou ao internamento.... Ninguém que sofra destas (ou de outras) doenças pode desistir sem tentar "fazer diferente... sem fazer o que ainda não foi feito! >>

Oct 5, 2010

...depressão, sofrimento e tristeza

"Um em cada cinco portugueses sofre de depressão"
"A depressão mata 1200 pessoas por ano em Portugal"
[notícias recentes]
no esqueci a ana notas sobre o relatório da saúde mental dos portugueses
Miguel Chalub - [...]. Não se pode mais ficar entediado, aborrecido, chateado, porque isso é imediatamente transformado em depressão. É a medicalização de uma condição humana, a tristeza. É transformar um sentimento normal, que todos nós devemos ter, dependendo das situações, numa entidade patológica.
[ a entrevista pode ser lida na integra no blogue Psiquiatruras]
E também no blogue de Vanessa Marsden:
[...]
"Vivemos em uma sociedade na qual a frustração não é reconhecida. A frustração, não a felicidade, é o estado natural do ser humano. Somos frustrados ao nascer, retirados do calor e conforto maternos, jogados em um ambiente frio, em contato com luvas estéreis, em um mundo de fome e dor. A frustração por não alcançar o objeto colorido do outro lado do quarto nos faz engatinhar e andar. A frustração pode ser entendida como força motriz dos avanços da humanidade: sem ela, estaríamos num estado de apatia. Devido a ela, construímos casas confortáveis, buscamos ter o melhor para tapar aquele buraco sem fundo que se instalou ao nascimento.

Entretanto, a frustração hoje é completamente negada na sociedade de consumo. Desde pequenos somos bombardeados com a noção de que a felicidade é o estado natural do ser humano e se não somos felizes é porque não temos o sufiente. Quer ser feliz? Use colgate e sorria como as moças da propaganda. Quer ser feliz? Compre o último lançamento em carros e não somente serás feliz ao dirigí-lo, como parece que a moça semi-nua sobre o capô pode ser incluída na transação. Nesta sociedade de respostas "rápidas e fáceis" a mensagem é "sua frustração é somente culpa sua e ninguém mais a sente". Essa necessidade rápida de resolver um mal-estar, sem espaço para lidar com os sentimentos ou demonstrar a fraqueza de se pedir ajuda também tem sido apontada como uma das raízes do problema das drogas, mas isso é assunto para outro post."
[continuar a ler no Blogue da V. Marsden]

Também sobre a Depressão um texto no blogue que acompanho "Outros Olhares" (aqui).

fotografia flickr cc (aqui)

Oct 4, 2010

Sep 30, 2010

...abraços, medos, tacto, emoções ...(ciência e testemunho)

Uma das características dos doentes com anorexia é a dificuldade em revelar sentimentos (10 sinais de alarme aqui), em expressar emoções. O estudo da comunicação das emoções está principalmente focado na comunicação pelas expressões do rosto e pela voz. A comunicação das emoções pelo tacto é menos estudada.A investigação recente de  Matt Hertenstein é uma excepção (artigo sobre a comunicação das emoções pelo tacto aqui). Porque é relativamente universal o apoio que se sente quando somos abraçados ou nos dão a mão? O que acontece ao nosso cérebro e ao nosso corpo? Porque existe algo de magnético ou mágico num abraço? Estas são questões gerais que foram analisadas num programa de rádio (aqui em inglês).
Testemunho de uma mãe: Sempre achei que abraçar alguém era expressar carinho e apoio. Mas a minha filha [com anorexia] não se deixa abraçar. Repele qualquer toque humano. E eu quero abraçá-la.

Resultados científicos recentes obtidos com dados do populações diversas podem eventualmente explicar porque é que isso acontece. Ou seja, odiar ser tocada pela mãe por exemplo, pode ser uma questão fisiológica e não uma questão de relacionamento. 

Sem entrar em muitos detalhes técnicos que poderão ser aprofundados nos links. Hertenstein identificou uma área no cérebro que se torna muito activa em resposta ao  contacto amigável da pele. Essa área é o córtex órbito-frontal. É a mesma área que reage aos paladares doces e aos cheiros agradáveis. Quando somos tocados de forma amigável ocorre uma afluência de oxitocina (ou ocitocina)  que faz com que nos sintamos mais felizes. Há um conjunto de impulsos eléctricos que aumenta reduz o stress, etc. 

A mãe do anterior testemunho interroga-se: os anorexicos têm respostas anormais aos sabores doces. E se o cérebro é afectado pela fome /Anorexia nervosa, não poderá também ser a explicação para a minha filha odiar ser tocada? resistir à nossa proximidade física?

Estamos no terreno das hipóteses. Para alguns a hipótese colocada por esta mãe pode ser apenas uma tentativa de encontrar racionalidade forçada para o afastamento habitual das doentes em relação às mães (familiares etc.) . Para mim, pode ser mais que isso, pois é certo e testemunhado que anororexia e evitar ser tocado/a estão associados muitas vezes. Eventualmente por isso os 'ombros virtuais' (para o bem e para o mal) ganham tanta importância.

Para um texto poético sobre abraços (e laços) ver o blogue
http://wantobeforeveryoung.blogspot.com/2010/09/o-laco-e-o-abraco-um-dos-meus-textos.html

Testemunho da mãe (adaptado) no site para familiares e amigos de doentes com dca (em inglês): aroundthedinnertable (aqui)

Fotografia flickr cc (aqui)

...criar o próprio caminho


 imagem (c) (aqui)
Té disse...


"há tantas hipóteses...tanto para errar, tanto para experimentar... Que ninguém fique parado...há sempre um caminho!"

Sep 21, 2010

...Por vezes a recuperação...(ironias e contradições)


"POR VEZES, A RECUPERAÇÃO...

... é fazer o que SABEMOS ser certo, mesmo que não se sinta como certo.
... é tolerar os desconfortos físicos no curto prazo, em troca de saúde a longo prazo.
... é não sucumbir à tentação de comer irregularmente, mesmo que o nosso dia tenha corrido muito mal.
... é avançarmos, mesmo quando isso seja o caminho mais difícil (mas não impossível) a percorrer.
... é comprarmos pão acabado de cozer, apenas porque não tem um rótulo nutricional.
... é ir comer fora, embora existam medos e  ansiedade.
... é desfrutar da companhia dos outros, e considerá-los mais importantes que a comida.

Na recuperação de uma doença do comportamento alimentar (anorexia ou bulimia) somos frequentemente confrontadas com contradições - sabemos o que devemos fazer, mas sentimo-nos incapazes de agir, sabemos o que é real e mesmo assim acreditamos nas ilusões que a doença cria.
Às vezes a recuperação é aprender a gostarmos de nós e a perceber que merecemos a vida"
Fonte: tive conhecimento deste texto num dos meus Blogues preferidos (ED BITES). O post foi originalmente publicado noutro blogue (aqui).
fotografia flickr cc (aqui)

Sep 20, 2010

...Análise do conteúdo de 180 sites pro-ana e pro-mia (artigo científico)

Na Internet abundam páginas que fomentam a anorexia e a bulimia. São abreviadamente designados de sites pro-Ana e pro-Mia. Um grupo de investigadores da universidade norte americana Johns Hopkins publicou recentemente um estudo baseado na análise do conteúdo de 180 desses sites (todos em língua inglesa). Apresentamos o resumo e sugerimos a leitura nomeadamente aos especialistas. Conhecer melhor esses sites e o papel que desempenham ajuda certamente a conhecer melhor a doença.
Mais posts no esqueciaana sobre a internet e as DCA (TA no Brasil) (aqui)

O artigo original foi publicado em Agosto de 2010 na revista American Journal of Public Health da  American Public Health Association. Título: e-Ana e e-Mia: Uma análise de Conteúdo dos Sites Pró-Doenças do Comportamento Alimentar  [ no original: e-Ana and e-Mia: A Content Analysis of Pro–Eating Disorder Web Sites]

Objectivos. A Internet tem sites que descrevem, estimulam e apoiam as Doenças do Comportamento Alimentar (DCA:; TA Transtornos Alimentares no Brasil). A insvestigação analisa as características dos sites pro anorexia e pro bulimia e as mensagens a que os visitantes desses sites estão expostos.
Métodos. Foram analisados em relação ao conteúdo e de forma sistemática 180 sites todos eles em actividade, observando os aspectos logísticos/funcionalidades, as ferramentas o material "thinspiration"  (imagens e textos destinados a inspirar a perda de peso), dicas e truques, recuperação, assuntos e efeitos negativos apercebidos.
Resultados. Praticamente todos (91%) os sites estão abertos ao público em geral, e a maioria (79%) possui recursos interativos [possibilidade de comentar por exemplo]. A grande maioria (84%) disponibiliza conteúdos pró-anorexia e 64% conteúdos pró-bulimia. Poucos sites apresentam as docenças do comportamento alimentar como um estilo de vida. Material do tipo 'Thinspiration' existe em 85% dos sites. Em 83% dos sites, sugestões evidentes de sobre como se envolver  em comportamentos dca (TA no Brasil). 38% dos sites incluiam sites informação ou links orientados para a recuperação. Os assuntos comuns são: sucesso, controlo, perfeição e solidariedade.
Conclusões. Os sites pro-dca (pro-TA) apresentam material que encoraja, apoia e motiva os visitantes e utilizadores a prosseguirem os seus esforços em continuarem doentes. A observação regular desses sites numa perspectiva de investigação, pode fornecer uma informação preciosa para a melhor compreensão do efeito desses sites sobre os seus utilizadores.
Referência:
Borzekowski, D.L.G., S. Schenk, J.L. Wilson, R. Peebles. 2010. e-Ana and e-Mia: A content analysis of pro-eating disorder web sites. American Journal of Public Health. 100: 1526-1534.
DOI: 10.2105/AJPH.2009.172700
Correspondência:
Dina L. G. Borzekowski, EdD, Department of Health, Behavior and Society, Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, 624 N Broadway, Baltimore, MD 21205 (e-mail: dborzeko@jhsph.edu). Reprints can be ordered at http://www.ajph.org
At the time this research was completed, Dina L. G. Borzekowski and Summer Schenk were with the Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, Baltimore, MD. Jenny L. Wilson and Rebecka Peebles were with the Stanford University School of Medicine, Mountain View, CA.
imagem em flickr cc (aqui) : " O verdadeiro valor de uma rede tem menos a ver com a informação emais a ver com a comunidade. A autoestrada da informação é mais que um atalho para a Biblioteca do Congresso [uma das maiores bibliotecas mundiais]. A Internet está a criar um tecido social global nove" Being Digital , 1995, Nicholas Negroponte p.183.

Sep 18, 2010

...acne, imagem, depressão e...


A importância da imagem corporal na adolescência é muito grande. Hoje como há meio século (como ilustra o anúncio de 1965 acima reproduzido). O DN noticiou ontem (aqui) os resultados de um estudo baseado numa amostra de perto de 4000 adolescentes da Noruega entre os 18-19 anos. O resumo e referências do artigo original publicado no Journal of Investigative Dermatology , (16 September 2010) pode ser lido no fim deste post.

Esse estudo conclui pela associação entre depressão e pensamentos em por fim à vida e o acne. Acrescento que esta questão da associação entre o acne e a depressão e  suicídio nos adolescentes está desde há anos também relacionada com o uso de determinados fármacos anti-acne (que foram proibidos em alguns países) sobre os quais existiam indícios de geral depressões. É o caso do ACCUTANE (da Roche) e do ISOTRETINOIN (a versão genérica do medicamento). Esta mesma questão é discutida numa outra notícia sobre o mesmo estudo e que pode ser lida online (aqui).
Pela importância "do poder da imagem e à relação dos jovens com o espelho" transcrevemos algumas declarações de especialistas contactados pela jornalista Ana Bela Ferreira:
Psicólogo João Balrôa:
"O rosto é fundamental na comunicação humana e é importante sentir que o outro gosta da nossa presença. E, neste caso, o acne pode causar impressão no outro e essa sensação tem um grande impacto nos adolescentes". "o importante é o adolescente ter alguém que lhe dá valor e ajuda a secundarizar problemas". "Deve dar-se esperança ao jovem, até porque sabemos que o suicídio acontece quando as pessoas perdem a esperança"
Psiquiatra e ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Suicidologia (SPS) Carlos Braz Saraiva:
"A imagem tem um papel importante na sociedade actual e os problemas ganham maior dimensão se forem na face"
Presidente da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia, Manuel Marques Gomes:"Está provado é que o acne é um dos problemas que pode aumentar a percentagem de suicídio, mas não é causa única"



Referência
Suicidal Ideation, Mental Health Problems, and Social Impairment Are Increased in Adolescents with Acne: A Population-Based Study
Jon A Halvorsen, Robert S Stern, Florence Dalgard, Magne Thoresen, Espen Bjertness and Lars Lien
Journal of Investigative Dermatology , (16 September 2010)
doi:10.1038/jid.2010.264

"RESUMO: (tradução livre do inglês)
Foi efectuado um estudo seccional baseado num questionário para aprofundar o conhecimento da relação entre os pensamentos suicidas, problemas de saúde mental e de socialização e o acne grave entre adolescentes com 18-19 anos. 
Foram convidados a participar 4.744 jovens e 80% (3.775) participaram. No conjunto, 14% dos inquiridos declararam ter muito ou muitissimo acne. Comparando os que declararam ter muitissimo acne e e aqueles que declararam ter pouco ou nenhum acne, os pensamentos suicidas ocorrem o dobro das vezes no caso das raparigas (25.5 vs 11.9) e são três vezes mais frequentes nos rapazes (22.6 vs 6.3). Os pensamentos suicidas estão associados estatisticamente ao acne também quando se adopta um  modelo de análise multivariável em que se controla os sintomas de depressão a etneia e o rendimento familiar. 
Estão também associados, os problemas de saúde mental, avaliados pelo questionário Strengths and Difficulties Questionnaire, fraca ligação aos amigos, fraco desempenho escolar, inexistência de uma relação amorosa e nunca ter tido uma relação sexual. O acne surge normalmente na adolescência e está associado a problemas sociais e psicológicos. Factores negativos incluindo ideias suicidárias e depressão que têm sido associadas com as terapias para o tratamento do acne podem afinal ser resultantes do próprio acne."

fotografia flickr cc (aqui) ; imagem: anúncio a creme de combate ao acne (1965)