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Apr 22, 2010

...Como ajudar alguém com anorexia e/ou bulimia? ( Parte 1 de 3)


 
 
Encontrei um texto da Janet Treasure (*) sobre Os CUIDADORES dos doentes com Transtornos do Comportamento Alimentar-TCA (Anorexia, Bulimia e outras) traduzido em várias línguas, na página de um centro de investigação sobre TCA do King's College em Londres. O texto integral pode ser encontado aqui. Transcrevo e adapto parte desse texto assim como as duas figuras abaixo. Em posts posteriores irei referir o restante. Está orientado para os 'cuidadores' e pensado especialmente para os pais da/o doente. Sabemos no entanto que actualmente são muitos as/os doentes que vivem sozinhos ou com outros familiares que não os pais, até porque as doenças se revela em diferentes idades.
" Os sintomas de transtornos alimentares podem ter impacto social profundo e efeitos emocionais para cuidadores [ os pais, os irmãos, os namorados/as]. Os sintomas variam em forma e impacto e podem ser assustadores, avassaladores, anti-sociais, frustrantes e geradores de ansiedade. Note que no texto e Figuras 1 e 2 acima utilizamos 'TCA' para representar o transtorno do comportamento alimentar, esquematizando algumas relações cuidador/doente.
Para o cuidador, a vida social evapora-se, qualquer semelhança com a normalidade desaparece, os planos para o futuro são colocados em espera e as relações associadas à comida aos poucos vão dominando todas as relações familiares. Consequentemente, é compreensível que essas interações se tornem fonte de conflitos entre os membros da família. Infelizmente, a maneira pela qual o cuidador tenta minorar os sintomas pode involuntariamente desempenhar o papel exactamente oposto mantendo e fortalecendo os mesmos sintomas (Treasure et al., 2008). O resultado pode ser um indivíduo que se sente alienado e se encerra ainda mais nos seus comportamentos doentios. Os cuidadores frequentemente referem [ não saber o que fazer, não saber como ajudar] a falta de habilidade e a inexistência dos recursos necessários para cuidar dos seus entes queridos e admitem que precisam de ajuda para saber o que fazer perante a anorexia e/ou bulimia dos seus entes queridos (Haigh & Treasure, 2003).
Figura 1 - O ABC da Acomodação: Intimmidado/a pelo TCA (ver figura verde abaixo)
Perguntas ao cuidador: O TCA intimida-o em relação a quê? quanto e como come é afectado? Afecta-o/a em relação às vezes e ao momento em que pode usar a cozinha ou a casa-de-banho? É controlado/a quando e como faz as compras? É controlado sobre os horários e organização das refeições?
Figura 2- O ABC do fortalecimento dos comportamentos de TCA (ver figura azul abaixo)
Perguntas ao cuidador: Estará a encobrir as consequências negativas do TCA e a tentar 'por ordem na confusão'?, lidando com os problemas na casa de banho, comprando mais comida[ esta observação aplica-se mais à convivência com a bulimia]. Estará a fingir que não vê os comportamentos anti-sociais? Talvez tenha sido dominada/o por rituais abscessivos.
[...]
Os cuidadores são a solução, não o problema. A anorexia e bulimia nervosas e outros TCA podem fazer e geralmente fazem exigências enormes aos membros da família do doente que encontram dificuldades em lidar com a situação. Os cuidadores e/ou familiares são o apoio principal da/o doente [ou podem ser], contudo, são por vezes dominados por padrões de comportamento que não ajudam a recuperação e podem até perpetuar os comportamentos de transtorno alimentar.[...]
[...]
Iremos descrever através de analogias com animais algumas reacções habituais das pessoas que dão apoio e cuidam dos doentes com anorexia, bulimia e outros TCA. Essas recções são por vezes entraves à prestação de uma ajuda efectiva. Cada analogia com um animal pode representar um modo padrão, uma tipologia de lidar com o stress (por exemplo superprotector, racional, emotivo, negando, etc.) [...]
Mais informações sobre essas analogias podem ser encontradas em Treasure et al (2007)."
Iremos apresentar neste blogue algumas dessas analogias, e pensamos que poderão ser úteis apesar de apresentarem situações 'puras' nunca existentes na realidade. Na realidade existirão combinações de algumas atitudes em que uma predomina, ou irão suceder-se várias ao longo do tempo.

Comportamentos inadequados: analogias com animais de Janet Treasure:
O canguru (emoção demais e controlo demais)
O rinoceronte (lógica demais e emoção a menos)
O avestruz (muito pouca emoção e muito pouco controlo)
A medusa (muita emoção e muito pouco controlo)

Comportamentos adequados: propostas de Janet Treasure:
O golfinho (cuidado e controlo na medida certa)
O cão bernardo (compaixão e consistência na medida certa)NOTA: Nos próximo 2 post referiremos estas duas últimas analogias. Ver também ajudar a tua amiga num post deste blogue.
 
CONTINUA: Sobre o mesmo assunto pode ler, entre outros:
(*)Janet Treasure é Professora Catedrática no South London & Maudsley NHS, Trust Director da Eating Disorder Unit e Professora de Psiquiatria da Guys, Kings & St Thomas Medical School, King's College em Londres. É uma reconhecida especialista em Doenças do Comportamento Alimentar que investiga há mais de 20 anos. Fez uma ãpresentação recentemente no Museum of London [ aqui o video ] em que também participa a autora do blogue Finding Melissa .
Referências:
Treasure, J., Sepulveda, A., MacDonald, P., Whitaker, P., Lopez, C., Zabala, M, et al. (2008). Interpersonal maintaining factors in eating disorder: Skill sharing interventions for carers. International Journal of Child and Adolescent Health, 1(4).
Treasure, J., Smith, G. D., & Crane, A. M. (2007). Skills-based learning for caring for a loved one with an eating disorder. Hampshire: Routledge: Taylor and Francis Group.Haigh, R., & Treasure, J. (2003). Investigating the needs of carers in the area of eating disorders: development of the Carers' Needs Assessment Measure (CaNAM). European Eating Disorders Review, 11, 125-141.
fotografia inicial: creative commons aqui

1 comment:

Anonymous said...

Ola minha Amiga, ando a ler este livro ja ha tempos, mas mt devagarinho pq me identifico com quase todas as linhas do mesmo..falo do meu passado felizmente.. e ele revela que efetivamente esses bons medicos conseguiram penetrar mt bem no nosso intimo e escutar os nossos gritos..tanta verdade que la é dita, mtas até desconhecidas de nós proprios doentes, porque escondidas pela doença..
depois de le-lo vou comprar mais uns exemplares e oferecer a pessoas que estejam a precisar.
bjs
raioverde