Encontrei um texto da Janet Treasure (*) sobre Os CUIDADORES dos doentes com Transtornos do Comportamento Alimentar-TCA (Anorexia, Bulimia e outras) traduzido em várias línguas, na página de um centro de investigação sobre TCA do King's College em Londres. O texto integral pode ser encontado aqui. Transcrevo e adapto parte desse texto assim como as duas figuras abaixo. Em posts posteriores irei referir o restante. Está orientado para os 'cuidadores' e pensado especialmente para os pais da/o doente. Sabemos no entanto que actualmente são muitos as/os doentes que vivem sozinhos ou com outros familiares que não os pais, até porque as doenças se revela em diferentes idades.
" Os sintomas de transtornos alimentares podem ter impacto social profundo e efeitos emocionais para cuidadores [ os pais, os irmãos, os namorados/as]. Os sintomas variam em forma e impacto e podem ser assustadores, avassaladores, anti-sociais, frustrantes e geradores de ansiedade. Note que no texto e Figuras 1 e 2 acima utilizamos 'TCA' para representar o transtorno do comportamento alimentar, esquematizando algumas relações cuidador/doente.
Para o cuidador, a vida social evapora-se, qualquer semelhança com a normalidade desaparece, os planos para o futuro são colocados em espera e as relações associadas à comida aos poucos vão dominando todas as relações familiares. Consequentemente, é compreensível que essas interações se tornem fonte de conflitos entre os membros da família. Infelizmente, a maneira pela qual o cuidador tenta minorar os sintomas pode involuntariamente desempenhar o papel exactamente oposto mantendo e fortalecendo os mesmos sintomas (Treasure et al., 2008). O resultado pode ser um indivíduo que se sente alienado e se encerra ainda mais nos seus comportamentos doentios. Os cuidadores frequentemente referem [ não saber o que fazer, não saber como ajudar] a falta de habilidade e a inexistência dos recursos necessários para cuidar dos seus entes queridos e admitem que precisam de ajuda para saber o que fazer perante a anorexia e/ou bulimia dos seus entes queridos (Haigh & Treasure, 2003).
Figura 1 - O ABC da Acomodação: Intimmidado/a pelo TCA (ver figura verde abaixo)
Perguntas ao cuidador: O TCA intimida-o em relação a quê? quanto e como come é afectado? Afecta-o/a em relação às vezes e ao momento em que pode usar a cozinha ou a casa-de-banho? É controlado/a quando e como faz as compras? É controlado sobre os horários e organização das refeições?
Para o cuidador, a vida social evapora-se, qualquer semelhança com a normalidade desaparece, os planos para o futuro são colocados em espera e as relações associadas à comida aos poucos vão dominando todas as relações familiares. Consequentemente, é compreensível que essas interações se tornem fonte de conflitos entre os membros da família. Infelizmente, a maneira pela qual o cuidador tenta minorar os sintomas pode involuntariamente desempenhar o papel exactamente oposto mantendo e fortalecendo os mesmos sintomas (Treasure et al., 2008). O resultado pode ser um indivíduo que se sente alienado e se encerra ainda mais nos seus comportamentos doentios. Os cuidadores frequentemente referem [ não saber o que fazer, não saber como ajudar] a falta de habilidade e a inexistência dos recursos necessários para cuidar dos seus entes queridos e admitem que precisam de ajuda para saber o que fazer perante a anorexia e/ou bulimia dos seus entes queridos (Haigh & Treasure, 2003).
Figura 1 - O ABC da Acomodação: Intimmidado/a pelo TCA (ver figura verde abaixo)
Perguntas ao cuidador: O TCA intimida-o em relação a quê? quanto e como come é afectado? Afecta-o/a em relação às vezes e ao momento em que pode usar a cozinha ou a casa-de-banho? É controlado/a quando e como faz as compras? É controlado sobre os horários e organização das refeições?
Figura 2- O ABC do fortalecimento dos comportamentos de TCA (ver figura azul abaixo)
Perguntas ao cuidador: Estará a encobrir as consequências negativas do TCA e a tentar 'por ordem na confusão'?, lidando com os problemas na casa de banho, comprando mais comida[ esta observação aplica-se mais à convivência com a bulimia]. Estará a fingir que não vê os comportamentos anti-sociais? Talvez tenha sido dominada/o por rituais abscessivos.
[...]
Os cuidadores são a solução, não o problema. A anorexia e bulimia nervosas e outros TCA podem fazer e geralmente fazem exigências enormes aos membros da família do doente que encontram dificuldades em lidar com a situação. Os cuidadores e/ou familiares são o apoio principal da/o doente [ou podem ser], contudo, são por vezes dominados por padrões de comportamento que não ajudam a recuperação e podem até perpetuar os comportamentos de transtorno alimentar.[...]
[...]
Iremos descrever através de analogias com animais algumas reacções habituais das pessoas que dão apoio e cuidam dos doentes com anorexia, bulimia e outros TCA. Essas recções são por vezes entraves à prestação de uma ajuda efectiva. Cada analogia com um animal pode representar um modo padrão, uma tipologia de lidar com o stress (por exemplo superprotector, racional, emotivo, negando, etc.) [...]
Mais informações sobre essas analogias podem ser encontradas em Treasure et al (2007)."
Iremos apresentar neste blogue algumas dessas analogias, e pensamos que poderão ser úteis apesar de apresentarem situações 'puras' nunca existentes na realidade. Na realidade existirão combinações de algumas atitudes em que uma predomina, ou irão suceder-se várias ao longo do tempo.
Comportamentos inadequados: analogias com animais de Janet Treasure:
Comportamentos adequados: propostas de Janet Treasure:
O golfinho (cuidado e controlo na medida certa)
O cão bernardo (compaixão e consistência na medida certa)NOTA: Nos próximo 2 post referiremos estas duas últimas analogias. Ver também ajudar a tua amiga num post deste blogue.
CONTINUA: Sobre o mesmo assunto pode ler, entre outros:
(*)Janet Treasure é Professora Catedrática no South London & Maudsley NHS, Trust Director da Eating Disorder Unit e Professora de Psiquiatria da Guys, Kings & St Thomas Medical School, King's College em Londres. É uma reconhecida especialista em Doenças do Comportamento Alimentar que investiga há mais de 20 anos. Fez uma ãpresentação recentemente no Museum of London [ aqui o video ] em que também participa a autora do blogue Finding Melissa .
Referências:
Treasure, J., Sepulveda, A., MacDonald, P., Whitaker, P., Lopez, C., Zabala, M, et al. (2008). Interpersonal maintaining factors in eating disorder: Skill sharing interventions for carers. International Journal of Child and Adolescent Health, 1(4).
Treasure, J., Sepulveda, A., MacDonald, P., Whitaker, P., Lopez, C., Zabala, M, et al. (2008). Interpersonal maintaining factors in eating disorder: Skill sharing interventions for carers. International Journal of Child and Adolescent Health, 1(4).
Treasure, J., Smith, G. D., & Crane, A. M. (2007). Skills-based learning for caring for a loved one with an eating disorder. Hampshire: Routledge: Taylor and Francis Group.Haigh, R., & Treasure, J. (2003). Investigating the needs of carers in the area of eating disorders: development of the Carers' Needs Assessment Measure (CaNAM). European Eating Disorders Review, 11, 125-141.
fotografia inicial: creative commons aqui
1 comment:
Ola minha Amiga, ando a ler este livro ja ha tempos, mas mt devagarinho pq me identifico com quase todas as linhas do mesmo..falo do meu passado felizmente.. e ele revela que efetivamente esses bons medicos conseguiram penetrar mt bem no nosso intimo e escutar os nossos gritos..tanta verdade que la é dita, mtas até desconhecidas de nós proprios doentes, porque escondidas pela doença..
depois de le-lo vou comprar mais uns exemplares e oferecer a pessoas que estejam a precisar.
bjs
raioverde
Post a Comment