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Nov 6, 2013

... likes, instagram e anorexia (testemunho de Amanda Melito)


 


Quantos likes essa anorexia merece? Duas garotas lindas e inteligentes definham enquanto seus seguidores elogiam sua magreza. Esta semana, uma morreu. Amanda Melito, que acordou a tempo, conta sua história.

Postado em 23 ago 2013por :  no diário do Centro do Mundo (Brasil)
 
Na última terça-feira, dia 20, uma jovem gaúcha com milhares de fãs nas redes sociais, autora de comentários espirituosos no Twitter e com centenas de fotos que sublinhavam sua beleza postadas na rede, morreu. Ela atendia pela arroba @megan_foques e chamava-se Daiane Dornelles. Amigos e conhecidos apontam como causa da morte complicações de uma disfunção alimentar que pouco a pouco alcança níveis epidêmicos: a anorexia nervosa.
Outra tuiteira de sucesso, @amandamelito (ela já se apresentou como @cherguevara, mas desistiu do trocadilho), resolveu não calar. Elas não se conheciam. Mas Amanda experimentou o inferno do qual Daiane não foi resgatada. A pedido do Diário, ela escreveu um depoimento.
Bons tempos em que pegar o jornal sobre o capacho consistia na primeira fonte de informação do dia. Hoje, nossas manhãs se transformaram num ritual em que nos inteiramos da vida alheia: em que restaurante as pessoas andam comendo, em que balada cara entram no cheque especial, em que “look” as gatas andam se oferecendo. E nos mostrando, claro. Gastamos os primeiros minutos do dia apegados ao que muitos pregamos ser irrelevante: a incessável busca da aprovação da nossa audiência particular. Eu falei “primeiros minutos do dia”? Começa cedo e vai o dia inteiro, a gente sabe bem.
Vemos pessoas comuns exibindo suas silhuetas e assumindo notoriedade suficiente para se tornarem padrões de beleza entre seus fãs. É curioso, mas acompanhamos famosos nos seus dias de anônimos – e anônimos se transformando celebridades. Participamos da rotina das celebridades e dos momentos de glória dos aspirantes. “Podemos ser um deles” – será que é isso que secretamente pensamos?
Até meus 14 anos, mesmo estando naquela fase conturbada de pré-adolescência, nunca tive muita preocupação com a minha aparência. Na época, já tinha a altura que permanece intacta até hoje: 1,58 m. Meu peso era compatível com a minha estatura, e oscilava entre 48kg – 50kg. Era vaidosa, lógico, adorava me embonecar, mas satisfeita com o meu físico. Minha família se encaixava perfeitamente no modelo de lar ideal: pais com um casamento estável, patriarca com carreira em ascensão, filhos saudáveis e domáveis.
Mas, subitamente, as coisas começaram a degringolar. Meus pais tiveram problemas conjugais e eu, caçula, senti aquela redoma, até então blindada, espatifar. Desolada, consumida por uma tristeza profunda, aos poucos fui parando de comer. Não tinha nenhuma meta, fora a inconsciente de desviar a atenção do divórcio iminente deles. Comecei a emagrecer exponencialmente e consegui “reter” o olhar da minha família. E, pouco a pouco, passei a sustentar um objetivo palpável. Esquálida, pesando 38kg, me olhava no espelho e me via enorme. Usava roupas largas e ainda assim me queixava que elas acentuavam meu “sobrepeso”.
Já havia iniciado um tratamento psiquiátrico, mas mesmo assim não respondia as investidas médicas. Até que um dia, no banho, consegui por uma fração de segundo me enxergar. Entrei em pânico e resolvi voltar a comer. Passei muito mal no começo, meu organismo não aceitava quase nada do que eu ingeria. Mas gradativamente fui me recuperando, e consegui me manter estável pelos próximos 10 anos.
De 1997 pra cá, tive duas recaídas: a primeira foi em 2008, quando já morava sozinha. Voltei a pesar 38kg, precisei ser afastada do trabalho, mas consegui reagir e reverter o quadro relativamente rápido. A segunda, e mais violenta, começou em 2011.
Em ambas reincidências, eu havia sofrido um desgaste emocional pesado, estava com o coração em frangalhos. Veja, não estou atribuindo a responsabilidade de ter adoecido a nada e a ninguém. Não existem culpados. Existem situações e condições que te deixam mais vulnerável. Em menos de 1 ano, perdi 20% do meu peso – uma porcentagem expressiva para quem tem a minha altura.
Minha família, meus amigos, meu namorado, meus colegas de trabalho se mobilizaram para me ajudar, mas eu negava e era extremamente ríspida com quem se aproximava de mim para oferecer auxílio. Eu tentava os confortar dizendo que estava tudo bem, porque realmente achava que estava.
E esse é o grande perigo da anorexia nervosa, a única doença de ordem psiquiátrica que pode levar à morte: ela age de forma silenciosa; você não tem sintomas concretos que te alertam que algo está errado.
E aqui entra a parte sinistra da coisa. A coisa que, suspeito, matou a bela Daiane. Mesmo que apresentasse todos os sintomas, eu contava com o apoio de seguidores no Instagram que alimentavam (sem ironia) o resultado da minha privação.
Nunca fiz apologia à doença, até porque demorei muito para admitir que tinha um distúrbio, mas continuava publicando minhas famigeradas fotos de elevador. E, mesmo em um estado deplorável, recebia elogios que me davam forças para continuar enfraquecendo.
Bem, fui novamente afastada do trabalho e submetida a um tratamento intensivo, com respaldo semanal de nutricionista, psicólogo e psiquiatra. Dessa vez, a doença estava tão arraigada em mim que meu quadro apresentava sérios riscos clínicos. Pesando 30kg e correndo risco de morte, fui internada involuntariamente em 31 de agosto de 2012 no Ecal – Enfermaria de Comportamento Alimentar – centro do Hospital das Clínicas especializado em transtornos alimentares. Por 3 meses, convivi com meninas que tinham problemas de distorção de imagem, cada qual com sua peculiaridade.
Quantas noites chorando baixinho e pedindo paciência. Quantos sonos interrompidos por pesadelos. Quantas manhãs letárgicas experimentando os olhares mais tristes que eu já tive. Até que tudo que estava descarrilado foi entrando nos eixos. Quase um ano se passou, e me mantenho forte. Passei a canalizar toda a obstinação que era usada em prol de um biotipo que eu julgava ideal para a manutenção da minha saúde.
Graças a essa intervenção, aprendi a comer. Aprendi a encarar como um elogio a beleza “exótica” que me endereçavam e até a me orgulhar das pernocas grossas que eu sempre tive.
A máxima de qualquer tratamento deste tipo: um dia de cada vez.  Nunca estaremos livres. Eu tive ajuda. Outras garotas não têm.
O que elas têm são centenas, milhares de polegares estendidos positivamente em sua direção dizendo apenas umas coisa: continua assim. Você está linda.
O instagram da Daiane: http://instagram.com/daidornelles
 

Mar 4, 2013

...Anorexia e funcionamento dos rins (artigo científico de investigadores portugueses em British Medical Journal (2013)

Foi publicado recentemente (17 de Janeiro 2013) um artigo de investigadores portugueses na revista científica BMJ British Medical Journal  (que pode ser lido aqui). Transcrevemos a tradução adaptada do resumo e pedimos desculpa aos Autores se não somos completamente fiéis que pode ser lido em inglês aqui.
 
Título: Anorexia nervosa e diálise: não temos tempo quando o corpo está tão danificado!
Autores: 1. Eva Osório,2. Isabel Milheiro,3. Isabel Brandão,4. António Roma Torres
1. Departamento de Psiquiatria, Centro Hospitalar de São João, EPE, Porto, Portugal
1. Correspondência para o Dr. Eva Osório, eva.agape @ gmail.com
BMJ Case Reports2013; doi:10.1136/bcr-2012-007294
RESUMO
 
"Anorexia nervosa é díficil de tratar  e difícil de prevenir. Cerca de 5% dos indivíduos afectados morrem desta doença e 20% desenvolvem um transtorno alimentar crónico. A anorexia nervosa pode associar-se a várias complicações médicas de gravidade variável, incluindo a disfunção do sistema renal (rins). Embora existam alguns relatos de insuficiência renal em pacientes com anorexia nervosa, poucos são os relatos sobre pacientes que necessitaram de diálise de manutenção. Relatamos um caso de um paciente com  anorexia nervosa-compulsão alimentar/tipo purgativo persistentes e não tratadas durante muito tempo. Esse paciente iniciou   o tratamento psiquiátrico, quando estava numa situação de risco de vida (insuficiência renal com necessidade de diálise), com insucesso na recuperação de peso enquanto em diálise e que faleceu de septicemia. São descritos os mecanismos que parecem ter estado envolvidos no desenvolvimento da fase final da doença renal no paciente e os lutas associadas ao seu tratamento. Os pacientes com anorexia nervosa devem ser cuidadosamente acompanhados para descobrir as manifestações subtis de insuficiência renal."

Jun 23, 2012

...Anorexia mata jovem de 17 anos


A anorexia  mata. As estatísticas exactas nomeadamente em Portugal não são conhecidas, também porque em alguns casos as mortes ocorrem por problemas de saúde em consequência da anorexia (paragem geral dos orgãos, ataque cardíaco, etc.)
A Charlote Seddon uma jovem inglesa de 17 anos sofria de anorexia (que escondia da família) desde os 13 anos. Era uma “excelente aluna, popular entre os colegas e confiante”, assim é descrita por amigos, colegas e professores. Mas…agora que os pais encontraram o diário que ia escrevendo nos últimos anos onde são descritos os dramas de contagem das calorias, falta de confiança e auto-estima, exercício compulsivo, purgação, numa espiral crescente sabe-se que a ‘verdadeira Charlote’ era diferente. (esqueciaana aos pais que leiem este blogue: não se iludam com o que a vossa filha ou filho inteligente e brilhante ‘mostra’ que é…)
Morreu com muito pouco peso, com um IMC (Índice de Massa Corporal) muito baixo (esqueciaana aos leitoras deste blogue que sofrem de anorexia: possivelmente um IMC parecido ao vosso).  Também o coração dela era anormalmente leve: a autópsia feita ao corpo da Charlotte’s revelou que o coração dela pesava só 190g (7oz) quando o peso normal seria 320g (11oz) (já antes aqui no esqueciaana referimos a questão de o coração ser um músculo…que também enfraquece se não for alimentado) . Todos os músculos à volta do coração apresentavam também estarem fragilizados e com falta de nutrientes.
Recusava-se a comer com os pais dizendo que já tinha comido. Os pais dela agora alertam para que os pais estejam mais atentos ao que os filhos comem. (comentário do esqueciaana, porque não é a comida o problema, a comida é o ‘lado vísivel’ –quando é- do problema: que estejam ATENTOS AO QUE OS FILHOS SENTEM!)
A Charlotte ganhou diversos prémios escolares (na fotografia o momento de receber um deles há 2 anos atrás) e foi nomeada para o Young Burnley Achiever Award pelo trabalho de voluntariado que realizava (nota do esqueciaana:  quem sofre de anorexia não são jovens fúteis egoistas e egocêntricas, são muitas vezes jovens excepcionalmente generosas, voluntariosas, genuinamente empenhadas em praticar o bem)

Jun 3, 2011

...Vogue Italia capa junho 2011 e petição (campanha real ou marketing?)


A revista Vogue em Itália publica este mês uma capa especial. Dizem que não acontecia na capa há cerca de 10 anos, incluir modelos que vestem tamanhos grandes. A revista tem também on line uma petição anti sites pro anorexia (aqui). As modelos são Tara Lynn, Candice Huffine e Robyn Lawley. O título original italiano Belle Vere (ou Belas de Verdade ou Beleza Verdadeira) pretende chamara a atenção para a existência de beleza em todas as formas e feitios. A directora da Vogue italiana Franca Sozzani  declarou "Por é que estas mulheres mulheres deveriam emagrecer? Muitas que têm quilos a mais são especialmente bonitas e também mais femininas". Já há anos a editora da Vogue Britânica se tinha declarado contra o tamanho zero (aqui). Mesmo que seja mero marketing (e em minha opinião é mesmo)  é interessante acompanhar esta tendência e a importância nos padrões de beleza que se vão formando.
Imagens: Capa da Vogue Italiana de Junho 2011 (Belle Vere) e capa de uma vogue do Brazil onde o photoshop é mais que evidente e os ossos não são limite para o photoshop e outros programas de tratamento de imagem.

May 5, 2011

... Anorexia mata

Segundo entrevista de Jennifer Santos (psiquiatra HSM) mata 10% dos doentes

Dec 30, 2010

Isabelle Caro (28 anos) faleceu [actualizada em 9.01.2011 com um novo texto e link; actualizada em 22.01.2011 ]

Talvez seja a imagem do corpo de Isabelle Caro que mais seja divulgada. Mas aquele corpo era apenas a consequência...Se fosse possível fotografar os pensamentos...A campanha (publicitária recorde-se, a uma marca de roupa, Nolita) tem estado a ser noticiada erradamente como uma campanha anti anorexia. As imagens chocantes contribuiram certamente para a discussão geral dos tamanhos zero na moda.

A anorexia é uma doença mental não uma opção ou estilo de vida em relação à qual existem muitos preconceitos, mitos e ideias erradas. Ser anoréctico não é 'ter a mania das dietas' é algo muito mais complexo. 'Coitada, tão magrinha' ou 'Que horror, tão magra' ou 'Por esse andar acontece-te o mesmo que áquela que morreu' são palavras que não ajudam a quem sofre da doença.

Como ex-anoréctica faço um pedido aos familiares, amigos, colegas, professores, treinadores que convivem com alguém com doenças do comportamento alimentar (anorexia ou bulimia): procurem informar-se sobre a doença e como ajudar. Não se preocupem tanto em 'entender a doença', não se preocupem tanto com o corpo esquelético, os cabelos a cair, a perda de forças...ANTES DO CORPO MAGRO VEJAM O SER HUMANO EM SOFRIMENTO QUE O HABITA.

A anorexia mata também em Portugal.

[acrescentado em 9 de Janeiro 2011]Uma médica portuguesa, Ana Matos Pires,  comentou assim (aqui) a campanha em 2007 quando foi lançada.
citando parcialmente o post cuja leitura integral recomendo:
"O lado positivo desta campanha, para mim e enquanto médica, é chamar a atenção para a necessidade de tratar precoce e eficazmente esta doença de modo a evitar situações como a apresentada nos cartazes, isto é, estados limite de caquexia que podem levar à a morte. Não me parece, contudo, que vá atingir outros objectivos medicamente significativos e, neste sentido, assino de cruz as declarações da psiquiatra Dulce Bouça, Presidente do Núcleo das Doenças do Comportamento Alimentar, presentes no Público de domingo passado: "Esta imagem tem um impacto mediático muito forte e uma mensagem muito intensa, que estabelece uma relação muito próxima entre o que é a vida e o que é a morte" e mais à frente "Quando um doente tem já uma anorexia, está de tal maneira em sofrimento que fica pouco sensível a estas imagens. Uma pessoa que esteja a iniciar a doença ou uma pessoa saudável que queira perder algum peso pensa sempre que nunca vai chegar àquele ponto". Na mesma peça jornalística podiam ler-se as opiniões de dois clínicos italianos que, tal como a Dulce Bouça, são autoridades na matéria, com provas científicas dadas. Fabiola de Clercq, presidente da Associação Italiana para o Estudo da Anorexia, comentou que a imagem é "demasiado crua" e que pode até fazer com que algumas pessoas sintam inveja do corpo de Isabelle e tentem ficar mais magras do que ela.  Riccardo dalle Grave, presidente da Associação Italiana de Problemas da Alimentação e do Peso, afirmou que "As imagens tornam banal um problema sério".
Também um texto e discussão sobre a história de Isabelle Caro pode ser encontrado em EDbites (aqui em inglês)
O blogue de Isabelle: http://neigeisabelle.blog.mongenie.com/
Actualização em 22.01.2011: Em Janeiro de 2011 a mãe de Isabelle suicidou-se. O post publicado em EdBites (em inglês) discute as falsas ideias sobre a 'reponsabilidade' na doença dos que envolvem o doente. Como habitualmente a recentrar a questão fugindo aos sensasionalismo, que foi infelizmente e mais uma vez o modo como o assunto voltou a ser tratado na imprensa.Ler aqui em EDBites.

Sep 20, 2010

...Análise do conteúdo de 180 sites pro-ana e pro-mia (artigo científico)

Na Internet abundam páginas que fomentam a anorexia e a bulimia. São abreviadamente designados de sites pro-Ana e pro-Mia. Um grupo de investigadores da universidade norte americana Johns Hopkins publicou recentemente um estudo baseado na análise do conteúdo de 180 desses sites (todos em língua inglesa). Apresentamos o resumo e sugerimos a leitura nomeadamente aos especialistas. Conhecer melhor esses sites e o papel que desempenham ajuda certamente a conhecer melhor a doença.
Mais posts no esqueciaana sobre a internet e as DCA (TA no Brasil) (aqui)

O artigo original foi publicado em Agosto de 2010 na revista American Journal of Public Health da  American Public Health Association. Título: e-Ana e e-Mia: Uma análise de Conteúdo dos Sites Pró-Doenças do Comportamento Alimentar  [ no original: e-Ana and e-Mia: A Content Analysis of Pro–Eating Disorder Web Sites]

Objectivos. A Internet tem sites que descrevem, estimulam e apoiam as Doenças do Comportamento Alimentar (DCA:; TA Transtornos Alimentares no Brasil). A insvestigação analisa as características dos sites pro anorexia e pro bulimia e as mensagens a que os visitantes desses sites estão expostos.
Métodos. Foram analisados em relação ao conteúdo e de forma sistemática 180 sites todos eles em actividade, observando os aspectos logísticos/funcionalidades, as ferramentas o material "thinspiration"  (imagens e textos destinados a inspirar a perda de peso), dicas e truques, recuperação, assuntos e efeitos negativos apercebidos.
Resultados. Praticamente todos (91%) os sites estão abertos ao público em geral, e a maioria (79%) possui recursos interativos [possibilidade de comentar por exemplo]. A grande maioria (84%) disponibiliza conteúdos pró-anorexia e 64% conteúdos pró-bulimia. Poucos sites apresentam as docenças do comportamento alimentar como um estilo de vida. Material do tipo 'Thinspiration' existe em 85% dos sites. Em 83% dos sites, sugestões evidentes de sobre como se envolver  em comportamentos dca (TA no Brasil). 38% dos sites incluiam sites informação ou links orientados para a recuperação. Os assuntos comuns são: sucesso, controlo, perfeição e solidariedade.
Conclusões. Os sites pro-dca (pro-TA) apresentam material que encoraja, apoia e motiva os visitantes e utilizadores a prosseguirem os seus esforços em continuarem doentes. A observação regular desses sites numa perspectiva de investigação, pode fornecer uma informação preciosa para a melhor compreensão do efeito desses sites sobre os seus utilizadores.
Referência:
Borzekowski, D.L.G., S. Schenk, J.L. Wilson, R. Peebles. 2010. e-Ana and e-Mia: A content analysis of pro-eating disorder web sites. American Journal of Public Health. 100: 1526-1534.
DOI: 10.2105/AJPH.2009.172700
Correspondência:
Dina L. G. Borzekowski, EdD, Department of Health, Behavior and Society, Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, 624 N Broadway, Baltimore, MD 21205 (e-mail: dborzeko@jhsph.edu). Reprints can be ordered at http://www.ajph.org
At the time this research was completed, Dina L. G. Borzekowski and Summer Schenk were with the Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, Baltimore, MD. Jenny L. Wilson and Rebecka Peebles were with the Stanford University School of Medicine, Mountain View, CA.
imagem em flickr cc (aqui) : " O verdadeiro valor de uma rede tem menos a ver com a informação emais a ver com a comunidade. A autoestrada da informação é mais que um atalho para a Biblioteca do Congresso [uma das maiores bibliotecas mundiais]. A Internet está a criar um tecido social global nove" Being Digital , 1995, Nicholas Negroponte p.183.

Jun 19, 2010

...sites pró-anorexia e pró-bulimia (investigação de 180 sites pela Universidade de Stanford / Hopkins)

Foram ontem divulgados os primeiros resultados de um estudo cujas linhas gerais se encontram na notícia de Erin Digitale, publicada no site da Universidade de Stanford (aqui), Pela primeira vez se realizou um estudo envolvendo um número considerável de sites pró-anorexia e pró-bulimia (180 no total) todos em língua inglesa. Segue-se a tradução da notícia (o original pode ser lido aqui). Neste blogue, por várias vezes referimos esta questão (vários aqui) . A chamada de atenção para os especilistas feita por uma das investigadoras é muito importante.

"Primeira investigação em larga escala dos sites pró-anorexia e pró-bulimia conduzido por investigadores da Universidade de Stanford / Hopkins

Sites que promovem a anorexia e a bulimia constituem comunidades interactivas onde os utilizadores/visitantes podem incentivar-se mutuamente a desenvolver comportamentos alimentares pouco saudáveis, apesar de a maioria desses sites também reconhecer os distúrbios do comportamento alimentar como uma doença. Este é um dos resultados de uma nova pesquisa da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health e da Stanford University School of Medicine.



O estudo, a primeira análise em grande escala de sites pró - distúrbios alimentares, salienta as emoções complexas com que os doentes com transtornos alimentares enfrentam, e oferece informações importantes sobre a variedade de material que os doentes podem encontrar on-line quando procuram o apoio de seus pares.

"Esses sites são bastante diversificados", disse Rebecka Peebles, médica  responsável pelo estudo, que foi publicado em 17 Junho de 2010 [ontem] na American Journal of Public Health [referência e resumo do artigo no fim deste post (*)] "Alguns sites têm informações muito violenta [ no original hard-core] sobre como intensificar o transtorno alimentar, alguns têm conteúdo pro-recuperação e muitos têm uma combinação de ambos." Rebecka Peebles é professora de Pediatria na Universidade de Stanford e especialista em Medicina Adolescente no Eating Disorders Program do Hospital Infantil Lucile Packard.

A Anorexia e a Bulimia afectam cerca de 1 e 2 por cento das mulheres jovens, respectivamente, bem como um número menor de homens. Os doentes com Anorexia mantêm um peso muito baixo temem ganhar peso apesar de serem perigosamente magros. Os doentes com Bulimia repetidamente ingerem grandes quantidades de alimentos, e em seguida, "purgam" as calorias por vómitos, uso abusivo de laxantes ou diuréticos ou excesso de exercício. Ambas as doenças podem causar graves problemas de saúde a longo prazo, e casos graves pode levar à morte.

A investigação analisa 180 sites que foram encontrados utilizando termos de busca como o “Pro-Ana,” “Pro-Anorexia,” “Pro-Bulimia” e “Thin and Support.” Os pesquisadores avaliaram a logística básica de cada site; ferramentas como fóruns interactivos ou contadores de calorias; temas (incluindo o controle, o sucesso e a perfeição); imagens “thinspiration” [inspiradoras da magreza] "imagens, truques e técnicas para perda de peso e informação sobre recuperação. Os investigadores atribuíram a cada site uma pontuação em relação a “danos apercebidos” com base na sua avaliação de quão prejudicial o site seria para os utilizadores.

Quase 80 % dos sites tinha características interactivas, 85 % exibia materiais "thinspiration" (tais como fotos de modelos muito magras ou ‘celebridades´) e 83 % oferecia sugestões sobre como se envolver em comportamentos de transtorno alimentar. No entanto, a maioria dos sites reconhece que os transtornos alimentares são uma doença e menos de 20 por cento retrata os transtornos alimentares como um estilo de vida. E mais de um terço incluía informação sobre recuperação. 24% dos sites tiveram pontuações altas de percepção de danos (4 ou 5 numa escala de 1 a 5), o resto dos sites receberam pontuações médias ou danos baixos.

"Apesar de sites pró-anorexia e pró-bulimia [também conhecidos como pró-ana e pró-mia] serem frequentemente retratados de forma simplista, a preto e branco, na maioria deles existe uma mistura, um continum e cinzento", disse Peebles. É provável que isso seja o resultado da mistura de sentimentos dos doentes têm sobre sua doença. Acrescentou: "Muitas pessoas com comportamentos de transtorno alimentar têm dias em que querem melhorar, e outros dias em que não têm nenhum interesse em ficar melhor. Os sites reflectem as características individuais das pessoas que os visitam [e obviamente dos autores, acrescentamos] "

Os médicos que tratam de distúrbios alimentares e os familiares dos doentes com transtornos alimentares, devem estar conscientes de que esses sites existem, que são de fácil acesso e podem ajudar a reforçar os padrões de distúrbios alimentares, concluiu Peebles.

"Se esses sites nos afectam, o foco no nível de saúde pública deve ser  perguntarmo-nos  como é que podemos chegar perto de e tratar mais doentes, e como nós, como fornecedores [de cuidados de saúde] podemos reagir melhor aos sentimentos difíceis que as pessoas com transtornos alimentares sentem, disse a investigadora. "Actualmente, muitos pacientes visitam a Internet para expressar esses sentimentos, ao invés de tratá-los através de modelos tradicionais de cuidados, como a psicoterapia."

Outros autores do estudo incluem, Dina Borzekowski, de John Hopkins School of Public Health, e Jenny Wilson, MD, pediatra residente no hospital infantil Lucile Packard."

(*)Referência e Rseumo do artigo que inclui os principais resultados desta ivestigação:

Dina L.G. Borzekowski, Summer Schenk, Jenny L. Wilson, and Rebecka Peebles
e-Ana and e-Mia: A Content Analysis of Pro–Eating Disorder Web Sites
Am J Public Health, Jun 2010; doi:10.2105/AJPH.2009.172700
OBJECTIVO: a Internet disponibiliza sites que descrevem, apoiam e incentivam os distúrbios alimentares. Examinamos os aspectos desses sites e as mensagem a que os utilizadores são expostos.  
MÉTODOS: Conduzimos um estudo sistemático de análise de conteúdo a 180 sites activos, registando a logística, as ferramentase funcionalidades, a thinspiration, os truques e dicas, recuperação, temas e danos apercebidos (pelos investigadores). 
RESULTADOS: Praticamente todos os sites (91%) estão abertos ao público, e a maioria (79%) possui funcionalidades interactivas. Uma larga maioria (84%) tinham um conteúdo pró-anorexia, e 64% um conteúdo pró bulimia. Poucos sites se referiam aos distúrbios alimentares como um estilo de vida Thinspiration surgia em  85%dos sites, e 83% forneciam sugestões claras sobre como se envolver em comportamentos de transtorno alimentar. Trinta e oito por cento dos sites incluia informação ou links relativos a recuperação.Temas comuns são sucesso, controlo, perfeição e solidariedade.
CONCLUSÃO - Os sites pró-anorexia e pró-bulimia apresentam material que encoraja, apoia e motiva os utilizadores do site a continuar os seus esforços pela anorexia e bulimia. Um acompanhamento desses sites podeerá fornecer informação valiosa para conseguir um melhor conhecimento dos efeitos desses sites sobre os utilizadores.

Feb 17, 2010

>> esqueciaana em análise? (Investigação sobre mensagens corporais)

Encontrámos um artigo (ver abaixo resumo e artigo completo (aqui) ou no arquivo digital do esqueciaana) sobre as mensagens corporais veiculadas pelos blogues femininos. O tema é muito interessante. Foram visitados 153 blogues e escolhidos 12. Nesses 12 está incluido o esqueciaana! Fiquei satisfeita quando li. Como é uma análise deste blogue vista de fora e em termos comparativos? No entanto, depois de ler todo o artigo e …embora sabendo que ninguém é bom juiz em causa própria discordamos de algumas análises nele efectuadas. A investigadora propõe-se continuar o estudo por isso para além da pública discordância a seguir manifestada iremos também contactá-la agradecendo a inclusão no grupo em análise mas também salientando algumas críticas em relação à respectiva caracterização do esqueciaana.

Escreve-se no artigo o seguinte sobre os 12 analisados (onde se inclui o esqueciaana):

“Os títulos dos blogs merecem ser destacados, nota-se claramente a intenção de doutrinar as mulheres quanto a ditadura da magreza, onde atingir para perfeição é necessário sofrer. Um doutrinamento bem aproximado aos dogmas religiosos, onde só merece alcançar o céu, a salvação divina, quem sofre, “pagando os pecados na terra” “ (...)
Lemos, relemos e discordamos em relação ao esqueciaana essa clara (ou obscura?) intenção não existe!…os outros 11 desconhecemos.

"Uma linguagem simples direta e persuasiva traz a solução como um milagre na busca por um corpo perfeito, quer seja com regimes alimentares, programas de atividades físicas e até mesmo dietas bem sugestivas" (…)
Lemos, relemos e discordamos em relação ao esqueciaana. Regimes alimentares? Programa de actividades físicas? Dietas? Onde? Em que post aqui?

Os blogs analisados (total 12) foram classificados em 3 categorias:
(1) diálogos compensatórios;
(2) proféticos corporais e
(3) questionadores e reflexivos.
Infelizmente, apesar de reconhecermos que essas categorias existem, não sabemos em que categoria teria sido integrado o esqueciaana. Vejamos as características apontadas para cada um deles:


(1’) "Os diálogos compensatórios são compostos por mensagens simples e coloquiais, fotos decorpos magros, ilustrações com motivos infantis – corações, flores, boquinhas sorridentes, cosméticos, bonequinhas alegres, entre outras e fundos com cores claras."

(2’) "Já o profético corporal tem uma linguagem imperativa e utilizada a conhecida formula publicitária: como problema e solução. Muitos são elaborados e alimentados por profissionais e técnicos da área de saúde, beleza e fins estéticos, com fins claramente mercadológicos."

(3’) "E o terceiro exemplo é blog questionador e reflexivo que com uma linguagem mais incisive procura dialogar como a (o) internauta , sobre os males corporais da sociedade moderna. Por se tratar de um conteúdo mais reflexivo suas imagens são mais simples, claras e calmas, com fotos de pessoas relaxadas, meditação e natureza, o fundo branco impera nas postagens visitadas."

Ah! Como eu gostava que o esqueciaana fosse um blogue atípico!
Pergunto aos LEITORES do esqueciaana: Acham que ele se enquadra em alguma das categorias acima?


O artigo:
O corpo construído na WEB 2.0: uma análise das mensagens corporais
veiculadas blog femininos no período de 2008 e 2009 (1)
Selma Peleias Felerico Garrini (2), PUC/ SP e ESPM/SP
Resumo
Este artigo é parte de um estudo sobre os textos e as representações do corpo veiculado em blogs femininos, no período de março 2008 a outubro de 2009 e que tem por objetivo descrever o conteúdo estrutural desses blogs e desvendar questões como: Que corpos são representados na WEB 2.0? Qual a linguagem utilizada nas redes sociais? Qual a imagem de corpo perfeito que as mulheres tem na sociedade atual? Nota-se que é utilizada uma linguagem coloquial e que aspectos psicológicos motivacionais são essenciais para gerar visitação e insentificar relacionamento na internet. Além disso há uma intenção clara em atender fins mercadológicos para o consumo de produtos e serviços que contribuam para a construção corporal do imaginário feminino.

Palavras-chave: corpo feminino; ditadura da magreza; beleza; blogs
1 Artigo científico apresentado ao eixo temático “Entretenimento, práticas socioculturais e subjetividade”, do III Simpósio Nacional da ABCiber.
2 Doutoranda e Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.Coordenadora e Professora de Pós Graduação Latu Sensu da Área de Comunicação da ESPM/SP e Professora de Comunicação da FAAP/ FACOM/ SP

Feb 7, 2010

>> "Anorexia - para pensar" ( Armanda Barbosa )

Reproduzo abaixo integralmente um texto/carta sobre a Anorexia, com conhecimento e consentimento da autora, Armanda Barbosa, ("Verdinha" na blogosfera) originalmente publicada neste blogue pensando e falando (aqui) . Apreciei em particular a secção desse blogue Para Pensar (aqui). Comentem de preferência onde foi originalmente publicado (aqui)
"Então pense:
Até quando vamos achar que o certo e bonito são modelos esqueléticas que mal se alimentam?
Até quando vamos pressionar os nossos filhos a fazerem dietas apenas porque eles não são o que sempre sonhamos?
Até quando vamos gozar um colega de escola porque ele tem uns quilos a mais?
Até quando vamos rir por ver alguém mais gordo na rua?
Quando vamos perceber que dietas malucas podem tornar-se num problema realmente sério e levar à morte?
Quando vamos ajudar sem criticar, ouvir sem reclamar, apoiar mesmo sem perceber?
Quando vamos começar a fazer uma prevenção realmente eficaz contra esta doença?
Quando se vai perceber que ser esquelético é feio e acima de tudo é pouco saudável?

Toda a gente tem o direito a querer ser "perfeito" mas os nutricionistas existem para isso mesmo, para ajudar nas dietas e fazer com que se perca peso de forma correcta e sem prejudicar a saúde, dietas extremas não são e nunca serão a solução.Como eu já disse aqui no blog, quando se pesquisa no google sobre anorexia aparecem centenas de blogs a favor desta doença, em muitos é reproduzida uma carta como se a anorexia e a bulimia fossem as nossas melhores amigas, eu resolvi fazer o contrário, escrever uma carta sobre a verdade.



A carta abaixo é da minha autoria e atenção que em momento algum pretendo incentivar a anorexia, muito pelo contrário:



Queridas amigas, esta carta é escrita a 4 mãos, permitam que nos apresente, nós somos a anorexia e a bulimia, muitas das nossas amigas chamam-nos simplesmente de ana e mia, se estás a ler isto talvez seja porque queres ser mais uma das nossas fieis e inseparáveis companheiras, quero avisar-te antes de tudo que depois de entrares para o nosso circulo dificilmente sairás e provavelmente pensarás em nós pelo resto da tua vida, nós somos simplesmente inesquecíveis.


Agora que fizemos a primeira apresentação deixa-me que te explique porque estás aqui, provavelmente sentes-te mal contigo mesma, achaste gorda e estás farta de achar que todos os teus problemas são devido ao teu aspecto físico, desejas ser como as modelos que vês nas revistas e na televisão, deixa-nos avisar-te (porque somos boas amigas e as boas amigas devem avisar) que a imagem que vês agora ao espelho é a imagem que continuarás a ver sempre, não porque não emagreças, podemos jurar que vais emagrecer, mas apenas porque a nossa relação de amizade vai causar em ti um transtorno psicologico que vai fazer com que tu não vejas aquilo que realmente és, tu vais perder peso mas acharás que nunca é o suficiente e que precisas sempre de mais, mesmo que estejas demasiado magra tu vais continuar a achar que estás gorda, isto é um dos efeitos secundários da nossa amizade. Não te queremos assustar, só queremos ser verdadeiras e sinceras.


Mas vamos continuar, a nossa dieta obriga-te a passar dias sem comer, ou a comer quantidades que de tão pequenas fazem com que o teu corpo comece a sentir falta de alguns nutrientes essenciais para o seu bom desempenho, não comer é o meio mais rápido de perder peso, mas é também o mais agressivo e fatal. Aos poucos e com a nossa dieta vais começar a emagrecer drasticamente, a tua menstruação vai desaparecer, o teu cabelo pode cair e tu vais começar a perder a força para fazer coisas tão simples como subir umas escadas, tu vais saber que algo está errado e muitas vezes vais querer desistir, mas quando tentares comer o teu estomago vai recusar a comida por já não estar habituado a ela, quando te olhares ao espelho verás uma imagem que não existe e mesmo que a balança marque apenas 35kg tu verás pelo menos uns 60 no espelho, os teus olhos deixaram de ser capazes de ver a realidade.


Os teus pais estarão preocupados mas tudo o que tu queres é que te deixem em paz, perdeste a paciência, o bom humor, deixaste de ser capaz de rir e sair, tudo te cansa demasiado, no entanto apesar disso continuarás a querer fazer exercicio fisico mesmo que isso te canse tanto que te faça desmaiar e quando finalmente perceberes que esta dieta te está a matar e procurares ajuda verás que te deixamos sequelas psicologicas para toda a vida e que nunca mais serás verdadeiramente feliz e tudo porque viverás numa luta constante entre o que é melhor para ti e o que as "vozes" que colocamos na tua cabeça te dizem.Ainda achas que anorexia e bulimia são melhores do que um nutricionista? Ok, a escolha é tua, prometo que te acompanharemos até ao teu funeral." (Armanda Barbosa, "Verdinha" na blogosfera) Imagem: Verdinha no post original.

Jan 21, 2010

>> Carta Aberta ( testemunho de uma jovem)

Transcrevo em seguida um texto escrito pela autora do site Let us ... (aqui) . São palavras pensadas, sentidas e certeiras! Leiam e comentem (de preferência no blogue onde foram originalmente publicadas, aqui).


quarta-feira, 20 de Janeiro de 2010
CARTA ABERTA
"Já tentei começar a escrever este comentário várias vezes, no entanto, nunca o consigo terminar porque isto não é feito de ânimo leve de maneira nenhuma, exige cuidado com as palavras porque não pretendo ferir ninguém mas senti que agora, mais qe nunca, o meu parecer e a minha opinião tinha de vir ao de cima e então nada melhor que esta "carta aberta" para todas as quantas mais eu conseguir comentar.
Para quem não sabe a minha história eu estou anorética há dois anos e meio. Tudo começou com uma pequena dieta em que se excluiam os doces e tudo terminou numa outra dieta qe excluía tudo. Tive dois anos mais ou menos controlada em termos de peso..apesar de ter sido sempre considerado baixo tendo em conta o índice de massa corporal mas a verdade é que apesar de todas as dietas descabidas, depressões aliadas à falta de nutrientes, etc...as coisas foram-se aguentando!
Há seis meses atrás decidi começar a falar abertamente sobre a anorexia no meu blog (entretanto, para quem não teve a oportunidade de ler eu apaguei tudo o qe ele continha sobre a doença). Conheci várias pessoas com o mesmo problema qe eu tendo inclusive travado uma verdadeira amizade com três delas! Comecei o blog há seis meses com um IMC de 18, 1.80m e 61kg. Terminei-o ontem com 52kg, e um IMC de 16.
Perdi a conta à quantidade de vezes em que numa das minhas interminaveis insónias me levantava da cama e ia directa ao computador ler as novidades alheias. Os outros blogs davam- me força para continuar a emagrecer! As outras meninas ajudaram-me a acreditar que eu era capaz de me controlar ainda mais. Frases como "Força meninas nós conseguimos ser magras", ou "Controle acima de tudo" perpetuaram-se na minha cabeça desde os dias em que eu decidi fazer parte "desse grupo". Esse grupo é constituido por raparigas incriveis, extremamente inteligentes e muito talentosas. Pessoas qe se dão muito facilmente não sei se por uma certa carência se em busca de mais um pouco de esperança!

Cabe-nos a nós, a cada uma, utilizar o blog para incentivar uma cura, um pequeno passo em frente e nunca, repito, nunca, o oposto. Eu mesma errei tantas vezes quando fiz deste espaço um mero diário dos meus cardápios alimentares..um sítio onde me limitava a auto-glorificar por ter conseguido só comer x ou y. Não faço a mais pequena ideia de quantas raparigas poderei ter prejudicado..porque eu mesma quando aqui cheguei começei por ler um blog de uma rapariga qe há seis meses estava com 60kg e neste momento está com 50kg. Como sabia bem ler os comentários dos outros a encherem-nos de coragem, de força, de vontade..vontade de nos auto-destruirmos.
Mesmo que inconscientemente sei qe fui incorrecta e irresponsável ao expor-me, a mim, à minha vida, à vida da minha família. Há pessoas aqui que estão neste mundo há muito tempo e apesar de eu saber que a anorexia não se escolhe e que não é por lermos um blog que nos tornamos doentes, TODAS NÓS SABEMOS QUE TUDO COMEÇA COM UMA DIETA. Uma pequena dieta. Uma ideia. Todas nós sabemos que, como qualquer doença, quando apanhada no início é muito mais provável ser curada do que como tantas de nós que sustentamos esta prisão há anos a fio..entristece-me ver cada vez mais raparigas a "entrar aqui". Estristece-me porque algumas delas não sabem mesmo onde se estão a meter..e revejo-me delas, há dois anos e meio atrás, a pensar qe quando estivesse magra ia ser mais feliz..não é a magreza que nos traz algo tão bonito como a felicidade.

Cabe-nos a nós, conscientes do problema que temos, alertar estas raparigas para o perigo que estão a correr. A Anorexia mata! Já nem falo em fazer incentivos à procura de ajuda psicológica, apesar de considerar a mesma uma peça fulcral para a cura, mas sim para terem todas cuidado com o que escrevem..porque podemos estar, mesmo que sem querer, a ajudar alguém a matar-se.

A beleza está nos olhos de quem a vê...se não gostarmos de nós, quem gostará? "

Dec 23, 2009

>> Internet, Anorexia e Bulimia (II)

Navegar na Net para adoecer? Como referimos no post anterior, foi realizado há cerca de 3 anos um estudo por investigadores da universidade norte americana Stanford University School of Medicine em colaboração com o Lucile Packard Children's Hospital sobre a influência da Internet sobre a anorexia e a bulimia nos jovens. Um artigo sobre esse estudo pode ser encontrado (aqui nos documentos deste blogue) e também na revista Pediatrics da American Academy of Pediatrics' e dele daremos conta mais detalhada em próximo post.
Resumo desse artigo baseado em inquérito aos doentes e aos pais :
"OBJETIVO. O investigação tem por objective estudar os as páginas da internet pró doenças do comportamento alimentar ( Pro-eating disorder sites) que são geralmente comunidades virtuais de indivíduos que sofrem de transtornos alimentares, descrevem os seus comportamentos e incentivam-se mutuamente a prossegui-los e as páginas pró recuperação (Pro-recovery sites) que são em menor número que as primeiras [nota : verdade no caso dos sites em língua inglesa mas também verdade em Portugal, Brasil e Espanha ] que possuem uma perspectiva orientada para a recuperação. Este estudo piloto investigou o conhecimento e a utilização das páginas da Internet entre os adolescentes com doenças de comportamento alimentar DCA (anorexia nervosa e bulimia) e também os respectivos pais, explorando as associações com o estado de saúde e a qualidade de vida.
AMOSTRA E MÉTODOS. Estudo realizado a 698 famílias de doentes (com idades entre os 10-22 anos) com diagnóstico de um transtorno alimentar, em Stanford (Estados Unidos) entre 1997 e 2004. Foram enviados pelo correio e anonimamente inquéritos e também foram distribuídos no hospital. As perguntas do questionário eram sobre: a gravidade da doença, o estado de saúde, o uso dos sites e o conhecimento pelos pais da utilização desses sites.
RESULTADOS. O questionário doentes e pais: Inquéritos foram devolvidos por 182 indivíduos: 76 pacientes e 106 pais.
Os pais: Cerca de metade dos pais (52,8%) tinham conhecimento dos sites pró-doenças do comportamento alimentar (pró-DCA), os restantes não sabiam se os seus filhos visitaram estes sites, e apenas 27,6% os tinham discutido com os filhos. A maioria dos pais (62,5%), porém, não tinha conhecimento de sites pró-recuperação.
Os jovens doentes: 41% dos doentes tinham visitado sites pró-recuperação, 35,5% tinham visitado sites pró-DCA, 25,0% visitaram ambos os tipos de site. Cerca de 48,7% declararam não ter visitado nenhum. Quase todos (96%) declararam ter aprendido técnicas de perder peso[doentiamente acrescentamos] ou vómito (purgação) ao visitar os sites pró-DCA. No entanto, quase metade (46,4%) dos visitantes do site pró-recuperação também declararam ter aprendido novas técnicas [nota de ex-ana: este é um resultado não completamente surpreendente, uma vez que os sites pro recuperação também descrevem os comportamentos dos doentes nomeadamente na informação aos pais e educadores]. Comparando os utilizadores e os não utilizadores dos sites pró-DCA verificou-se que não eram substancialmente muito diferentes quanto ao estado de saúde. Contudo, o grupo dos visitantes dos sites pró-DCA relatou gastar menos tempo na escola ou no trabalho escolar e a duração da doença ser mais longa. Os utilizadores dos sites pró-DCA e dos sites pró-recuperação tiveram mais internamento do que os que declararam não visitar nenhum site. [nota de ex-ana: deduzir destes resultados uma situação de cause efeito não é feito, nem poderia sê-lo pelos investigadores]
CONCLUSÕES. A visita às páginas pró-DCA foi prevalente nos adolescentes com doenças do comportamento alimentar, mas os pais tinham pouco conhecimento desse facto. Apesar do uso desses sites não poder ser associado ao estado de saúde, esse uso pode ter um impacto negativo na qualidade de vida e resulta em aprendizagens de comportamentos alimentares doentios negativos por parte dos adolescentes.
Fonte do texto que pode ser lido na integra (em inglês) (aqui no mini arquivo deste blogue) título original do artigo: Surfing for Thinness: A Pilot Study of Pro–Eating Disorder Web Site Usage in Adolescents With Eating Disorders [Navegando na Net para emagrecer : um estudo Piloto da utilização pelos doentes de comportamento alimentar (DCA) de sites pro-DCA] Autores: Jenny L. Wilson, BAa, Rebecka Peebles, MDa, Kristina K. Hardy, PhDb, Iris F. Litt, MDa,c aDivision of Adolescent Medicine, Department of Pediatrics, Stanford University School of Medicine, Mountain View, California; bDepartment of Psychiatry, Duke University Medical Center, Durham, North Carolina; cRobert Wood Johnson Clinical Scholars Program, Stanford, California Revista: PEDIATRICS Volume 118, Number 6, December 2006
Imagem:romeu e julieta cibernautas?

Dec 21, 2009

>> Internet, Anorexia e Bulimia (I)

Existem na Internet diversos sites que abordam a anorexia e a bulimia. Sites informativos específicos (por exemplo em Portugal o site da AFAAB) ou outros gerais sobre nutrição ou psiquiatria que também referem o assunto. Existem também inúmeras páginas ou blogues de pessoas que possuem experiências (passadas, presentes; na primeira pessoa, de amigos ou familiares, etc) em relação á anorexia e/ou bulimia. É o caso deste que está a ler, que é de uma ex anoréctica. São sites que muitas vezes relatam vivências negativas, mas que não incitam a ficar doente, pelo contrário ao relatarem a luta contra a doença podem ajudar quem procura recuperar-se. Mas há também casos em que os próprios doentes, depois de recuperados preferem afastar-se da Internet e dos sites que criaram enquanto doentes pois a anorexia passou a fazer parte do passado (essa situção é indicada por um colectivo que escrevia aqui no Disordered Times).
Existem ainda sites que criminosamente fazem a apologia das doenças associadas ao comportamento alimentar. Incluem 'dicas' para emagrecer (=adoecer) mais rápido, enganar os outros em relação à alimentação (=atrasar a detecção do problema), ou aos sinais da doença. Por razões óbvias não os reproduzimos, são conselhos de morte sob a capa de que por exemplo a anorexia é um “estilo de vida”. Quem conhece a doença sabe que é um “estilo de morte lenta”. São os designados sites pro-ana ou pro-mia e em vários países, nomeadamente em Portugal, são desenvolvidas algumas medidas e programas com vista à sua desactivação e divulgação dos perigos junto de pais e educadores. Os sites pro-ana e pró-mia (=pró morte) ( um estudo académico em português pode ser encontrado aqui) surgiram nos Estados Unidos por volta de 2001 e existem em diversas línguas e formatos embora muitas vezes sejam cópias uns dos outros. Nesses sites exite geralmente uma
espécie de ‘lista de deveres’ das anorécticas onde se inclui uma ‘obrigação’ directamente relacionada com a Internet: criar um blogue ou página em que o doente (geralmente a doente, uma adolescente ou pré adolescente) vai dando conta do emagrecimento e registando os “progressos” em relação à doença, ou seja o seu agravamento. Uma espécie ou mesmo um diário. Os comentários são em geral no sentido de a doente manter e agravar o comportamento de progressiva redução de ingestão de alimentos, podendo chegar à recusa absoluta NF (=No Food/ Nenhuma Comida).(alguns comentários: “vais conseguir a tua meta dos 35 kilos!” “A gordura é um nojo, só os ossos são bonitos princesa!” ).
Não consigo perceber ainda todas as razões que se ocultam por detrás da criação desses blogues pro-ana. Estando os doentes fragilizados mentalmente não estranho que por trás de alguns desses blogues estejam comportamentos predatórios. No entanto, não tenho dificuldade em perceber que alguém que sofra de anorexia nervosa tenha gosto em criar um blogue ou página. Durante os anos que estive doente, se tivesse tido essa possibilidade, julgo que também o teria feito. A solidão, ou pior ainda a ‘companhia’ da doença empurram para encontrar ‘outros’ com o mesmo sofrimento onde a partilha do sofrimento pode ser feita de modo mais ou menos anónimo. ‘Outros’ virtuais que ao contrário dos amigos reais podem com um simples digitar do botão desligar das lágrimas, dos gritos, das angústias.
A investigação realizada até agora sobre a relação com as doenças de comportamento alimentar tem demonstrado que as páginas e blogues pró-anorexia e pró-bulimia possuem um efeito de incentivo ao aparecimento e desenvolvimento da doença (que obviamente depende da conjugação de uma complexidade de factores, não é apenas visitando essas páginas que se fica doente, mas o que lá está escrito pode contribuir para o início da doença ou para o seu agravamento) . As idades de quem chega a essa informação são também muito importantes, há por exemplo crianças com 12 a segui-las. Os efeitos de outras páginas informativas ( sites pro-recuperação ) sobre as doenças do comportamento alimentar (DCA) não está ainda completamente esclarecido. Uma coisa é certa: o diagnóstico e tratamento apenas pode ser feito pelos competentes especialistas ou idealmente por uma equipa em conjunto.
Foi realizado há cerca de 3 anos um estudo por investigadores da universidade norte americana
Stanford University School of Medicine em colaboração com o Lucile Packard Children's Hospital sobre a influência da Internet sobre a anorexia e a bulimia nos jovens. Um artigo sobre esse estudo pode ser encontrado (aqui nos documentos deste blogue) e também na revista Pediatrics da American Academy of Pediatrics' e dele daremos conta mais detalhada em próximo post.

Nov 26, 2009

>> Site Informativo (Para Além da Imagem)

Este é um site desenvolvido no Brasil com muita informação para diferentes públicos. Cliquem na imagem acima e visitem!
(existe também uma versão espanhola igual gráficamente mas com conteúdos ligeiramente diferentes; Há um site também espanhol STOP OBSESION ligado a esta campanha (um exemplo a seguir em Portugal?) que terá post próprio)

Nov 19, 2009

>> Ana e Mia um Mundo Falso


Este site Anorexia e Bulimia um Falso Mundo existe disponível em várias línguas (o link para a versão portuguesa está infelizmente quebrado).Aparentemente e segundo notícia de 2007 (aqui) é uma iniciativa de duas organizações não governamentais (ONGs) uma brasileira e uma espanhola mas apenas a última parece estar activa e com o apoio do municipio de Madrid. A versão cujo texto se encontra mais completo é a espanhola. Faz uma análise e esclarece algumas das incorrecções e falsidades dos blogues pró anorexia e bulimia. Para além do conteúdo que é de facto muito interessante (pena a autoria dos textos não estar explícita) são também páginas esteticamente muitos bonitas. Fica a ideia de visita e a promessa de divulgarmos em português alguns dos textos. Porque informar é necessário e urgente. Tive conhecimento deste site pelo blogue Pasos Y Pensamientos.