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os 10 posts mais lidos (esta semana) seguidos dos posts mais recentes (26 Outubro 2016):

Nov 27, 2009

>> Jovem brilhante morreu devido a anorexia (UK)

Tive conhecimento desta triste notícia pelo blogue da Vanessa Marsden, médica psiquiátrica e investigadora . A notícia original pode ser lida no Mail online (aqui) , foi publicada há 15 horas e recebeu até agora 193 comentários.
É uma má notícia mas é também um alerta para a mortalidade causada pela anorexia e bulimia. Porque sabemos que a doença ataca jovens com diferentes perfis. Alice Rae "tinha tudo para ser feliz" (diziam, dizem), era inteligente (e por isso devia pensar e agir correctamente, pensam), atingiu níveis muito elevados de excelência e de perfeição, era sociável tinha amigos e amigas, página no Facebook, tinha futuros promissores, etc.etc.etc.
Chamava-se Alice Rae, tinha 18 anos sofria de anorexia e bulimia durante os últimos 2 anos. Tinha sempre sido uma aluna brilhante, com classificações máximas e tinha sido aceite para entrar na prestigiada Universidade de Cambridge para estudar economia. Vivia com os pais Christine e Peter. Tinha três irmãos: William, Tom e Georgina. "Era uma jovem encantadora, amorosa, bonita, inteligente extraordinariamente dotada." Os pais "tinham muito orgulho nela". "A Alice era muito inteligente, feliz, participante activa na comunidade escolar com um enorme potencial. A sua morte chocou-nos a todos" . Algumas semanas antes de falecer tinha sido admitida num hospital com níveis de potássio no sangue que punham a vida em risco, mas tinha tido alta poucas horas depois. [ Este caso dramático está a motivar também discussão no Reino Unido sobre a qualidade dos serviços públicos de saúde prestados aos doentes com anorexia e bulimia.]
Foto flickr cc (aqui)

Nov 26, 2009

>> Site Informativo (Para Além da Imagem)

Este é um site desenvolvido no Brasil com muita informação para diferentes públicos. Cliquem na imagem acima e visitem!
(existe também uma versão espanhola igual gráficamente mas com conteúdos ligeiramente diferentes; Há um site também espanhol STOP OBSESION ligado a esta campanha (um exemplo a seguir em Portugal?) que terá post próprio)

Nov 25, 2009

>> Termos e Siglas sobre Transtornos Alimentares (TA) na web

Ana - Anorexia Nervosa.
Mia - Bulimia
Anjo, Boneca, Criança, Princesa - Algumas das formas como se designam as doentes entre elAs. [nota:Infelizmente sabe-se muito pouco sobre elEs].[mas atenção, como é óbvio os termos carinhosos não são exclusivo dos sites pro-ana e pro-mia! Quantas vezes não designamos os que nos são queridos de princesas ou bonecas! ]
Compulsão - Crise de voracidade
ED - Eating Disorders (Perturbações do Comportamento Alimentar ou Transtornos Alimentares = TA)
Miar - Vomitar
LF - Low Food (pouca comida)
LFC - Low Food Colectivos,
NF - No Food (nenhuma comida)
NFC - No Food Colectivo.

Pró-Mia - A favor da bulimia
Pró-Ana - a favor da anorexia
Informação adaptada a partir do blogue: http://sos-ana-mia.blogs.sapo.pt/
A borboleta aparece muitas vezes associada à anorexia e bulimia (veja-se por exemplo o site espanhol: És  mais que uma imagem) 

>> Dicionário de Termos Psiq

Dicionário de Termos Psiq (Por exemplo Anorexia Nervosa aqui)

Tive conhecimento deste dicionário pelo blogue Psiquiatruras (aqui)

>> Portugal Artigos científicos sobre Doenças do Comportamento Alimentar / Eating Disorders

Na revista científica European Eating Disorders Review foram publicados vários artigos sobre Anorexia Nervosa e Bulimia em PORTUGAL (lista abaixo). Um deles, publicado no passado mês de Outubro é sobre " Perfeccionismo e atitude em relação aos alimentos entre os estudantes portugueses: um estudo longitudinal". Em algumas bibliotecas universitárias é possível o acesso online a estes textos. Daremos resumo deste texto um destes dias.
Perfectionism and eating attitudes in portuguese students: A longitudinal study
European Eating Disorders Review
Volume 17, Issue 5, Date: September/October 2009, Pages: 390-398
Maria João Soares, António Macedo, Sandra Carvalho Bos, Mariana Marques, Berta Maia, Ana Telma Pereira, Ana Gomes, José Valente, Michele Pato, Maria Helena Azevedo
The Portuguese short form of the Eating Attitudes Test-40
European Eating Disorders Review
Volume 16, Issue 4, Date: July/August 2008, Pages: 319-325
Ana Telma Pereira, Berta Maia, Sandra Bos, Maria João Soares, Mariana Marques, António Macedo, Maria Helena Azevedo
Attachment styles, memories of parental rearing and therapeutic bond: a study with eating disordered patients, their parents and therapists
European Eating Disorders Review
Volume 16, Issue 1, Date: January/February 2008, Pages: 49-58
Susana Tereno, Isabel Soares, Carla Martins, Mariana Celani, Daniel Sampaio
A study of bone density change in patients with anorexia nervosa
European Eating Disorders Review
Volume 15, Issue 6, Date: November/December 2007, Pages: 457-462
Isabel do Carmo, Mário Mascarenhas, Ana Macedo, Armanda Silva, Inês Santos, Dulce Bouça, John Myatt, Daniel Sampaio
Perfectionism and eating attitudes in Portuguese university students
European Eating Disorders Review
Volume 15, Issue 4, Date: July/August 2007, Pages: 296-304
António Macedo, Maria João Soares, Maria Helena Azevedo, Ana Gomes, Ana Telma Pereira, Berta Maia, Michele Pato
FPI profiles in a European sample of 1068 female patients suffering from anorexia or bulimia nervosa
European Eating Disorders Review
Volume 13, Issue 3, Date: May/June 2005, Pages: 201-210
C. Massoubre, B. Jaeger, G. Milos, U. Schmidt, I. Soares, H. Papezova, M. Denia, G. Faragalli, A. M. Westerlund, J. Pellet, F. Lang

Psychometric and cross-national evaluation of a Portuguese version of the Impact of Weight on Quality of Life-Lite (IWQOL-Lite) questionnaire
European Eating Disorders Review
Volume 13, Issue 2, Date: March/April 2005, Pages: 133-143
Scott G. Engel, Ronette L. Kolotkin, Pedro J. Teixeira, Luis B. Sardinha, Paulo N. Vieira, António L. Palmeira, Ross D. Crosby

The Portuguese version of the Eating Disorders Inventory: evaluation of its psychometric properties
European Eating Disorders Review
Volume 9, Issue 1, Date: January/February 2001, Pages: 43-52
Paulo P. P. Machado, Sonia Gonçalves, Carla Martins, Isabel C. Soares
The Prevalence of Disturbances of Eating Behaviour in a Portuguese Female University Population
European Eating Disorders Review
Volume 4, Issue 4, Date: December 1996, Pages: 260-270
Fernando Baptista, Daniel Sampaio, Isabel do Carmo, Dinis Reis, Alberto Galvão-Teles
Prevalence of Anorexia Nervosa: a Portuguese Population Study
European Eating Disorders Review
Volume 4, Issue 3, Date: September 1996, Pages: 157-170
Isabel do Carmo, D. Reis, P. Varandas, Dulce Bouça, Dione Padre Santo, A. Neves, Isabel André, D. Sampaio, A. Galvão-Teles
*
Fonte: site do Journal European Eating Disorders Review

Nov 24, 2009

>> tan ge ri na, tan ge ri na

FRUTOS
Pêssegos, peras, laranjas,
morangos, cerejas, figos,
maçãs, melão, melancia,
ó música de meus sentidos,
pura delícia da língua;
deixai-me agora falar
do fruto que me fascina,
pelo sabor, pela cor,
pelo aroma das sílabas;
tangerina, tangerina.

Eugénio de Andrade,
As Mãos e os Frutos

>> Calling all ED sufferers

Recebemos da Carrie Arnold (ver mais sobre esta autora aqui) a informação abaixo referente a um livro que se encontra em preparação por June Alexander e outros autores e que está a recolher testemunhos diversos (apelo à participação abaixo). À esquerda capa de outro livro (My kid is back) de June Alexander escrito com Daniel le Grange( Medical Center, Chicago University)
A solicitação de testemunhos (eng):
"ED sufferers and caregivers have an opportunity to share their experience in a new international textbook aimed at educating primary care health practitioners. The book, co-authored by June Alexander and Professor Janet Treasure (King's College London), will be published by Routledge (UK) in 2011. Carrie is among those contributing their story in this exciting new book.
June particularly would like to hear from you if you:
--have experienced DBT or know a family member who has;
--have experienced CBT;
--are an elite female athlete who has suffered AN;
--are an Hispanic family, or black family, whose child developed AN and the family assisted recovery through FBT; or
--are a sufferer of bulimia who has experienced/is experiencing a drug therapy strategy.
If you fit any of the above criteria, and are willing to share your story, please contact June who will arrange to collect your story via email, Skype or phone. Anonymity is assured unless specifically stated
. Write to June Alexander at june@junealexander.com or Carrie at carrie@edbites.com For more details about June go to http://www.junealexander.com/"

Nov 23, 2009

>> rio e margens

“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem” B. Brecht
Foto: flickr CC (aqui)

Nov 20, 2009

>> o coração é um músculo...

"Se o corpo humano não receber comida suficiente, começa a definhar: entre outras coisas, queima a proteína dos músculos, e o coração é um músculo. As pessoas com anorexia correm o risco de enfraquecer o coração e podem até morrer com um ataque cardíaco."
Texto encontrado num interessante site, Diálogo de Gerações (aqui). Nele é apresentada a vida de Kim, 13 anos, (personagem fictícia), desde os primeiros sinais de anorexia até ao tratamento. Relata episódios comuns da vida de uma adolescente a que vai juntando informação e comentários numa linguagem muito acessível para os muito jovens. Os textos em português da história de Kim fazem parte do livro de Janine Amos "Que efeitos tem a anorexia no corpo e mente de Kim?" Everest Editora, 2004, Brasil.Título original"Why Won't Kim Eat? ". O texto é em certos pontos 'adocicado' evitando dramatismos e relatos 'sensíveis' sempre existentes nas histórias reais. Adoptando um estilo descritivo de situações e evitando detalhes sobre os sentimentos que atravessam quem nelas participa. Mas compreende-se o motivo: é literatura dirigida a um público muito jovem, de 13 ou menos anos.
Foto flickr cc (aqui)

Nov 19, 2009

>> Ana e Mia um Mundo Falso


Este site Anorexia e Bulimia um Falso Mundo existe disponível em várias línguas (o link para a versão portuguesa está infelizmente quebrado).Aparentemente e segundo notícia de 2007 (aqui) é uma iniciativa de duas organizações não governamentais (ONGs) uma brasileira e uma espanhola mas apenas a última parece estar activa e com o apoio do municipio de Madrid. A versão cujo texto se encontra mais completo é a espanhola. Faz uma análise e esclarece algumas das incorrecções e falsidades dos blogues pró anorexia e bulimia. Para além do conteúdo que é de facto muito interessante (pena a autoria dos textos não estar explícita) são também páginas esteticamente muitos bonitas. Fica a ideia de visita e a promessa de divulgarmos em português alguns dos textos. Porque informar é necessário e urgente. Tive conhecimento deste site pelo blogue Pasos Y Pensamientos.

Nov 17, 2009

>> Coragem escreve-se com S

Coragem
2009-11-15 por Sofia
"Sou rapariga, tenho 16 anos e frequento o 12ºano.
Há já algum tempo que pensava em deixar aqui uma opiniao mas, só agora fui capaz de o fazer.
Sempre exigi o máximo de mim, levava o perfeccionismo ao máximo. Nunca gostei de mim mesma mas nao falava disso, como que essa omissao que eu fazia de mim me fizesse esconder dos "outros" - pura ilusão.
Há cerca de 3 anos atrás decidi começar a fazer uma dieta. E consegui. Perdi 5, 10, 15, 20kg; julgava-me capaz de controlar a situaçao e ignorava tudo aquilo que me diziam.
Perdi completamente a noçao da realidade. Quando dei por mim estava mergulhada numa anorexia e depressão profundas. Desliguei de tudo e todos. Deixei ter objectivos, sonhos, passatempos e estabilidade emocional. Vivia, para perder peso!
Era obcessivo: contava as calorias de tudo aquilo que comia, mentia aos meus pais sobre a comida (quando sozinha nao comia o que quer que fosse), era doentio!
A minha mae ja nao sabia como lidar com a situaçao. Muitas vezes quis desistir e eu também - aquilo nao era viver. Nada me dava prazer, excepto pesar-me e ver a balança sempre a descer.
A minha família definhava de dia para dia, como eu, de resto.
Nao dormia, nao comia, nao falava com ninguém, perdi a contas às vezes que deitei comida pela sanita ou na balde do lixo. Perdi-lhe a conta.
Poucos foram os dias em que fui para a escola sem ser a chorar - estava no limite, limite de tudo.
A agonia em que vivia parecia suplantar-se a tudo o resto; eu nao era feliz, queria parar mas nao conseguia. Queria parar mas já nao conseguia!
Viver daquela maneira era um suplício, algo que cada vez mais parecia ser impossível de suportar.
Os psicólogos, os nutricionistas, os avisos nada resultava. Embora (apenas parcialmente) consciente da debilidade que estava continuava a nao comer... Uma noite, após uma discussao enorme com os meus pais, tomei cerca de 14,15 calmantes. Queria dormir, dormir para sempre.
Nao tinha forças p'ra lutar mas, também nao era justo "obrigar" os pais a viver daquela maneira. (...) Ainda hoje, me culpo por esse acto (cobarde talvez mas, mais ainda, desesperado)
Ninguém imagina o que é o dia-a-dia de uma anorexia, ninguém imagina.
Ironicamente, a tentiva de a terminar talvez me tenha trazido de novo a ela, à vida!
Lembro-me, de chorar abraçada à minha mae e de lhe suplicar ajuda - uma ajuda "extra" que ela tantas vezes me ofereceu e eu tantas outras recusei. Aceitei, finalmente, a ajuda de um profissional. (A 1ª grande vitória de uma guerra que se arrastava há dois anos)
Cerca de duas semanas depois, fui à 1ª consulta com o Dr. Roma Torres; estava nessa altura do limite do peso mínimo e nessa mesma consulta o Dr. fez-me um plano alimentar. À medida que ele escrevia as refeiçoes, as lágrimas escorriam-me face abaixo. Pensava excessiva a quantidade de comida que ele me estava recomendar; De lágrimas nos olhos, vim para casa com o plano alimentar na mao. Nao o cumpri, minimamente.
15 dias depois lá estava eu para mais uma consulta, tinha perdido 2kg - o que era "proibido" de acontecer. Prometi ao Dr. e à minha mae que aquilo nao mais aconteceria e que na próxima consulta eu já havia recuperado o peso perdido. 15 dias mais tarde, lá estava eu novamente para uma consulta. O Dr. manda-me para o balança e o peso estava igual ao de há duas semanas atrás - nao tinha emagrecido, mas também nao tinha recuperado o peso como eu havia prometido.
Estava eu, o Dr. e a minha mae no consultório quando o telefone toca. Era a mae de outra paciente a ultimar os pormenores do internamento da filha - também ela vítima de uma anorexia nervosa. Eu, feita em lágrimas, e a minha mae assistimos à conversa do Dr. Roma Torres. Assim que termina a chamado, o Dr. olha para mim e diz-me "isto é o que lhe vai acontecer, senao começar a alimentar-se devidamente".
Uma vez mais, vim para casa a chorar. Estava como que presa num problema que me consumia, segundo após segundo. Mais uma discussao "forte" com a minha mae nessa noite. Discussao essa que me fez tomar consciência de que a poderia perder! A ela, aos meus amigos, à minha felicidade, ao meu futuro. O internamento era ... o "fim". Um fim que eu nao queria.
Estava na altura de dizer basta, com determinação e com vontade, de facto. A satisfaçao que o constante emagrecimento me provoca tinha de ser vencido pelo amor que eu ainda tinha à vida, aos meus amigos, à minha família e sobretudo a ela - à minha grande mae.
Por ela, por mim, por nós percebi que viver vale a pena! Sorrir vale a pena; lutar vale a pena; ser feliz vale a pena.
Hoje, melhor, ainda caio na tentaçao de olhar p'ras calorias ou de evitar certo tipo de alimentos. Ainda caio nessa tentaçao, mas cada vez menos.
Recuperei o brilho no olhar, a estabilidade emocional e familiar, o sonho da entrada em medicina, o gosto pela poesia e, sobretudo, o prazer de viver. Cada dia é, para mim, uma vitória, uma batalha vencida de uma guerra que cheguei a julgar ser incapaz de ultrapassar.
Hoje sei que nao é assim, o ser humano tem limtes de resistência enexcedíveis.
A todas (os) aqueles que se encontram numa situaçao como aquela que eu vivi, peço-lhes que Lutem, porque viver "vale sempre a pena".
Como um dia um amigo me disse, "é preciso viver nao apenas exitir e a vida é uma vitória mesmo que nem sempre ganhe"!
Coragem!
"
Este texto da Sofia foi publicado originalmente na página da afaab. Escrevi à autora a pedir autorização para a sua publicação neste blogue. Respondeu-me terminando assim:
"Mas o mais importante é vencer; histórias como a minha e como a sua são um incentivo à luta daqueles que se debatem com a guerra que é (sobre)viver numa anorexia. Tal como me ajudaram a mim, é com todo o gosto que disponibilizo o meu testemunho para ajudar todos aqueles que mais necessitam. Pois, quando frágeis, toda a ajuda nos parece pouca e, como tal, quanto maior os recursos fornecidos mais pessoas poderemos ajudar e maior é o conforto connosco mesmos.Nem que seja uma pessoa, já valeu a pena ter publicado o meu testemunho."
Obrigada Sofia !
Imagem: flickr andersn (aqui)

>> mãe partilha de dor


No site da afaab, encontra-se um testemunho com o título de PARTILHA DE DOR escrito pela mãe de uma jovem com anorexia cuja leitura nos ensina muito sobre os danos, alguns irreparáveis, da doença. Recomendamos a leitura de todo o testemunho (aqui), que se inicia com as palavras: "Quando descobri que a Inês sofria de anorexia, mergulhei num turbilhão de sentimentos: perplexidade, insegurança, medo, revolta e, claro, a sensação de culpa que leva à inevitável questão: 'em que é que falhei?' . E é neste estado de atordoamento geral que temos de partir para a acção: procurar ajuda especializada, buscar desenfreadamente toda a informação que nos consiga esclarecer as dúvidas e acalmar o espírito inquieto. Mas, acreditem, o diagnóstico imprime na dinâmica familiar um calendário emocional muito nítido: a partir desse momento há um “antes” e um “depois”. E então sucedem-se ...” (cont. aqui).
fotografia: flickr cc (aqui)

>> Outros : Milhões e milhões

Um projecto do fotógrafo Yann Arthus-Bertrand conhecido por magníficas fotografias aéreas. Depois de muito fotografar a partir do ar sentiu necessidade de descer à terra e conhecer mais sobre o que pensam os outros, essa multidão que nos acompanha em todo o mundo. Recolheu testemunhos em pequenos videos em todas as línguas (muitos estão traduzidos) e continentes sobre os sonhos, os medos, as alegrias.
Imagem: um dos ecrãs do site de Yann Arthus-Bertrand com imagem de um dos videos e lista à esquerda de alguns dos temas (aqui)

Nov 16, 2009

>> ouvir um violino até na lama

CHOVE!
Chove...
Mas isso que importa!
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.
Poema de José Gomes Ferreira

Foto flick cc (aqui)

Nov 15, 2009

>> dentro de grandes blocos de gelo

BLOCOS
É isto vivemos dentro
de grandes blocos de gelo
sem aquecermos ao menos
com os dedos outros dedos
No fundo de nós temendo
que um dia se quebre o gelo

Blocos, Poema de David Mourão-Ferreira
Imagem:Captured in ice by naustvik / © All rights reserved
http://bighugelabs.com/onblack.php?id=4017272435&size=large

Nov 14, 2009

>> Apoio a Familiares e Amigos. Onde? (actualizada 17 nov)

A AFAAB tem sede em Matosinhos, Núcleos no PORTO (reuniões regulares no São João de que vamos dando notícia nest blog, a próxima reunião será dia 27 de Novembro às 21:30 ), BRAGA, LISBOA e FARO. Está em reactivação um núcleo em COIMBRA. Seguem os contactos recolhidos na página da AFAAB:
BRAGA: Helena Campos 25 361 25 08 helena.f.campos@seg-social.pt
FARO: Guiomar Paulo 28 999 14 28 guiomarpaulo342@hotmail.com
LISBOA: José Delgado 21 432 19 67 jjcdelgado@mail.cp.pt
217 972 110 ou 914 929 928 (2ª feira a 5ª das 14h-17h); Próxima reunião: 27 de Novembro 21:30, 2009-11-27 - NDCA - Rua Sousa Lopes, 63-C -LISBOA (Frente ao CC Gemini) pelas 21H30
MATOSINHOS: 91 492 99 28 (Todos os dias);Sede da AFAAB:Rua de Augusto Gomes, 313 (traseiras) Apartado 2198; 4450-999 MATOSINHOS; Atendimento às 2ª, 4ª e 6ª feiras das 15H às 18H ; 22 938 56 44 (2ª,4ª e 6ª feira das 15H às 18H); 91 492 99 28 (Todos os dias); 22 200 00 42; afaab@sapo.pt
PORTO: 91 492 99 28

>> ( não) Centrar apenas na comida ...

Centrar exclusivamente o tratamento da anorexia na alimentação é um erro grave. Quem sofre de um distúrbio alimentar está a utilizar um mecanismo negativo para lidar com as emoções desagradáveis. Em cada um dos anorécticos existe uma causa ou um conjunto de causas e o sofrimento que provocam tem que ser curado, cada um têm que buscar e constuir formas alternativas saudáveis de lidar com a vida. Ter em conta todas as áreas de um distúrbio alimentar é fundamental para a recuperação da/o doente... stress, sofrimento (passado e presente), aprender a lidar com as emoções, em paralelo com aprender alimentar-se de modo saudável. Aprender a não usar a comida como um mecanismo para enfrentar as questões que estão na raiz do comportamento anoréctico é essencial. Os amigos e familiares por vezes pensam..."se eu conseguir obrigá-la/o a comer ele/ela conseguirá resolver o problema". O apoio na alimentação é essencial, mas não suficiente. [Fonte:tradução adaptada de texto original (em inglês) aqui]. Da experiência que vivi tenho POUCAS certezas e MUITAS dúvidas. Das certezas: (1) o problema não estava no prato, estava na cabeça, na alma, no coração, ou onde quer que os meus sentires se localizassem (...)
Fotografia Irving Penn.

Nov 13, 2009

>> sair da casca e ...

" Sair da casca e, onde quer que se vá, falar com as outras pessoas. Olhá-las nos olhos e dizer-lhes aquilo em que se estiver a pensar. Além disso, ouvi-las, tentar entendê-las nos aspectos em que pensam e sentem de maneira diferente. No fundo, conversar, descobrir e oferecer-se. À antiga, sem internet, com cheiro." José Luis Peixoto, jornal i
foto flickr cc (aqui)

>> 10 Sinais de Aviso da Anorexia Nervosa


Os sinais de aviso da Anorexia Nervosa são vários e podem ser encontados em muitos dos sites indicados nos links/ligações (à direita). Na página da AFAAB encontra-se a lista abaixo com 10 sinais. Permitimo-nos mudar a ordem porque são apresentados e comentar brevemente a partir da nossa experiência pessoal.
1. "Não revelar sentimentos"
não revelar sentimentos ...não revelar sentimentos...não revelar sentimentos ...não revelar sentimentos...não revelar sentimentos
Talvez a raíz e o maior obstáculo à solução do meu problema. Porque o mal não estava na comida o problema estava no que sentia na alma, no coração, algures em mim. Um sofrimento que me destruia por dentro e não saía. Uma teia em que me ia enleando, que se ia transformando em armadura e que me isolava num mundo só meu e aparentemente protector.
2. "Extremo auto-controlo"
Para não me alimentar precisava de ter uma grande disciplina, método e controlo das minhas acções. Não comer é contra a natureza. Conseguir controlar a fome era uma forma de aplicar o auto-controlo. E esse auto-controlo também o aplicava noutros domínios como o estudo, o trabalho, o desporto. Mas esse meu controlo era também contraditório, pois eu estava muito frágil e não conseguia dominar as minhas emoções. Por isso o controlo era aparente.
3. "Tornar-se progressivamente mais crítico e menos tolerante com os outros"
Os outros, sempre os outros os grandes ausentes e omnipresentes quando estava doente. Não me tornei particularmente crítica até porque sempre o fora. Mantive o meu terreno de socialização habitual (fugindo da que envolvia comida). Não fiquei menos tolerante (nunca fui) apenas tinha menos paciência. Porque a fome nos tira a paciência, mesmo quando controlamos a fome como aconteceu comigo durante anos. A magreza suscitava comentários de elogio, sarcásticos, preocupados, etc. Lá fui lidando com todos, comentários e olhares. Dos outros pode também chegar, travestida sabe-se lá como a fuga que nos faz cair na realidade. Não há príncipes encantados nem príncipes valentes cavalgando em cavalos brancos. Mas há pessoas encantadoras e valentes. Algumas jovens com anorexia chamam-se de 'princesas' e a interpretação que é dada está relacionada com a recusa em crescer, passsar de menina a mulher.
4. "Significativa ou extrema perda de peso sem causa médica aparente"
Esse foi um sinal acompanhado pela perda do período menstrual. Foi este último o sinal de que a família, e primeiro a minha mãe se apercebeu. Foi um sinal que me preocupou pois pensei que nunca poderia ser mãe no futuro. Conheço casos em que a anorexia nervosa esteve na origem de infertilidade. E ao contrário do que dizem alguns livros que a anorectiva vê a mestruação (como a comida) como algo sujo eu estava consciente de que a mestruação me faria falta. Por isso a primeira médica que consultei, por inciativa própria, em segredo, foi uma ginecologista.Ou seja, eu sentia-me doente mas não percebia que o mal era psiquico.Escusado será dizer que a primeira coisa que a dita médica me receitou foi...um teste à gravidez que fiz. Inútil, porque as cegonhas não voam de Paris.
5. "Redução da quantidade de alimentos ingeridos"
Uma redução que em resultados de condições particulares da minha vivência de então eu conseguia ocultar ou justificar. Um controlo rigoroso e doentio pela balança- pesava rigorosamente tudo- a fruta depois de descascada e ficava aborrecida quando não conseguia pesar coisas que só em balança de ourives conseguiria, tais como um pau de canela, sumo de um gomo de limão, uma azeitona, etc. Uma tabela de de calorias publicada numa revista de moda e um caderninho onde apontava tudo.
6. "Desenvolvimento de comportamentos ritualizados à refeição, como, por exemplo, cortar a comida em bocadinhos muito pequenos e mastigar cada bocado em grande número de vezes."
Como comia muitas vezes sozinha não usava desses rituais, que no caso de comer acompanhada só serviriam para dar nas vistas.
7. "Não assumir a fome"
Tinha fome e muita, principalmente nos primeiros tempos. Depois fui-me habituando e a própria debilidade do corpo já não estimulava tanto a fome. Mas quando era preciso mentia dizendo que não tinha fome. E se era obrigada a comer compensava nas horas e dias seguintes...com mais jejum. Hoje sei que a bulimia preceder ou suceder à anorexia. Mas nunca fui bulímica.
8. " Só comer produtos alimentares magros e de baixo valor calórico"
O pouco que comia era muito controlado, mas o problema para a identificação deste sinal é que ele se confunde (para os familiares e amigos) com a procura de uma alimentação saudável. As festas eram um suplício na parte tocante à comida mas eram também um teste apara eu saber até onde conseguia controlar as tentações.
9. "Prática excessiva de exercício físico"
Sempre tinha praticado desporto, por isso esse sinal sentido como excessivo pela família nunca foi identificado. O que não sabiam é que levava horas (muitas horas) sem parar a dançar e aos pulos no meu quarto. O exercício físico pode hoje assumir muitas formas e também mais uma vez ser confundido com práticas saudáveis.
10. "Achar-se sempre muito gordo mesmo quando isso está longe de ser verdade"
No início sentia-me gorda, embora tivesse uma massa corporal normal, não era uma pessoa gorda segundo os parâmetros de então. Mas depois de meses de doença, quando me via ao espelho e nas fotografias, quando lia o mostrador da balança, com os ossos espetados (as costelas à vista como as imagens dos campos de concentração) percebia e sabia que estava magra. Só que achava que ainda não estava suficiente magra para parar a luta pela magreza. Não, não queria ser modelo nem as modelo (poucas e mais para o cheio nessa altura) eram minha referência. Vivaia todos os dias uma espécie de morte lenta, de suicídio homeopático.
Imagem flickr cc [Madasor]

Nov 6, 2009

>> Atendimento Familiares e Amigos tel Lisboa

Um espaço de atendimento aos familiares e amigos dos doentes com anorexia e bulimia nervosas.
Telefone 217 972 110 ou 914 929 928 (2ª feira a 5ª das 14h-17h)
informação recolhida na página da AFAAB

Nov 2, 2009

>> Imagens manipuladas

Uma deputada (Valérie Boyer) propôs no parlamento francês em Setembro uma legislação que obrigasse a indicar nas imagens manipuladas digitalmente: 'manipulada por um programa de tratamento de imagem'. A proposta gera polémica num país em que uma fotografia de férias de Sarkosy foi manipulada para o emagrecer.
A mesma deputada propôs em conjunto com outros cerca de 46 medidas de saúde pública com particular atenção para as mulheres. Entre elas diversas medidas de prevenção junto dos jovens de doenças relacionadas com comportamentos alimentares (no blogue da deputada, em francês, aqui).
A manipulação das fotografias sempre existiu. Há umas décadas, em Portugal, recordo que a concorrência entre fotógrafos profissionais era também efectuada a partir do chamado 'retoque' que por vezes usava cor e fazia maravilhas (procurem em fotografias antigas e encontrarão muitos produtos desses retoques mais ou menos conseguidos). Opiniões diversas em relação à proposta sobre a identificação de imagem manipuladas (em português) aqui.
Qual o interesse desta discussão? Alertar para o facto de certas imagem que servem de 'padrão' ou 'modelo' para quem tem doenças de comportamento alimentar são de facto meras criações...nalguns casos artísticas.
Em baixo um exemplo de transformação por maquilhagem clássica (40 segundos) e digital (35 segundos).