Abaixo transcrevo com autorização da autora (Carrie Arnold do Blogue EDbites dos US ) um texto sobre os médicos. Há mais de um mês tenho este texto que está muito bem escrito no original inglês (espero que a minha tradução livre não o estrague) para colocar no blogue e tenho hesitado em fazê-lo. Porquê?
Porque, apesar de saber que a alguns médicos assentam que nem uma luva as ignorâncias abaixo enumeradas, existem médicos excelentes em Portugal. Muitos médicos portugueses têm apoiado a recuperação de muitos doentes com anorexia e bulimia. Muitos doentes foram "salvos" por médicos maravilhosos, tecnica e humanamente maravilhosos. Os ex-doentes estão aí para testemunhá-lo. Mas principalmente porque os doentes devem procurar apoio dos especialistas, sempre!
Porque, apesar de saber que a alguns médicos assentam que nem uma luva as ignorâncias abaixo enumeradas, existem médicos excelentes em Portugal. Muitos médicos portugueses têm apoiado a recuperação de muitos doentes com anorexia e bulimia. Muitos doentes foram "salvos" por médicos maravilhosos, tecnica e humanamente maravilhosos. Os ex-doentes estão aí para testemunhá-lo. Mas principalmente porque os doentes devem procurar apoio dos especialistas, sempre!
Concluído o preâmbulo-aviso, segue a transcrição
...Médicos, ignorância e doenças do comportamento alimentar (dca)
[no original: Doctors, ignorance, and eating disorders]
03/09/2010
" Há um aspecto interessante que encontrei numa dicussão sobre porque é que os médicos estão tão alheados das doenças do comportamento alimentar (Anorexia, Bulimia). Há aspectos relativos às empresas de seguros (nos Estados Unidos) e às regras dos serviços nacionais de saúde (no Canadá, no Reino Unido, etc.). Mas não estou a referir-me a isso. É que a maioria dos clínicos não entende a doença, mesmo quando, eventualmente se intitulam de "especialistas" em doenças do comportamento alimentar (dca).
Penso que as possíveis razões para esse facto são:
1. Desconhecimento. Alguns médicos de facto, no fundo, não possuem a chave para o problema. A situação mais perigosa (e frequente) é quando os médicos pensam que possuem a chave, mas de facto não a têm. Posso ser ainda mais específica: há aqueles que não têm idéia de que eles não percebem do assunto e há aqueles que não querem admitir que não percebem do assunto.
É curioso, porque eu respeito a sério um médico que me diz: "Sabe, isso realmente não é minha área de especialização, mas deixe-me procurar alguém que possa ajudá-la melhor." Admito que é difícil para alguém (um médico em particular) admitir que não sabe tudo, mas posso garantir-vos que passarei a respeitá-lo mais se assumir essa ignorância.
2. Impotência. Muitas das coisas para que os clínicos são formados e treinados para tratar envolvem, basicamente, dizer a um paciente o que fazer ou receitar-lhe um remédio, e o problema ficará resolvido. Mesmo noutras doenças que podem ser crónicas, complexas, há um caminho óbvio a seguir. Primeiro tenta-se um tratamento A, depois o B, depois o C. Assim, alguns médicos vão aconselhar a velha rotina "have a sandwich" porque é o tipo de coisa que funciona com outras doenças.
Mas o problema com um transtorno alimentar não é realmente comer a sandocha. É convencer-te a comer (e digerir) a sandocha. Nem todos os doentes com dca padecem de problemas gastrointestinais mas posso garantir-vos que a maioria dos doentes pensa em comer a sandocha. É o medo do que poderá acontecer se comer uma sanduiche que ataca a maioria dos pacientes. Penso que isso não é de facto compreendido.
Outra coisa que acho que muitos médicos não percebem é que anorexia e a bulimia não são como as outras doenças. Porquê?
3. Pressupostos errados. Quando alguém fica doente, geralmente quer melhorar. O problema com as doenças do comportamento alimenta é que muitos doentes não reconhecem que têm um problema. E mesmo quando reconhecem, muitas vezes há problemas sérios com o acompanhamento clínico. Às vezes a motivação desaparece. Às vezes o doente mente para sair do consultório. Às vezes o paciente sub valoriza a dificuldade do tratamento. Ou então o doente não compreendem a gravidade do problema ("o meu transtorno alimentar não é problemático"). A maioria dos médicos não percebem este comportamento. Não percebem porque alguém fica com estes sintomas. Por isso, assumem que o doente está pronto e disposto a parar o comportamento doentio- o que nem sempre é verdade.
4. Regulam-se pelo doente. Nem sempre isso é mau. Acho que é bom que os médicos deixem 'assumir a liderança' aos doentes num estilo interactivo, em relação aos tipos de tratamentos que funcionam melhor, esse tipo de coisas. Mas quando um paciente não se rala verdadeiramente com uma coisa que o está a matar, os médicos muitas vezes pensam que afinal não deve ser assim tão grave.
(Eu tive este problema com a depressão simplesmente porque não demonstro plenamente as minhas emoções e tenho ao mesmo tempo um forte sentido de humor negro. Por isso, posso estar com uma depressão grave e ao mesmo tempo dizer graçolas ... de que só eu sei o verdadeiro significado).
5. A comunicação social, os mídia . Na comunicação social, quando se veêm os casos de doenças do comportamento alimentar, são apresentadas as situações mais extremas. Por isso quando alguém entra no consultório com um peso que não é tão baixo como daquela magrizela que viu na TV na noite passada, ou que não vomita ou usa laxantes com a mesma frequência, é muito mais fácil (mas apesar disso irresponsável e estúpido) mandar o doente embora.
6. Sobre-valorização ou desvalorização das análises laboratoriais. Muitas pessoas podem estar com graves distúrbios do comportamento alimentar e mesmo assim terem o resultado das análises laboratoriais nos parâmetros normais. Por outro lado, as pessoas podem parecer mais ou menos saudáveis e terem resultados laboratoriais malucos. Mas como que peso não é realmente baixo, possivelmente não estão muito doentes. Ou se o peso é muito baixo, mas os resultados das análises laboratoriais estão normais, então não é provável que esteja muito doente.
7. A sobrevalorização do peso. Esta explica-se por si só.
8. A histeria anti-obsesidade. Quando todas as mensagens que se ouvem são para se certificar de que as pessoas não estão demasiado gordas, provavelmente os médicos não reparam se elas estão demasiado magras. Frequentemente os médicos encorajam os esforços para os doentes perderem peso porque pensam "Finalmente! Alguém a quem não tenho de debitar a lenga-lenga dos perigos dos fritos!" . Ou então os médicos ignoram a perda de peso de uma criança em crescimento porque ainda não está com "subpeso", embora a perda de peso seja rápida, acentuada, e coloca essa criança fora da curva de crescimento normal.
9. Simplesmente não sabem lidar com as doenças do comportamento alimentar. Sou a primeira a reconhecer que não sou uma pessoa fácil de tratar, especialmente quando estava doente. Faltava às consultas ou desaparecia e ignorava as recomendações dos médicos. Eu não sabia que tinha um problema, e que uma crise iria aparecer e que o inferno iria desabar sobre mim. Não invejo a sorte dos meus médicos e terapeutas, e esse é um dos motivos mais óbvios porque não quero ser médica / terapeuta. Mas os pacientes resistentes carregam muita coisa com eles. Faz parte do jogo, e é a vida de alguém que está em jogo nas mãos dos médicos.
Porque acha que tantos médicos não conseguem entender as doenças do comportamento alimentar? Partilhe connosco os seus comentários, mas peço que isso não se transforme numa comparação para saber quem está mais doente. Não precisa dizer quantas vezes por dia ..., ou o seu peso / IMC. Não é essa a questão. O que eu estou curiosa por saber é o que a sua experiência lhe ensinou sobre porque tantos médicos estão alheados do que são as doenças do comportamento alimentar. "
3 comments:
obrigado por comentares o meu blog... não tive ainda coragem de fazer o disseste da fita. e também acho que não quero. tenho medo. sinto que estou iludida de alguma maneira. que não consigo ver a verdade.
beijos
Raposita,
(a ciência já tem umas respostas para o facto de o que vemos não ser exactamente aquilo que os outros veêm, mas o que interessa mesmo é como te sentes, com ou sem espelho). todas as pessoas têm medos, às vezes até 'medo de ter medo' (escreveu um poeta). o que nos fortalece contra o medo é enfrentá-lo. as técnicas não se aprendem nos livros, mas combatendo-o vamos ficando mais fortes, um pouco de cada vez. e podemos fazê-lo de muitas formas (até artisticamente por exemplo).
Felicidades!
Estou há 6 anos em tratamento. Sempre fui "parabenizada" por, sendo tão jovem, ter sido eu, sozinha, a procurar a clinica, a marcar e a ir! Quem não percebe d dca pensará que foi um avanço gigante e que a recuperação seria mais rápida e facil. E eu também pensei porque eu QUERIA curar-me!
O meu médico era (porque já mudei) especialista, da equipa do HSM...e percebeu e explicou-me tudo na primeira consulta mesmo vendo a vontade vinda de um desespero em que eu estava. Os médicos nao espeializados ficam baralhados com uma anorectica... por isso é importante qu seja um especialista porque eu cheguei e disse QUERO CURAR-ME, ajude-me, não aguento mais esta vida.. ele desfez-me essa vontade desmesurada e é aqui que distingue um médico de dca dos outros: "TU queres curar-te e entre muitas coisas precisas de aumentar o peso...estás disposta a isso?" Não estava...perdi, e ele nao ficou surpreso nm m di que se eu é que o tinha procurado então porque não cumpria as "regra"?
Porque esta doença é feita de MEDOS e AMBIVALENCIAS. Eu queria curar-me mas ontinuar a emagrecer...eu queria livrar-me desta "Profissão a tempo inteiro" mas era incapaz de me deixar na mãos do médico e fazer tudo...porque um dos nossos maiores medos é perder o controlo (mesmo depoir d saber q é ilusório)
t
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