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Dec 30, 2010

Isabelle Caro (28 anos) faleceu [actualizada em 9.01.2011 com um novo texto e link; actualizada em 22.01.2011 ]

Talvez seja a imagem do corpo de Isabelle Caro que mais seja divulgada. Mas aquele corpo era apenas a consequência...Se fosse possível fotografar os pensamentos...A campanha (publicitária recorde-se, a uma marca de roupa, Nolita) tem estado a ser noticiada erradamente como uma campanha anti anorexia. As imagens chocantes contribuiram certamente para a discussão geral dos tamanhos zero na moda.

A anorexia é uma doença mental não uma opção ou estilo de vida em relação à qual existem muitos preconceitos, mitos e ideias erradas. Ser anoréctico não é 'ter a mania das dietas' é algo muito mais complexo. 'Coitada, tão magrinha' ou 'Que horror, tão magra' ou 'Por esse andar acontece-te o mesmo que áquela que morreu' são palavras que não ajudam a quem sofre da doença.

Como ex-anoréctica faço um pedido aos familiares, amigos, colegas, professores, treinadores que convivem com alguém com doenças do comportamento alimentar (anorexia ou bulimia): procurem informar-se sobre a doença e como ajudar. Não se preocupem tanto em 'entender a doença', não se preocupem tanto com o corpo esquelético, os cabelos a cair, a perda de forças...ANTES DO CORPO MAGRO VEJAM O SER HUMANO EM SOFRIMENTO QUE O HABITA.

A anorexia mata também em Portugal.

[acrescentado em 9 de Janeiro 2011]Uma médica portuguesa, Ana Matos Pires,  comentou assim (aqui) a campanha em 2007 quando foi lançada.
citando parcialmente o post cuja leitura integral recomendo:
"O lado positivo desta campanha, para mim e enquanto médica, é chamar a atenção para a necessidade de tratar precoce e eficazmente esta doença de modo a evitar situações como a apresentada nos cartazes, isto é, estados limite de caquexia que podem levar à a morte. Não me parece, contudo, que vá atingir outros objectivos medicamente significativos e, neste sentido, assino de cruz as declarações da psiquiatra Dulce Bouça, Presidente do Núcleo das Doenças do Comportamento Alimentar, presentes no Público de domingo passado: "Esta imagem tem um impacto mediático muito forte e uma mensagem muito intensa, que estabelece uma relação muito próxima entre o que é a vida e o que é a morte" e mais à frente "Quando um doente tem já uma anorexia, está de tal maneira em sofrimento que fica pouco sensível a estas imagens. Uma pessoa que esteja a iniciar a doença ou uma pessoa saudável que queira perder algum peso pensa sempre que nunca vai chegar àquele ponto". Na mesma peça jornalística podiam ler-se as opiniões de dois clínicos italianos que, tal como a Dulce Bouça, são autoridades na matéria, com provas científicas dadas. Fabiola de Clercq, presidente da Associação Italiana para o Estudo da Anorexia, comentou que a imagem é "demasiado crua" e que pode até fazer com que algumas pessoas sintam inveja do corpo de Isabelle e tentem ficar mais magras do que ela.  Riccardo dalle Grave, presidente da Associação Italiana de Problemas da Alimentação e do Peso, afirmou que "As imagens tornam banal um problema sério".
Também um texto e discussão sobre a história de Isabelle Caro pode ser encontrado em EDbites (aqui em inglês)
O blogue de Isabelle: http://neigeisabelle.blog.mongenie.com/
Actualização em 22.01.2011: Em Janeiro de 2011 a mãe de Isabelle suicidou-se. O post publicado em EdBites (em inglês) discute as falsas ideias sobre a 'reponsabilidade' na doença dos que envolvem o doente. Como habitualmente a recentrar a questão fugindo aos sensasionalismo, que foi infelizmente e mais uma vez o modo como o assunto voltou a ser tratado na imprensa.Ler aqui em EDBites.

1 comment:

said...

Chega um dia em que a máquina (o corpo) não aguenta mais... mas quem está doente, principalmente há largos anos, esse dia não existe.
A falta de noção não é só da nossa imagem ou da nossa saúde, é a falta de noção que não temos culpa, que é preciso insistir muito, muito mais do que para continuar doente. E há também falta de noção do que somos enquanto pessoas, o corpo passa a pedir o carinho que não sabemos pedir por palavras... pouca gente percebe, mas o Amor, sentirmo-nos queridas, sentir que existimos para além da doença...é o que faz tantas vezes falta...