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Mar 30, 2010

...Anorexia , tratamento, peso (IMC)

Recebi um comentário -testemunho que abaixo transcrevo como post (tendo retirado alguma informação por razões de manutenção de anonimato). Reformulei o post inicialmente juntando os comentários de Vanessa Marsden que muito agradeço e juntando alguns números conforme por ela sugerido.No esqueciaana já disponibilizámos alguma informação obtida de fontes fiáveis sobre os critérios (actualmente em discussão) associados ao diagnóstico da anorexia nervosa, por exemplo (aqui), (aqui, blogue Psiquiatria e Toxicodependência), (aqui) , (aqui) ou (aqui).
Testemunho
"tive consulta com o DrZ. Vim de lá tristíssima. A razão é contraditória e peço-te, por favor, para não me julgares. Eu já estou nos [..Kg]. Ora, com este peso o meu IMC [Índice de Massa Corporal] é de [..] e sabes o que ele disse? que eu não era anorética porque para o ser o IMC teria de estar abaixo dos 17. Fiquei pasmada. Garantiu me que não era anorética e marcou-me uma consulta [...] porque diz que independetemente de não o ser devo ganhar mais [..kg]. Ele não deve saber o que fez mesmo. É QUE VOU CHEGAR LÁ COM A PORRA DO IMC NOS 16 PARA ELE, JGMHNVFDHJEBEGV desculpa nem sei como escrever sobre isto..mas terei eu de ficar feliz por um médico especializado no tratamento de anorexia dizer que só porque o meu IMC já não é mais de 14 ou 15 eu deixei de sofrer de anorexia nervosa? Terei eu de sorrir perante um especialista que me diz "quando estiveres abaixo dos 17 é que podemos curar-te" ...caramba, estão à espera que eu chegue aos 17 para depois não conseguir parar? Depois de ter engordado este kilo nojento..falei com muitas raparigas de lá. nenhuma delas gostava dele. uma estava tão escanzelada que lhe implorou para ele a internar..e ele disse-lhe que "o facto de ela se querer internar só mostra que ela não era anorética"..pois, só tinha um IMC de 15 mas anorética é que não era..DECERTEZINHA!!! desculpa a minha revolta mas este tipo de coisas mexem de tal forma comigo que só me apeteceu fazer um post a falar da própria ignorância dos médicos! Não de todos, ÓBVIO, mas pelo menos este tocou-me no bichinho lá dentro. Foi quase como me dizer "tu és demasiado gorda para seres anorética"...será que não sabe que a anorexia é uma doença mental? ou serei eu que estou errada e a anorexia afinal tem tudo a ver com uma questão de peso? será que não percebeu que me pôs com uma vontade mórbida de emagrecer até ficar invisível? desculpa o desabafo."
Depois de publicado o testemunho acima (sem números) recebi este comentário da Vanessa Marsden que agradeço:
Cara ex-ana.
De facto é importante anonimizar o relato, mas as informações sobre peso e IMC são importantes para melhor entendimento doquadro e sem elas fica difícil entender o relato da utente. Estas podem ser publicadas sem problemas pois são apenas números, não sendo possível identificar alguém através do peso. Quanto ao critério diagnóstico, de facto se a utente não está com o peso a 85% ou menos do normal esperado para a idade e altura, não é Anorexia Nervosa (de acordo com os critérios do DSM-IV-TR e da CID-10). Entretanto, existem outras entidades diagnósticas que servem para avaliar pacientes que estão no limite dos transtornos mas não se encaixam completamente nos critérios. Para maiores informações, este artigo brasileiro elucida os diversos critérios:
http://www.scielo.br/pdf//rbp/v24s3/13964.pdf
Não seria ético por parte de qualquer especialista que leia o relato "diagnosticar" o quadro, visto que diagnóstico implica avaliação, o que é impossível de ser levado a cabo pela internet. Entretanto, posso sugerir que se a utente não está satisfeita com os serviços do médico para ela designado, ela está dentro de seus direitos em reclamar (no livro amarelo) e solicitar outro profissional. Nem o médico nem o paciente são obrigados a um contracto terapêutico se não conseguem conversar na mesma língua e os códigos de ética garantem o direito do paciente em solicitar outro profissional e do médico em negar consultas a um paciente (se ele não for o único médico da localidade e não for um caso de urgência). Se não há confiança no profissional não há como estabelecer rapport (que é a aliança terapeutica) e mesmo que o médico tivesse oferecido o tratamento desejado, a falta de confiança na relação já sinaliza ruptura e falha terapêutica no futuro.
Com os melhores cumprimentos
Vanessa Marsden
imagem flickr cc: (aqui)

1 comment:

Vanessa said...

Cara ex-ana.
De facto é importante anonimizar o relato, mas as informações sobre peso e IMC são importantes para melhor entendimento do quadro e sem elas fica difícil entender o relato da utente. Estas informações podem ser publicadas sem problemas pois são apenas números, não sendo possível identificar alguém através do peso.

Quanto ao critério diagnóstico, de facto se a utente não está com o peso a 85% ou menos do normal esperado para a idade e altura, não é Anorexia Nervosa (de acordo com os critérios do DSM-IV-TR e da CID-10). Entretanto, existem outras entidades diagnósticas que servem para avaliar pacientes que estão no limite dos transtornos mas não se encaixam completamente nos critérios. Para maiores informações, este artigo brasileiro elucida os diversos critérios: http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbp/v24s3/13964.pdf
Não seria ético por parte de qualquer especialista que leia o relato "diagnosticar" o quadro, visto que diagnóstico implica avaliação, o que é impossível de ser levado a cabo pela internet. Entretanto, posso sugerir que se a utente não está satisfeita com os serviços do médico para ela designado, ela está dentro de seus direitos em reclamar (no livro amarelo) e solicitar outro profissional. Nem o médico nem o paciente são obrigados a um contracto terapêutico se não conseguem conversar na mesma língua e os códigos de ética garantem o direito do paciente em solicitar outro profissional e do médico em negar consultas a um paciente (se ele não for o único médico da localidade e não for um caso de urgência).
Se não há confiança no profissional não há como estabelecer rapport (que é a aliança terapeutica) e mesmo que o médico tivesse oferecido o tratamento desejado, a falta de confiança na relação já sinaliza ruptura e falha terapêutica no futuro.

Com os melhores cumprimentos