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Feb 7, 2010

>> Anorexia e análises do cérebro (investigação)

Tive conhecimento pelo blogue de Carrie Arnold ED-Bites (aqui) dos resultados de uma pesquisa divulgados agora pelo Psychiatric Times. Vol. 27 No. 2 (aqui), e publicada originalmente pela Nature Reviews Neuroscience [*]. O texto original pode ser consultado (aqui) no arquivo digital do esqueciaana. Esse artigo contribui para um melhor esclarecimento dos sintomas da anorexia nervosa (relacionados com os circuitos cerebrais) . É baseado na observação por novas técnicas de imagem do cérebro [sobre as técnicas para as curiosas/os ver aqui] de doentes com Anorexia de tipo restritivo (ou seja, perda de peso apenas por consumir menos alimentos) . Conforme diz Carrie Arnold no seu blogue, o artigo não é simples - a revista destina-se a psiquiatras, mas é escrito de forma muito clara. E os resultados relacionados com a ansiedade e os traços de personalidade com potencialidade positivas (ver o último parágrafo) são muito interessantes.As novas técnicas de análise do cérebro vão certamente contribuir no futuro para um melhor diagnóstico e tratamento da anorexia.
A figura acima (carregar na imagem para ampliar) retirada desse artigo representa a evolução do fenómeno da anorexia nervosa.
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Citando partes do artigo e das declarações de um dos autores Walt Kaye:
”... a observação das disfunções dos circuitos cerebrais ventral (límbico) e dorsal (cognitivo), possivelmente relacionados com o metabolismo da serotonina e da dopamina alteradas, podem ajudar a explicar porque os indivíduos com anorexia frequentemente relatam que a dieta lhes reduz a ansiedade e comer a aumenta. Pode também ajudar a explicar porque esses doentes se preocupam com as consequências de longo parzo mas parecem ser imunes a uma gratificação/retorno imediato e serem incapazes de viver o presente.”
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” Muitas mulheres fazem dieta [na cultura ocidental], mas relativamente poucas (0,5%) têm anorexia, disse Kaye ao Psychiatric Times. "Porquê? Bem, tem que existir um determinado temperamento e personalidade na infância que as torna mais vulneráveis. . . a um transtorno alimentar ", disse Kaye. "Nem todos os que desenvolvem anorexia nervosa tem todas essas características na infância, mas a maioria tem um ou mais"
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"Essas características incluem evitar a agressão, ansiedade, inibição comportamental, dificuldade com a mudança do set [facilmente passar de um estado mental para outro], a tendência para se focar em detalhes mais do que no geral e o perfeccionismo." Mesmo depois da recuperação, estes traços personalidade e temperamento vão persistir, apontando para uma raíz neurobiológica. ... Kaye disse que os resultados empíricos das imagens cerebrais sugerem que as perturbações no sistema serotonergic/serotoninérgico podem contribuir para a vulnerabilidade comportamentos de restrição da alimentação e inibição comportamental, assim como à ansiedade e preocupação excessiva em particular com as conseqüências.
Por outro lado, a disfunção dopamine DA, especialmente em striatal circuits/ circuitos estriados, podem contribuir para recompensas alteradas, tomadas de decisão, movimentos motores estereotipados e diminuição da ingestão de alimentos.
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Porque a anorexia pode ser uma doença crónica, pelo menos em termos de personalidade e dos traços de temperamento, disse Kaye, a sua equipa está a ajudar as pessoas a compreender a sua personalidade e os traços de temperamento e a desenvolver estratégias contrutivas de lidar com os problemas.
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"Muitas pessoas que se recuperaram de anorexia [entre 50% e 70% recuperam] têm uma vida nomal e com qualidade, porque algumas das características que elas possuem [associadas aos problemas de AN] podem ser benéficas, estando mesmo fortemente associadas a bons desempenhos . . . São pessoas que são grandes vencedores, que são muito focada e orientada para os detalhes. . . que possuem muito bons desempenhos em profissões que recompensam essas qualidades, tais como a medicina, a investigação, a engenharia, e a academia. "


[*] Fonte: Kaye WH, Fudge JL, Paulus M. New insights into symptoms and neurocircuit function of anorexia nervosa. Nat Rev Neurosci. 2009;10:573-584.
Outros artigos:
Wagner A, Aizenstein H, Venkatraman VK, et al. Altered reward processing in women recovered from anorexia nervosa. Am J Psychiatry. 2007;164:1842-1849.
Wagner A, Aizenstein H, Mazurkewicz L, et al. Altered insula response to taste stimuli in individuals recovered from restricting-type anorexia nervosa. Neuropsychopharmacology. 2008;33:513-523.
Frank GK, Bailer UF, Henry SE, et al. Increased dopamine D2/D3 receptor binding after recovery from anorexia nervosa measured by positron emission tomography and [11c]raclopride. Biol Psychiatry. 2005;58:908-912.

1 comment:

Exahmia said...

Olá, costumo ler o teu blog praticamente todos os dias.

Normalmente não sinto necessidade alguma de me justificar, não porque as pessoas não mereçam uma justificação, porque merecem claro, e em assuntos tão delicados como anorexia e bulimia todo o cuidado é pouco, em relação ao meu peso e altura, para quem segue o meu blog isso já foi várias vezes explicado. Não explico isso em todos os posts pois não faria sentido. Mas agradeço o teu comentário, chega a um ponto em que realmente um comentário como o teu é necessário. É bom concordarem connosco mas é também bom quando alguém levanta algumas dúvidas, é sinal que lêem o que escrevemos com atenção.
Passando à explicação. Eu tive anorexia e bulimia nervosa ainda era uma criança, começou sensivelmente aos 11-12 anos e prolongou-se até aos 16 anos, nunca fui gorda, sempre fui verdadeiramente magra ao ponto de sentir vergonha de ser tão magra, mas com a entrada na adolescência tudo muda. Com 16 anos vi me livre dessas doenças e mesmo assim o meu peso sempre andou a volta dos tais 54kg-57kg (para 1,74)comendo normalmente (sempre adorei comer, sou a "comilona" da família e do grupo de amigos)o que fez tudo mudar? Durante o ano passado as doses do meu antipsicótico (quetiapina) foram alteradas várias vezes, e engordei pouco mais de 15 kg (cheguei quase aos 73kg) voltei à bulimia e isso fez me relembrar o pesadelo dos TA e por isso criei o blog.
Voltei à dose normal da quetiapina, ao falar com os meus psiquiatras sobre o que se passava e receitaram me outro medicamento para estabilizar o humor e normalizar o apetite e efeitos colaterais da quetiapina. Como tudo o que apetece, não faço dietas, mas controlo-me para não comer passar o dia a comer, é óbvio, porque por mim passava o dia a comer, mas isso não é saudável. Não faço exercício físico, porque tenho problemas de coração e até se descobrir a origem deles não é aconselhável esforço físico. Por esse motivo estou com 59kg, mas quando puder voltar a fazer exercícios diários ou nem preciso disso, basta começar o próximo semestre de aulas, vou ter dificuldade em não emagrecer.

Não sei até que ponto será bom ter esses dados no meu blog. Mas também não sei se será bom não ter. É um facto, de que se quero ajudar alguém, é mais fácil ajudar, quando sabemos que quem está a falar é alguém que já passou pelo mesmo e entende. As pessoas que me telefonam, e as pessoas que já ajudei a sair deste pesadelo, uma das coisas que sempre mencionam é "falo ctg porque tu sabes que ser magra é importante, e não queres que eu seja gorda" para elas essa simplicidade é importante. Como, por exemplo, muitas têm medo da nutricionista, até lhes explicares, que a esses médicos não servem para as engordar mas sim para as manter magras mas de forma saudável, isso é possível.

Outra coisa, mantenho esses dados porque são verdade, podem não fazer lógica, não sei... mas é importante para mim que o meu blog seja honesto.

Muito obrigada pelos comentários, são uma honra ter comentários de uma pessoa com um blog como o teu.
Parabéns continua o bom trabalho :)