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Feb 2, 2010

>> Serotonina e comportamentos

Transcrevemos abaixo parcialmente a entrevista feita por Isabel Stilwell a Zachary Mainen e publicada hoje 2 de fev 2010 no jornal Destak (pode ser lida na íntegra aqui). Quem é Zachary Mainen? É um investigador do Programa de Neurociência da Fundação Champalimaud no Instituto Gulbenkian de Ciência, obteve uma bolsa de 2,3 milhões de euros promovida pelo European Research Council, a maior bolsa europeia para investigação que recebeu 512 candidaturas. Para saber mais ver no Jornal i (aqui). O objectivo da investigação: dissecar o papel da serotonina (um neurotransmissor, o que permite a comunicação entre os neurónios) no controlo de comportamentos vitais como comer, dormir, ou respirar, e nas perturbações psiquiátricas associadas, como ansiedade, depressão, enxaqueca ou disfunções alimentares.”O que me chamou mais atenção na entrevista foi o reconhecimento do pouco que ainda se sabe sobre o assunto...
«Era muito mais fácil se a serotonina se medisse como o sal na sopa»
[...]
Como tomou a decisão de vir para Portugal?
Ah, isso foi um daqueles momentos estranhos que acontecem uma vez na vida. Ai não tive que tomar decisão nenhuma, aconteceu...
Ou seja não contribuiu para o seu estudo da decisão?
(risos) Pois não. Em 2004 conheci aquela que é agora a minha mulher, uma portuguesa.
(...)
E em que é que esta bolsa do European Research Council vem mudar a sua vida?
É uma bolsa para este projecto concreto, que pretende estudar como é que a serotonina funciona no cérebro, mas em que também foi avaliado o meu trabalho nos últimos dez anos, por isso fico duplamente contente. Além disso é a primeira vez que a UE apoia investigadores individuais em lugar de consórcios, o que acredito pode vir a ser uma forma de promoção da pesquisa europeia.
A opinião pública tem de encontrar um interesse concreto numa investigação, para que os políticos decidam dar verbas do seu orçamento à ciência - é este o circuito?
Sinceramente, gostava que não fosse. Sou um miúdo que cresceu num tempo em que só se falava no Espaço. Nasci uns anos antes de termos ido à Lua. E nessa altura a ideia de que conhecer o Espaço tinha implicações directas nas pessoas era um disparate. A Lua estava à vista, tínhamos que a explorar. Sempre a ciência como uma oportunidade de satisfazer a minha curiosidade. Se a sociedade se esquecer desse lado, do saber pelo saber, o jogo está perdido porque a ciência não pode ter uma utilidade óbvia. Se aquilo que descobre é depois utilizado para fins práticos, óptimo, mas não existe para isso.
(...)
E a sua curiosidade, neste momento, é o papel da serotonina. O que é?
É um químico, um neurotransmissor que permite a comunicação entre os neurónios no controlo de comportamentos que vão desde comer, a dormir, passando pela ansiedade ou depressão.
Mas como funciona?

(gargalhada) Se fizer uma pesquisa na internet aparecem-lhe centenas de milhares de referências. Se perguntar um cientista o que faz, como aconteceu agora, ele encolhe os ombros e responde que não sabe bem! É misteriosa. A maioria da informação que temos vem da farmacologia – sabe-se que os anti-depressivos, como o Prozac, estimulam de alguma forma a sua produção, e que a sua presença no cérebro provoca alterações de humor, por exemplo. Mas como? Isso não sabemos.
Quando uma pessoa deprimida vai ao médico, o médico diz «ah isso é a serotonina que está em baixo, vou receitar-lhe um anti-depressivo que vai fazer subir esse nível, e vai sentir-se melhor». E eu pergunto: como é que sabe que o nível de serotonina está baixo? Não pode fazer uma análise e comprovar se é mesmo isso o que se passa?
De facto era mais fácil se a serotonina fosse como o sal na sopa – tem de mais, tem de menos, aumenta-se, diminui-se. E tem razão, na medicina é isso que se faz, é medir o sal a olho. Mas na realidade é muito mais complicado – o que é importante para que tudo funcione como deve é que a serotonina esteja no sítio certo no momento certo. Medir o total não nos diz nada, e de facto um medicamento que age de forma global é ainda uma forma ainda primitiva de lidar com o problema. Só conta uma parte da história.
Dai a importância do seu trabalho - se conseguirmos perceber para que serve em cada momento podemos criar medicamentos ou tratamentos mais específicos, é isso?
Exactamente. Para isso temos que a observar cuidadosamente. Sabemos já que no cérebro, há neurónios específicos que a produzem. São poucos, menos de 1%. Quando disparam, espalham serotonina pelo cérebro. Agora estamos a usar ferramentas novas e poderosas (como genes que são introduzidos no rato através de um vírus), de forma a perceber melhor como tudo acontece.

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