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os 10 posts mais lidos (esta semana) seguidos dos posts mais recentes (26 Outubro 2016):

Aug 31, 2010

...[testemunho de recuperação] "o percurso é longo, duro e cansativo mas compensa!"

Transcrevo um testemunho com permissão da autora a quem agradeço a partilha.  Recomendo vivamente a leitura. Termina assim: "...ANOREXIA E A BULIMIA MATAM!
Muita força o percurso é longo, duro e cansativo mas compensa! "

"O meu nome e I, quando soube do livro publicado pela mãe Ana Granja quis comunicar lhe o meu testemunho por solidariedade, esperança e total compreensao.

Abreviando a minha história, eu era atleta federada e praticava ballet, sempre fui baixinha ao qual me orgulho pois chego a todo o lado e posso usar sempre saltos altos, mas a puberdade não perdoa, engordei bastante, e aos 14 anos o que seria uma dieta normal tornou se a minha destruição. Sofri de todos os males que já conhecem, anorexia, bulimia suas consequências, e os meus pais no desespero de me travarem levaram me aos melhores médicos deste país mas sem efeito, pois conseguia dissuadir tudo e todos e manipular mais uns quantos. Perdi 25 kg em 2 meses, não tinha a menstruçao, estava fraca, tomava medicação às escondidas e vomitava a toda a hora.

Partiram se muitos pratos naquela casa fugi do hospital, tive 3 psicólogas, 2 endocrinologistas, 3 nutricionistas, e médicos de clinica geral conto pelos dedos dos pés, isto para dizer que fui uma paciente dificil. e tinha fases e sabia, que ia morrer.

Até que um dia no limiar das minhas forças, tive ums sonho muito estranho com alguém que me e muito querido, o meu avô. Vi a minha vida toda a correr como um filme, disse me que não era altura de partir e que iria seguir a profissao da familia.

No dia a seguir inverti todo o processo e comecei a comer enormidades de comida, e também com ela vomitava imenso pelo sentimento de culpa. Mas o que é certo e que junto a isso e a um amigo que me visitava todas as noites para falar de coisas banais, foi agarrando-me à vida e tentando perceber o porque da mutilaçao constante. Eis que no primeiro ano de faculdade me surge a resposta, o problema não sou EU, nem a quantidade de comida que como ou deixo de comer, o problema é o CONROLE que queria fazer de tudo e comecei pelo meu corpo.

Em relaçao aos meus amigos, não perceberam durante algum tempo, só quando comecei a faltar as aulas e o que me disseram foi " nao acredito que uma pessoa como tu, tao forte estejas com essa coisa!" e fez clique. Aos que contei mais tarde toda a minha história respeitam me imenso NÃO temam represalias!

A relação com os meus pais foi muito complicada, acusei a minha mãe de muita coisa pois ca em casa tudo tinha a mania das dietas... a minha mãe ajudou me no processo de emagrecimento em casa, quando nao sabia que eu estava doente.hoje somos muito unidos e saudáveis!

A minha irmã mais nova e a minha melhor a amiga, e um grande motivo para não por termo ao meu sofrimento em épocas de crise.

Hoje tenho 20 anos, o meu avô tinha razao e estou a formar me para ser farmacêutica.

Como de tudo, um pouco, esse é o segredo.Mas tenho sequelas, uma gastrite crónica que nao me larga e algumas outras dores de cabeça. Continuo a ter manias! Os pais que nao se preocupem, antes manias que manhas. E agradeço a Deus por não ter morrido naquele dia, ainda quero ver o sporting ser campeão outra vez!

Deixo um último conselho para os pais e amigos que podera parecer estranho, se os vossos filhos/as, amigos/as estiverem quiserem vomitar, quiserem esconder comida, deixem. Adquiram a sua confiança, mostrem que os amam incondicionalmente que até os deixam fazer asneiras. porque o amor e a maior arma do mundo e essa foi a maior luta que travei a teimosia e a rendiçao.

Para os meus colegas de CF que ainda nao aprenderam a ANOREXIA E A BULIMIA MATA!

Muita força o percurso e longo, duro e cansativo mas compensa! "

foto flickr cc (aqui)

Aug 29, 2010

..."Tenho que perder peso para que alguém ...

...se sinta atraído por mim!". "Não posso engordar senão ele...".

Estes e outros pensamentos semelhantes não sei quantas vezes ocorrerão às jovens e mulheres  que sofrem de anorexia. Também não sei se pensamentos similares não desencadeiam a vontade de uma dieta drástica que se pode transformar com o tempo  numa doença grave ...Mas não sabendo cientificamente, tenho a intuição que serão frequentes.

Também por isso é que "eles" (amigos, namorados, pais, irmãos, maridos, professores, treinadores, colegas, etc.) são tão importantes no processo de recuperação.

Transcrevo um comentário recebido de um Anónimo em relação  a um post de há uns meses atrás:

"Se é permitido um comentário masculino (teremos decerto muitas culpas nestes processos que condicionam o padrão de beleza), a Crystal fica muito mais atraente e sensual com uns quilinhos a mais ..."

fotografia flickr cc aqui

Aug 27, 2010

... " Anorexia Nervosa na Adolescência: Estudo de Caso " (Almeida de Paiva, 2010)

A literatura sobre a anorexia nervosa abordando a situação portuguesa não é muito abundante. Temos dado notícia no esqueci a ana de alguns artigos e livros (vários na etiqueta Investigação). O artigo que abaixo transcrevemos baseia-se no estudo de um caso. Essa jovem, que ultrapassou o problema (TCA) frequenta actualmente o curso de Medicina na Faculdade de Medicina do Hospital de S. João no Porto. Recomendamos a leitura.

Mas antes queremos deixar também aqui as palavras dessa jovem no fim da entrevista à autora do artigo.

“(...) mas nem com todas as palavras do mundo eu demonstraria tudo aquilo que me vai na alma, os sentimentos que povoam o meu coração, os sonhos que alimentam a minha imaginação (...) tenho uma forte esperança num mundo perfeito, simples como uma flor, misterioso como uma nuvem e mágico como um romance, (...)”.

O artigo científico que pode ser lido integralmente e em português (aqui) analisa em detalhe o caso de uma jovem portuguesa, que procurou tratamento e hoje frequenta o curso de medicina na Faculdade de Medicina do Hospital de S. João, do Porto :

"Quanto ao estudo de caso analisado nesta investigação, poder-se-á dizer que a adolescente para desenvolver a AN necessitou de reunir um baixo autoconceito e alguma obsessividade. Duvidou do seu próprio valor e teve relações difíceis com aqueles que a rodeavam. Os pais, com tantos problemas para resolver, só tinham olhos para os bons resultados escolares e não reparavam como ela andava triste. Foi muito importante para a jovem adolescente sentir que o terapeuta não estava só preocupado com o seu aumento de peso. Hoje, é uma adolescente perfeccionista, com altos padrões de exigência pessoal e com grande sentido de responsabilidade. Encontrou um sentido para a sua vida e um lugar de pertença e de direito na família. Presentemente frequenta o curso de medicina na Faculdade de Medicina do Hospital de S. João, do Porto, Portugal." (Almeida de Paiva, 2010:17)

Fonte:
" Anorexia Nervosa na Adolescência: Estudo de Caso "
Almeida de Paiva, Maria O.[Centro de Investigação em Psicologia e Educação (CIPE), Porto, Portugal]
Revista Argentina de Ciencias del Comportamiento, 2010, Vol. 2, N°2, 4-17
Resumo do artigo:
"As perturbações do comportamento alimentar conduzem a estados biológicos e psicológicos especiais. O resultado da carência total do alimento é contemplado de forma distinta pela anoréctica. Os profissionais têm dificuldades em acordar acerca da terapia mais aceitável. É essencial primeiro perceber quais os objectivos do tratamento e, de seguida, saber como os diversos modelos de tratamento, actualmente usados, sugerem alcançá-los. A pessoa exposta a distúrbios do comportamento alimentar padece de demasiada sensibilidade ao mundo, unida a uma deformidade interna. Resolver estes problemas implica uma alteração das suas relações consigo, com os outros e com o mundo. A presente investigação apresenta um estudo de caso de uma adolescente que foi vítima de Anorexia Nervosa. A Anorexia é, realmente, um problema que a sociedade enfrenta e não pode ignorar. Muitas jovens já morreram, outras seguem-lhes os passos. Mas há, também, aquelas que conseguiram ultrapassar o problema e agora contam a sua história"

Fotografia: flickr cc (aqui)

Aug 25, 2010

...À Procura do Sonho (e expulsões)

O concurso/programa chama-se à Procura do Sonho e é inspirado no America's Next Top Model. A imagem acima foi retirada da página do programa da SIC.
A escolha do termo (expulsões) é infelizmente frequente neste tipo de concursos. Participam também menores de idade. No final serão seleccionados dois modelos. Ouvi alguns comentários do júri sobre estreitar ancas, ganhar músculo e similares. Não percebi ainda porque os rostos devem ser 'originais' e os corpos 'normalizados'. Porque são essencialmente esses os critérios de selecção (expulsão?). Ah,  dizem que são ainda necessários a 'atitude', a 'capacidade de assumir um personagem', a 'fotogenia', etc.
Perguntaram a uma concorrente se a magreza dela 'era natural' ao que  respondeu de imediato que 'não tinha nenhum distúrbio alimentar nem nada disso'. [pois é...porque ela espreita]
A relação entre moda e anorexia e bulimia já foi discutida várias vezes no blogue esqueci a ana. Com base na minha experiência pessoal posso afirmar que se pode chegar à anorexia ignorando completamente o que são os padrões de beleza impostos pela moda num dado tempo e espaço. Culpar a moda e os padrões por ela ditados pela doença é não ir às raizes últimas do problema, mas a preocupação com a imagem pode induzir alguns comportamentos doentios. Algumas doentes com anorexia procuram a sua 'inspiração' em modelos da moda mesmo quando a imagem que deles existe são fotografias tratadas digitalmente.
Afinal a beleza cabe em tantos formatos e tamnhos...

Aug 24, 2010

..."Eu era uma mãe em luta; agora sou uma mãe em luto..." (Ana Granja)



Acima video "Fragmentos de um percurso interrompido" (Ana Granja). O livro de Ana Granja, "Sem ti, Inês" expõe os sentimentos de uma mãe em luta contra a doença da filha (anorexia nervosa) e em luto (após o falecimento com 16 anos). É um livro corajoso e bem escrito. Gostaria muito que a minha mãe o tivesse lido quando eu estive doente. Teria certamento ajudado a um melhor entendimento da complexidade da doença. Porque não basta a informação científica.
Existem "falsas ideias e preconceitos que a maior parte das pessoas alimenta acerca desses males. Temos então de aprender a lidar com a ignorância e a incompreensão daqueles para quem a anorexia é um capricho, uma doença da moda que só atinge os fracos...Um alerta, que é também um testemunho carregado de emoção: o sofrimento de um adolescente anoréctico é real, profundo e genuíno!!! Sendo a fuga à dor e ao sofrimento uma motivação básica no ser humano, a anorexia não pode resultar de uma escolha voluntária, racional e consciente. E daí [...]" Ana Granja in "Sem ti, Inês", p.12.
"Nos primeiros tempos da doença, movida mais pela emoção do que pela razão, fiz tudo errado! Em conversa com outras mães percebi que é comum que assim seja. Ver a minha filha comer menos a cada dia que passava, perder peso a um ritmo assustador, apelou ao mais profundo instinto maternal: necessidade de (super) proteger, vigiar, controlar, pressionar, exigir. Assim, [...] Ana Granja in "Sem ti, Inês", p. 17
"As consequências da subnutrição notam-se na mente e no corpo a cada dia que passa. Para além dos efeitos só perceptíveis através de exames especializados, é notório que se tornam mais lentos e apáticos, têm dificuldade em adormecer e acordam muito cedo, a pele torna-se seca e enrugada, a temperatura do corpo baixa considerávelmente, o que os torna mais sensíveis ao frio, e o cabelo cai a um ritmo assustador. Só eu sei o que me custava secar o cabelo à minha filha e perceber que o seu cabelo forte e bonito era agora uma mera recordação." Ana Granja, in "Sem ti, Inês", p.23
"Infelizmente, perdi a luta contra uma doença devastadora que ameaça tornar-se uma epidemia do século. Quando me lembro de que a anorexia afecta cerca de um por cento dos jovens e que, desses, morrem cerca de 20 por cento (na perspectiva mais pessimista), não posso deixar de pensar que a minha filha foi sorteada duplamente numa lotaria fatal" Ana Granja in "Sem ti, Inês"
"Se algum dia a minha mãe soubesse o quanto sofro ao vê-la assim, sabendo que é por minha causa...Não gosto de ver as pessoas que mais amo sofrerem por mim. Gostava de poder dizer: não se preocupem, eu estou bem, mas eu sei que não estou. É tão difícil não me sentir capaz de cuidar de mim, sabendo que estou doente!" Inês Granja da Silva (1992-2008) , in "Sem ti, Inês" de Ana Granja.

Aug 23, 2010

..."Sem Ti, Inês" (livro de Ana Granja)

Tinhamos chamado a atenção neste blogue em Novembro de 2009 para o testemunho de Ana Granja (aqui) publicado originalmente na página da AFAAB. Ficámos a saber h hoje da publicação do livro abaixo referido que iremos ler.
Notícia publicada no diário digital (aqui): O lançamento do livro «Sem ti, Inês», de Ana Granja, editado pela Caderno, realizou-se no passado dia 18 de Março, nos Serões da Bonjóia, Porto.
«Sem ti, Inês», de Ana Granja

«Da Inês restam hoje as memórias, que a passagem dos dias cruelmente apaga e transforma. Restam também imagens, e é nelas que fixamos o olhar: um rosto fotografado em contraluz, a preto e branco, um Sol desmaiado a espreitar ao fundo.
A Inês da imagem é uma adolescente, sorriso meigo, olhos tristes. Não chegará a completar 16 anos. Em seis meses apenas – desde o dia em que lhe diagnosticam a anorexia até ao dia da sua morte – desaparece aquele sorriso. No seu lugar fica o vazio, uma família em luto, um pai, uma irmã e a mãe, Ana, a tentar reconstruir o puzzle do resto da sua vida, um puzzle onde agora faltam peças, onde há peças novas que teimam em não encaixar.
«Sem ti, Inês» é o diário de uma mãe em luto. É a narrativa real de uma mãe a agarrar-se à escrita, à Filosofia, a poemas e canções, a tudo o que foi escrito e dito e feito, a qualquer coisa que a ajude a enfrentar a dor, a sobreviver à mágoa de ser, hoje e sempre, Mãe de uma filha que já morreu»

Aug 19, 2010

..."Brave Girl Eating" (livro sobre a luta de uma família com/contra a anorexia)


O livro Brave Girl Eating, sobre a luta de uma família contra a anorexia vai ser publicado no próximo dia 24 nos Estados Unidos. Da página da autora Harriet Brown transcrevo a breve apresentação:

"Esta é a história de como a minha filha mais velha Kitty se tornou anoréctica e quase morreu, e como o meu marido, a minha filha mais nova e eu a ajudámos na cura.  Esta história não é sobre uma família disfuncional, o abuso sexual ou uma pobre menina rica sedenta de atenção. Não é uma estória para alertar para os modelos esqueléticos do mundo da moda e para os media.  É uma história sobre uma adolescente comum que caiu no buraco da anorexia - por acidente, como sempre acontece - e sobre a sua escalada para a saúde e a esperança, escalada lenta, penosa, extraordinariamente corajosa, momento a momento, passo a passo, um pouco de cada vez"  (Harriet Brown )

O programa Good Morning America desmarcou uma entrevista que já tinha agendada com a autora depois desta se recusar a que fossem exibidas fotografias da filha quando doente. Uma discussão sobre este tipo de comportamento por parte dos meios de comunicação norte americanos pode ser lida aqui. A anorexia é uma doença mental, os meios de comunicação em geral exploram as imagens chocantes da magreza. Mas a magreza é apenas um sintoma.
Alguns comentários ao livro Brave Girl Eating na página da Amazon (aqui)

Aug 17, 2010

...Sucesso na luta contra a anorexia no masculino (testemunho de jovem português)



Neste blogue esqueciaana algumas vezes temos referido a anorexia no masculino (alguns posts aqui) Reproduzo abaixo o testemunho de um jovem português de 16 anos e com autorização do autor [ "Estou contente por entrar em contacto consigo!Sim , dou-lhe autorização para colocar o meu testemunho no seu blog"] um testemunho deixado originalmente há dias na página da AFAAB. Parabéns Daniel pelos resultados na luta contra a doença e obrigada pelo testemunho.

"Olá caros senhores e caras senhoras.
O meu nome é Daniel, tenho 16 anos, fui diagnosticado como doente de anorexia nervosa e vou-vos contar o meu testemunho.
Tudo começou quando entrei na adolescência, na minha nova escola (10º 11º 12º) e a qual a frequento nos presentes dias, enfim...foi tudo muito repentino para mim.
Esta doença apareceu na pior fase da minha vida, como falei há pouco, a adolescência, onde o nosso corpo muda, o tom de voz muda, e o nosso psicológico também muda, pensamos nós que nós é que sabemos e que o que os outros dizem é para nosso mal...enfim, ainda passo por isso, mas vai passar ;) .
Eu já fui gordinho quando era pequenino, os meus pais deixava-me comer de tudo, era bolas de berlim á sobremesa, bolos de chocolate, bolicao, chipicaos, batatas fritas, enfim...nunca me negavam nada, sabendo eles que eu era gordinho.
Fiquei com um trauma desde ai, via-me ao espelho e via-me gordo, e na realidade as pessoas dizia-me que era magro, não queria voltar a ter a mesma imagem de quando era pequenino.
Foi então que no ano passado, desmaiei, isto derivado à falta de apetite, sim!! falta de apetite, o meu psíquico alimentou este trauma e deixei-me levar ...até que quando desmaiei, examinara-me e pesaram-me, dizendo que possuia 42 quilos.
Foi um grande choque para mim e para os meus familiares e amigos!!!
Começei a ser tratado no Hospital de Sao João, pelo Dr. Roma Torres, á qual me ajudou, nem fez um ano, os médicos e nutricionistas dizem que o meu caso, é um caso de sucesso, agora que estou melhor resta-me procurar manter o peso, e continuar o plano alimentar que me conduziram até aqui.
Lembrem-se , e isto é verdade...sem saúde nada se faz, e eu sou testemunho disso.
Se alguma pessoa quiser saber mais domeu testemunho, publique algo ou contacte por mail: d.f.p.s.g46@hotmail.com
Estou aqui para dar o meu testemunho e ajuda a pais, amigos e familiares de pessoas com anorexia e bulimia." (Daniel)

Aug 15, 2010

..."excelente desempenho" (apesar de muito doente)


Transcrevo do blogue ED Bites um extracto de um post recente baseado na experiência desta investigadora que é também uma doente em recuperação. Aborda a questão da 'funcionalidade' dos doentes com anorexia, ou seja, apesar de estarem muito doentes, alguns desenvolvem diversas actividades (académicas ou profissionais) com níveis de performance excelentes, ou seja, aparentemente está 'tudo normal' uma aparência bem diversa da que frequentemente se associa a esta e outra doenças mentais.  Nas palavras de Carrie (tradução livre do inglês da autora de esqueciaana)

«Já me referi a mim própria como 'uma anorectica com elevado desempenho' porque, de facto apesar da minha doença do comportamento alimentar eu tive a maior parte das vezes  um desempenho muito bom. Terminei uma licenciatura, completei mestrados, fui de facto geralmente 'funcional'. Com excepção de de um tratamento de sete meses e várias breves e graves hospitalizações, nos últimos oito anos vivi como uma pessoa "normal".
Estão a ver? afinal o meu distúrbio alimentar não é assim tão grave!
O problema não foi apenas que impus essa ideia falsa aos meus amigos, família e terapeuta ( Estou bem! Não estou doente!) , eu também comecei a acreditar na minha própria mentira. E, se não estava doente, porque teria que me preocupar em melhorar?  Tinha um emprego a tempo inteiro, estava a estudar, estava bem,  RAIOS!
O problema é que 'o bom desempenho' é um pouco um mito. O nosso desempenho nem sempre é uma medida da severidade da doença, por vezes é a medida da forma como se esconde como as coisas estão realmente mal. O meu coração estava afectado, a minha digestão era inexistente, o meu corpo estava fraco, e sim eu continuava a manter a minha média de A [nota máxima]no college.  Vários professores não perceberam porque abandonei os estudos 'estando a ir tão bem!'
Muitas vezes, quando o distúrbio alimentar, a ansiedade e a depressão se tornavam visíveis, não era porque eu tinha piorado. Pelo contrário, as coisas começavam a apresentar-se piores porque perdia a minha capacidade de compensar/encobrir a minha doença.  Construi cuidadosamente a minha vida em torno da minha desordem alimentar de forma a poder protestar com um olhar inocente e dizer que estava tudo bem quando me perguntavem. Sim, eu não tinha vida para além do meu trabalho, do ginásio e dos contadores de calorias, mas eu ia trabalhar todos os dias. Ninguém sabia o meu pequeno e ruim segredo que fechei a sete chaves algures, ninguém sabia que eu caminhava perigosamente para a morte"
(ler o texto original aqui, blogue ED-Bites)
Fotografia flickr cc aqui

Aug 1, 2010

Foi recentemento publicado um artigo na Revista Brasileira de Psiquiatria sobre o tratamento familiar para a anorexia nervosa baseado numa amostra de 11 famílias. Existem outros estudos sobre estes tipos de tratamento assentes na realidade inglesa ou norte americana, como referimos antes no esqueci a ana (aqui).
Para ler o texto integral do artigo cujo resumo abaixo se reproduz, clique aqui (versão em inglês e pdf).

TURKIEWICZ, Gizela; PINZON, Vanessa; LOCK, James e FLEITLICH-BILYK, Bacy (2010). Viabilidade, aceitação e eficácia do tratamento familiar para anorexia nervosa em adolescentes: um estudo observacional no Brasil. Rev. Bras. Psiquiatr. [online]. vol.32, n.2, pp. 169-172.
Resumo

OBJETIVO: Estudos prévios demonstram fortes evidências de eficácia do Tratamento Familiar para anorexia nervosa em adolescentes. Os estudos disponíveis a respeito do tratamento familiar foram conduzidos em países de língua inglesa. É necessário avaliar a aplicabilidade deste método em países de língua não-inglesa. Este estudo piloto tem como objetivo avaliar a viabilidade, a aceitação e a eficácia do tratamento familiar no Brasil.
MÉTODO: Estudo observacional de adolescentes com diagnóstico anorexia nervosa (exceto critério amenorréia) segundo o Levantamento sobre Diagnóstico e Bem-Estar de crianças e adolescentes encaminhadas para tratamento em um centro especializado na cidade de São Paulo, Brasil. Dados coletados no início do estudo, ao final do tratamento e seis meses após o término: peso, estatura, índice de massa corporal, menstruações, Questionário de Exame para Transtornos Alimentares e Escala de Funcionamento Global para Crianças.
RESULTADOS: Nove de 11 famílias elegíveis entraram no estudo (82%) e sete (78%) completaram o tratamento. A idade média foi 14,64 anos (DP = 1,63; 12,33-17,00). Teste dos sinais de Wilcoxon demonstrou melhora estatisticamente significativa no peso e índice de massa corporal ao final do tratamento e seis meses após o término. Nenhum dos pacientes preencheu critérios diagnósticos para qualquer transtorno alimentar no seguimento.
CONCLUSÃO: Os resultados sugerem que tratamento familiar é aceitável e viável para as famílias brasileiras. A evolução sugere que este método pode ser eficaz nesse contexto cultural com resultados positivos semelhantes a estudos prévios realizados em outras culturas.
Palavras-chave : Anorexia nervosa; Terapia familiar; Adolescentes; Prática médica baseada em evidências; Resultado de tratamento.
Imagem flickr © All rights reserved; "tanakawho" aqui