Acima video "Fragmentos de um percurso interrompido" (Ana Granja). O livro de Ana Granja, "Sem ti, Inês" expõe os sentimentos de uma mãe em luta contra a doença da filha (anorexia nervosa) e em luto (após o falecimento com 16 anos). É um livro corajoso e bem escrito. Gostaria muito que a minha mãe o tivesse lido quando eu estive doente. Teria certamento ajudado a um melhor entendimento da complexidade da doença. Porque não basta a informação científica.
Existem "falsas ideias e preconceitos que a maior parte das pessoas alimenta acerca desses males. Temos então de aprender a lidar com a ignorância e a incompreensão daqueles para quem a anorexia é um capricho, uma doença da moda que só atinge os fracos...Um alerta, que é também um testemunho carregado de emoção: o sofrimento de um adolescente anoréctico é real, profundo e genuíno!!! Sendo a fuga à dor e ao sofrimento uma motivação básica no ser humano, a anorexia não pode resultar de uma escolha voluntária, racional e consciente. E daí [...]" Ana Granja in "Sem ti, Inês", p.12.
"Nos primeiros tempos da doença, movida mais pela emoção do que pela razão, fiz tudo errado! Em conversa com outras mães percebi que é comum que assim seja. Ver a minha filha comer menos a cada dia que passava, perder peso a um ritmo assustador, apelou ao mais profundo instinto maternal: necessidade de (super) proteger, vigiar, controlar, pressionar, exigir. Assim, [...] Ana Granja in "Sem ti, Inês", p. 17
"As consequências da subnutrição notam-se na mente e no corpo a cada dia que passa. Para além dos efeitos só perceptíveis através de exames especializados, é notório que se tornam mais lentos e apáticos, têm dificuldade em adormecer e acordam muito cedo, a pele torna-se seca e enrugada, a temperatura do corpo baixa considerávelmente, o que os torna mais sensíveis ao frio, e o cabelo cai a um ritmo assustador. Só eu sei o que me custava secar o cabelo à minha filha e perceber que o seu cabelo forte e bonito era agora uma mera recordação." Ana Granja, in "Sem ti, Inês", p.23
"Infelizmente, perdi a luta contra uma doença devastadora que ameaça tornar-se uma epidemia do século. Quando me lembro de que a anorexia afecta cerca de um por cento dos jovens e que, desses, morrem cerca de 20 por cento (na perspectiva mais pessimista), não posso deixar de pensar que a minha filha foi sorteada duplamente numa lotaria fatal" Ana Granja in "Sem ti, Inês"
"Se algum dia a minha mãe soubesse o quanto sofro ao vê-la assim, sabendo que é por minha causa...Não gosto de ver as pessoas que mais amo sofrerem por mim. Gostava de poder dizer: não se preocupem, eu estou bem, mas eu sei que não estou. É tão difícil não me sentir capaz de cuidar de mim, sabendo que estou doente!" Inês Granja da Silva (1992-2008) , in "Sem ti, Inês" de Ana Granja.
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