(Posta actualizado em 19 de Janeiro 2012: no Programa da SIC Boa Tarde, a Conceição Lino entrevistou uma mãe que publicou um livro sobre um filho adolescente que se auto-mutilava ('dor física para esquecer dor de alma').
O Público dá hoje notícia num texto assinado por Catarina Gomes sobre os resultados obtidos para Portugal de um estudo que será brevemente divulgado e que é promovido pela organização Mundial da Saúde. Já antes notícámos um estudo similar (aqui)
"Estudo com 5050 adolescentes portugueses, com uma média de 14 anos, mostra que consumo de tabaco e do álcool está a descer e o de haxixe a aumentar.
É um fenómeno que tem sido detectado noutros países: há adolescentes que se magoam a si próprios com pequenos cortes, pequenas queimaduras. No estudo sobre adolescentes portugueses que hoje é apresentado em Lisboa fez-se a pergunta pela primeira vez e a resposta deixou a coordenadora do estudo "assustada": 15,6 por cento referem "ter-se magoado de propósito nos últimos 12 meses, mais do que uma vez" (este comportamento é conhecido como auto-mutilação). Em idas a congressos internacionais onde se falava destes comportamentos, Margarida Gaspar de Matos, a coordenadora do estudo português que é feito no âmbito da Organização Mundial de Saúde e em que participam mais 43 países, sempre achou que a realidade não afectaria Portugal da mesma forma. Mas, como sabia que era "um fenómeno geracional" em vários países, decidiu incluir perguntas sobre o tema no estudo dos comportamentos dos jovens em idade escolar, realizado no ano passado, e que já tinha sido feito em 1998, 2002 e 2006. Os resultados, admite, surpreenderam-na. São 15,6 por cento os adolescentes dos 6.º, 8.º e 10.º anos de escolaridade, com uma média de idades de 14 anos, que referem ter-se magoado de propósito nos últimos meses. Cerca de metade (52,9 por cento) disse tê-lo feito nos braços, 24,7 por cento nas pernas, 16,7 na barriga e 22,5 por cento noutros locais do corpo. A amostra é representativa desta população: foram inquiridos 5050 jovens.
"Magoam-se normalmente em sítios não visíveis", explica Margarida Gaspar de Matos, que dirige a equipa de investigadores da Faculdade de Motricidade Humana e Centro de Malária e Doenças Tropicais, em Lisboa. Trata-se de agressões autodirigidas que servem "como forma de auto-regulação emocional", sintoma "da dificuldade em gerir emoções". "São adolescentes que não conseguem lidar de outra forma com o facto de estarem tristes, irritados, desesperados", continua. Tentando compreender quem são estes miúdos, a equipa de investigadores constatou que os que fazem mal a si próprios são "uma minoria preocupante com vários comportamentos de risco": são quem mais fuma, bebe, consome drogas (nomeadamente cannabis), têm maior envolvimento em provocações, maior dificuldade em fazer amigos. Estes jovens ou acham-se muito gordos ou muito magros, sem que isto corresponda a um índice de massa corporal real. São ainda os que mais têm pais que pouco ou nada sabem sobre os seus amigos, o seu tempo livre e para onde saem à noite. Por fim, "são os que mais frequentemente dizem estar tristes e não aguentar...".Para a investigadora, "este é um comportamento que possivelmente tem vindo a aumentar sem que ninguém se tivesse apercebido". "Temos que estar atentos", diz, para ressalvar que, em países como Estados Unidos, Canadá e Finlândia, as prevalências andam entre os dez e os 15 por cento, não muito longe de Portugal.
O estudo, financiado pelo Alto Comissariado da Saúde e pela Coordenação Nacional para o VIH/Sida, defende que é preciso arranjar estratégias para ajudar estes jovens "a auto-regular-se do ponto de vista emocional sem recurso a "extras", quer virados para fora, como a violência, o consumo de substâncias, quer virados para dentro, como o magoar-se a si próprio, isolar-se, comer em demasia".Mas há várias boas notícias no estudo, sublinha Margarida Gaspar de Matos. Uma nota positiva é que se vem assistindo a um aumento crescente da escolaridade dos pais (que se situa no 2.º e 3.º ciclos) e outra é que "todos os miúdos têm computador e metade tem acesso à Internet em casa", o que coloca Portugal a par dos países europeus mais avançados nesta área.
O reverso da medalha deste último aspecto é o aumento do tempo pas- sado em frente ao ecrã - quer do com- putador, quer da televisão - e o conse_ quente sedentarismo e aumento de peso por falta de actividade física. Fazendo eco de muitos outros estudos que têm feito soar o alarme da obesi- dade infantil, os dados agora reco- lhidos confirmam a tendência: 18,8 por cento sofrem de excesso de peso ou obesidade. O consumo de tabaco e álcool continua a descer, mas o consumo de haxixe apresenta uma tendência de aumento, o que faz a coordenadora temer pelo "desinvestimento nas políticas de prevenção desta área".
E há dois dados que persistem nos vários estudos e em que Portugal tem dos piores indicadores da Europa: os jovens nacionais são dos que mais dizem sofrer de stress relacionado com os trabalhos de casa e são dos alunos que acham que os professores menos os acham capazes.
Muitos assistem a lutas no recreio e não fazem nada
Mais de metade dos adolescentes portugueses (59,4 por cento) referiram ter assistido a situações de provocação na escola, das quais cerca de metade ocorreu no recreio. Dos que dizem ter presenciado, cerca de dois terços referem não ter feito nada e terem-se afastado, 54,8 por cento não fizeram nada e ficaram a ver e houve mesmo 10,7 por cento que incentivaram o provocador. Para a coordenadora do estudo, esta "é uma forma de violência pela passividade, os que assistem e não fazem nada ou até incentivam". "São - resume - os espectadores". Também a Internet pode ocasionar novas formas de violência (ciberbullying), mas a grande maioria (84,1 por cento) não se envolveu neste tipo de provocações. Nos que o fizeram, o Messenger foi o meio mais usado, seguido das mensagens de telemóvel. Entre os que se viram envolvidos nestas situações, a grande maioria conseguiu ultrapassar o problema."
É um fenómeno que tem sido detectado noutros países: há adolescentes que se magoam a si próprios com pequenos cortes, pequenas queimaduras. No estudo sobre adolescentes portugueses que hoje é apresentado em Lisboa fez-se a pergunta pela primeira vez e a resposta deixou a coordenadora do estudo "assustada": 15,6 por cento referem "ter-se magoado de propósito nos últimos 12 meses, mais do que uma vez" (este comportamento é conhecido como auto-mutilação). Em idas a congressos internacionais onde se falava destes comportamentos, Margarida Gaspar de Matos, a coordenadora do estudo português que é feito no âmbito da Organização Mundial de Saúde e em que participam mais 43 países, sempre achou que a realidade não afectaria Portugal da mesma forma. Mas, como sabia que era "um fenómeno geracional" em vários países, decidiu incluir perguntas sobre o tema no estudo dos comportamentos dos jovens em idade escolar, realizado no ano passado, e que já tinha sido feito em 1998, 2002 e 2006. Os resultados, admite, surpreenderam-na. São 15,6 por cento os adolescentes dos 6.º, 8.º e 10.º anos de escolaridade, com uma média de idades de 14 anos, que referem ter-se magoado de propósito nos últimos meses. Cerca de metade (52,9 por cento) disse tê-lo feito nos braços, 24,7 por cento nas pernas, 16,7 na barriga e 22,5 por cento noutros locais do corpo. A amostra é representativa desta população: foram inquiridos 5050 jovens.
"Magoam-se normalmente em sítios não visíveis", explica Margarida Gaspar de Matos, que dirige a equipa de investigadores da Faculdade de Motricidade Humana e Centro de Malária e Doenças Tropicais, em Lisboa. Trata-se de agressões autodirigidas que servem "como forma de auto-regulação emocional", sintoma "da dificuldade em gerir emoções". "São adolescentes que não conseguem lidar de outra forma com o facto de estarem tristes, irritados, desesperados", continua. Tentando compreender quem são estes miúdos, a equipa de investigadores constatou que os que fazem mal a si próprios são "uma minoria preocupante com vários comportamentos de risco": são quem mais fuma, bebe, consome drogas (nomeadamente cannabis), têm maior envolvimento em provocações, maior dificuldade em fazer amigos. Estes jovens ou acham-se muito gordos ou muito magros, sem que isto corresponda a um índice de massa corporal real. São ainda os que mais têm pais que pouco ou nada sabem sobre os seus amigos, o seu tempo livre e para onde saem à noite. Por fim, "são os que mais frequentemente dizem estar tristes e não aguentar...".Para a investigadora, "este é um comportamento que possivelmente tem vindo a aumentar sem que ninguém se tivesse apercebido". "Temos que estar atentos", diz, para ressalvar que, em países como Estados Unidos, Canadá e Finlândia, as prevalências andam entre os dez e os 15 por cento, não muito longe de Portugal.
O estudo, financiado pelo Alto Comissariado da Saúde e pela Coordenação Nacional para o VIH/Sida, defende que é preciso arranjar estratégias para ajudar estes jovens "a auto-regular-se do ponto de vista emocional sem recurso a "extras", quer virados para fora, como a violência, o consumo de substâncias, quer virados para dentro, como o magoar-se a si próprio, isolar-se, comer em demasia".Mas há várias boas notícias no estudo, sublinha Margarida Gaspar de Matos. Uma nota positiva é que se vem assistindo a um aumento crescente da escolaridade dos pais (que se situa no 2.º e 3.º ciclos) e outra é que "todos os miúdos têm computador e metade tem acesso à Internet em casa", o que coloca Portugal a par dos países europeus mais avançados nesta área.
O reverso da medalha deste último aspecto é o aumento do tempo pas- sado em frente ao ecrã - quer do com- putador, quer da televisão - e o conse_ quente sedentarismo e aumento de peso por falta de actividade física. Fazendo eco de muitos outros estudos que têm feito soar o alarme da obesi- dade infantil, os dados agora reco- lhidos confirmam a tendência: 18,8 por cento sofrem de excesso de peso ou obesidade. O consumo de tabaco e álcool continua a descer, mas o consumo de haxixe apresenta uma tendência de aumento, o que faz a coordenadora temer pelo "desinvestimento nas políticas de prevenção desta área".
E há dois dados que persistem nos vários estudos e em que Portugal tem dos piores indicadores da Europa: os jovens nacionais são dos que mais dizem sofrer de stress relacionado com os trabalhos de casa e são dos alunos que acham que os professores menos os acham capazes.
Muitos assistem a lutas no recreio e não fazem nada
Mais de metade dos adolescentes portugueses (59,4 por cento) referiram ter assistido a situações de provocação na escola, das quais cerca de metade ocorreu no recreio. Dos que dizem ter presenciado, cerca de dois terços referem não ter feito nada e terem-se afastado, 54,8 por cento não fizeram nada e ficaram a ver e houve mesmo 10,7 por cento que incentivaram o provocador. Para a coordenadora do estudo, esta "é uma forma de violência pela passividade, os que assistem e não fazem nada ou até incentivam". "São - resume - os espectadores". Também a Internet pode ocasionar novas formas de violência (ciberbullying), mas a grande maioria (84,1 por cento) não se envolveu neste tipo de provocações. Nos que o fizeram, o Messenger foi o meio mais usado, seguido das mensagens de telemóvel. Entre os que se viram envolvidos nestas situações, a grande maioria conseguiu ultrapassar o problema."
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