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Sep 14, 2009

>> "Nunca me faltou nada..." Testemunho de Joana L.


Transcrevo abaixo parcialmente o testemunho de Joana L que relata agora com 19 anos (e sentindo-se bem melhor) um processo de anorexia que começou há 5 anos. Cada caso é um caso. Este relato impressiona -me pela descrição da coragem necessária para começar e continuar o tratamento. O testemunho não tem data. Gostaria de saber como está a Joana L. Acredito que também ela já esqueceu a ana.[os bolds são meus] Ler todo o testemunho da Joana aqui

Joana L. - Lisboa - 19 ANOS :
"Continuo sem saber como aconteceu. Um dia acordei e tinha em mim uma nova pessoa, uma força que me controlava até ao mais ínfimo desejo. Agora, mais afastada de todo aquele mundo de rituais, regras e prisões, consigo, ainda com alguma dificuldade, determinar um possível início da anorexia sem o situar precisamente.
Tinha 14 anos, frequentava o 9º ano e era-me impossível compreender o não se gostar do próprio corpo. Nunca me faltou nada: uma família sempre disponível, pais liberais, ballet, idas ao campo durante o fim-de-semana, enfim, não havia razão de queixa. Mas lá bem no fundo falhava qualquer coisa. Iniciei uma luta cega e depurei-me num combate contra mim mesma.
Perdi peso. E quanto mais quilos perdia mais vontade tinha de continuar. Estava agora no 10º ano e não tinha condições para frequentar o 3º período. Vegetava na cama. Corri vários médicos e nenhum deles quis ver o que eu também não lhes queria mostrar. [...]

[...]
Foi então que por segundos tive lucidez suficiente para pedir ajuda: falei com uma professora. Nem sequer a conhecia bem mas achei que era com ela que conseguia falar. Levou-me de imediato ao NDCA no Hospital de Sta. Maria. Durante o tratamento vivi períodos terríveis e outros melhores. As vésperas e os dias de consultas eram um pesadelo.
[...]
Mas o pior de tudo é confrontar-me com o Serviço de Medicina Interna, onde decorrem as consultas. Assim que vejo o hospital tenho vontade de fugir mas consigo enfrentar a fera. Depois de passar os portões demoro uma infinidade de tempo até entrar no edifício, é uma autêntica maratona , são quilómetros de medo.
[...]
Cheguei ao corredor decisivo. Ainda tenho que andar muito... Examino tudo e todos de alto a baixo. Os bancos de madeira insistem em ser decoração e ainda por cima atrapalham. É um corredor difícil de atravessar. Avanço sem sentir os passos. Nas paredes embrulham-se janelas que mostram um pátio interior gigante em obras. É assim que me sinto, como o pátio. Nunca lá estive, não o conheço mas tenho a sensação de já lá ter estado. É como se fosse feita de quatro paredes hercúleas, repleta de pequenas janelas e cada janela guardasse sorrisos, alegrias, tristezas, músicas, palavras, pessoas, recordações. Alguma coisa me chamou a atenção e não sei o que é. Já consegui atravessar metade do corredor.
[...]
Tenho 19 anos e sinto-me bem melhor. Tenho encontrado coisas novas. Só preciso de continuar a lutar."

Ler todo o testemunho
aqui

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