cada Sorriso um Recomeço
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(…) as pessoas geralmente têm ideias erradas sobre as doenças do comportamento alimentar e pensam que sabem o que são essas doença...
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Dec 24, 2009
Dec 23, 2009
>> Internet, Anorexia e Bulimia (II)
Navegar na Net para adoecer? Como referimos no post anterior, foi realizado há cerca de 3 anos um estudo por investigadores da universidade norte americana Stanford University School of Medicine em colaboração com o Lucile Packard Children's Hospital sobre a influência da Internet sobre a anorexia e a bulimia nos jovens. Um artigo sobre esse estudo pode ser encontrado (aqui nos documentos deste blogue) e também na revista Pediatrics da American Academy of Pediatrics' e dele daremos conta mais detalhada em próximo post.
Resumo desse artigo baseado em inquérito aos doentes e aos pais :
"OBJETIVO. O investigação tem por objective estudar os as páginas da internet pró doenças do comportamento alimentar ( Pro-eating disorder sites) que são geralmente comunidades virtuais de indivíduos que sofrem de transtornos alimentares, descrevem os seus comportamentos e incentivam-se mutuamente a prossegui-los e as páginas pró recuperação (Pro-recovery sites) que são em menor número que as primeiras [nota : verdade no caso dos sites em língua inglesa mas também verdade em Portugal, Brasil e Espanha ] que possuem uma perspectiva orientada para a recuperação. Este estudo piloto investigou o conhecimento e a utilização das páginas da Internet entre os adolescentes com doenças de comportamento alimentar DCA (anorexia nervosa e bulimia) e também os respectivos pais, explorando as associações com o estado de saúde e a qualidade de vida.
AMOSTRA E MÉTODOS. Estudo realizado a 698 famílias de doentes (com idades entre os 10-22 anos) com diagnóstico de um transtorno alimentar, em Stanford (Estados Unidos) entre 1997 e 2004. Foram enviados pelo correio e anonimamente inquéritos e também foram distribuídos no hospital. As perguntas do questionário eram sobre: a gravidade da doença, o estado de saúde, o uso dos sites e o conhecimento pelos pais da utilização desses sites.
AMOSTRA E MÉTODOS. Estudo realizado a 698 famílias de doentes (com idades entre os 10-22 anos) com diagnóstico de um transtorno alimentar, em Stanford (Estados Unidos) entre 1997 e 2004. Foram enviados pelo correio e anonimamente inquéritos e também foram distribuídos no hospital. As perguntas do questionário eram sobre: a gravidade da doença, o estado de saúde, o uso dos sites e o conhecimento pelos pais da utilização desses sites.
RESULTADOS. O questionário doentes e pais: Inquéritos foram devolvidos por 182 indivíduos: 76 pacientes e 106 pais.
Os pais: Cerca de metade dos pais (52,8%) tinham conhecimento dos sites pró-doenças do comportamento alimentar (pró-DCA), os restantes não sabiam se os seus filhos visitaram estes sites, e apenas 27,6% os tinham discutido com os filhos. A maioria dos pais (62,5%), porém, não tinha conhecimento de sites pró-recuperação.
Os jovens doentes: 41% dos doentes tinham visitado sites pró-recuperação, 35,5% tinham visitado sites pró-DCA, 25,0% visitaram ambos os tipos de site. Cerca de 48,7% declararam não ter visitado nenhum. Quase todos (96%) declararam ter aprendido técnicas de perder peso[doentiamente acrescentamos] ou vómito (purgação) ao visitar os sites pró-DCA. No entanto, quase metade (46,4%) dos visitantes do site pró-recuperação também declararam ter aprendido novas técnicas [nota de ex-ana: este é um resultado não completamente surpreendente, uma vez que os sites pro recuperação também descrevem os comportamentos dos doentes nomeadamente na informação aos pais e educadores]. Comparando os utilizadores e os não utilizadores dos sites pró-DCA verificou-se que não eram substancialmente muito diferentes quanto ao estado de saúde. Contudo, o grupo dos visitantes dos sites pró-DCA relatou gastar menos tempo na escola ou no trabalho escolar e a duração da doença ser mais longa. Os utilizadores dos sites pró-DCA e dos sites pró-recuperação tiveram mais internamento do que os que declararam não visitar nenhum site. [nota de ex-ana: deduzir destes resultados uma situação de cause efeito não é feito, nem poderia sê-lo pelos investigadores]
CONCLUSÕES. A visita às páginas pró-DCA foi prevalente nos adolescentes com doenças do comportamento alimentar, mas os pais tinham pouco conhecimento desse facto. Apesar do uso desses sites não poder ser associado ao estado de saúde, esse uso pode ter um impacto negativo na qualidade de vida e resulta em aprendizagens de comportamentos alimentares doentios negativos por parte dos adolescentes.
Fonte do texto que pode ser lido na integra (em inglês) (aqui no mini arquivo deste blogue) título original do artigo: Surfing for Thinness: A Pilot Study of Pro–Eating Disorder Web Site Usage in Adolescents With Eating Disorders [Navegando na Net para emagrecer : um estudo Piloto da utilização pelos doentes de comportamento alimentar (DCA) de sites pro-DCA] Autores: Jenny L. Wilson, BAa, Rebecka Peebles, MDa, Kristina K. Hardy, PhDb, Iris F. Litt, MDa,c aDivision of Adolescent Medicine, Department of Pediatrics, Stanford University School of Medicine, Mountain View, California; bDepartment of Psychiatry, Duke University Medical Center, Durham, North Carolina; cRobert Wood Johnson Clinical Scholars Program, Stanford, California Revista: PEDIATRICS Volume 118, Number 6, December 2006
Imagem:romeu e julieta cibernautas?
Dec 21, 2009
>> Internet, Anorexia e Bulimia (I)
Existem na Internet diversos sites que abordam a anorexia e a bulimia. Sites informativos específicos (por exemplo em Portugal o site da AFAAB) ou outros gerais sobre nutrição ou psiquiatria que também referem o assunto. Existem também inúmeras páginas ou blogues de pessoas que possuem experiências (passadas, presentes; na primeira pessoa, de amigos ou familiares, etc) em relação á anorexia e/ou bulimia. É o caso deste que está a ler, que é de uma ex anoréctica. São sites que muitas vezes relatam vivências negativas, mas que não incitam a ficar doente, pelo contrário ao relatarem a luta contra a doença podem ajudar quem procura recuperar-se. Mas há também casos em que os próprios doentes, depois de recuperados preferem afastar-se da Internet e dos sites que criaram enquanto doentes pois a anorexia passou a fazer parte do passado (essa situção é indicada por um colectivo que escrevia aqui no Disordered Times).
Existem ainda sites que criminosamente fazem a apologia das doenças associadas ao comportamento alimentar. Incluem 'dicas' para emagrecer (=adoecer) mais rápido, enganar os outros em relação à alimentação (=atrasar a detecção do problema), ou aos sinais da doença. Por razões óbvias não os reproduzimos, são conselhos de morte sob a capa de que por exemplo a anorexia é um “estilo de vida”. Quem conhece a doença sabe que é um “estilo de morte lenta”. São os designados sites pro-ana ou pro-mia e em vários países, nomeadamente em Portugal, são desenvolvidas algumas medidas e programas com vista à sua desactivação e divulgação dos perigos junto de pais e educadores. Os sites pro-ana e pró-mia (=pró morte) ( um estudo académico em português pode ser encontrado aqui) surgiram nos Estados Unidos por volta de 2001 e existem em diversas línguas e formatos embora muitas vezes sejam cópias uns dos outros. Nesses sites exite geralmente uma espécie de ‘lista de deveres’ das anorécticas onde se inclui uma ‘obrigação’ directamente relacionada com a Internet: criar um blogue ou página em que o doente (geralmente a doente, uma adolescente ou pré adolescente) vai dando conta do emagrecimento e registando os “progressos” em relação à doença, ou seja o seu agravamento. Uma espécie ou mesmo um diário. Os comentários são em geral no sentido de a doente manter e agravar o comportamento de progressiva redução de ingestão de alimentos, podendo chegar à recusa absoluta NF (=No Food/ Nenhuma Comida).(alguns comentários: “vais conseguir a tua meta dos 35 kilos!” “A gordura é um nojo, só os ossos são bonitos princesa!” ).
Não consigo perceber ainda todas as razões que se ocultam por detrás da criação desses blogues pro-ana. Estando os doentes fragilizados mentalmente não estranho que por trás de alguns desses blogues estejam comportamentos predatórios. No entanto, não tenho dificuldade em perceber que alguém que sofra de anorexia nervosa tenha gosto em criar um blogue ou página. Durante os anos que estive doente, se tivesse tido essa possibilidade, julgo que também o teria feito. A solidão, ou pior ainda a ‘companhia’ da doença empurram para encontrar ‘outros’ com o mesmo sofrimento onde a partilha do sofrimento pode ser feita de modo mais ou menos anónimo. ‘Outros’ virtuais que ao contrário dos amigos reais podem com um simples digitar do botão desligar das lágrimas, dos gritos, das angústias.
A investigação realizada até agora sobre a relação com as doenças de comportamento alimentar tem demonstrado que as páginas e blogues pró-anorexia e pró-bulimia possuem um efeito de incentivo ao aparecimento e desenvolvimento da doença (que obviamente depende da conjugação de uma complexidade de factores, não é apenas visitando essas páginas que se fica doente, mas o que lá está escrito pode contribuir para o início da doença ou para o seu agravamento) . As idades de quem chega a essa informação são também muito importantes, há por exemplo crianças com 12 a segui-las. Os efeitos de outras páginas informativas ( sites pro-recuperação ) sobre as doenças do comportamento alimentar (DCA) não está ainda completamente esclarecido. Uma coisa é certa: o diagnóstico e tratamento apenas pode ser feito pelos competentes especialistas ou idealmente por uma equipa em conjunto.
Foi realizado há cerca de 3 anos um estudo por investigadores da universidade norte americana Stanford University School of Medicine em colaboração com o Lucile Packard Children's Hospital sobre a influência da Internet sobre a anorexia e a bulimia nos jovens. Um artigo sobre esse estudo pode ser encontrado (aqui nos documentos deste blogue) e também na revista Pediatrics da American Academy of Pediatrics' e dele daremos conta mais detalhada em próximo post.
Existem ainda sites que criminosamente fazem a apologia das doenças associadas ao comportamento alimentar. Incluem 'dicas' para emagrecer (=adoecer) mais rápido, enganar os outros em relação à alimentação (=atrasar a detecção do problema), ou aos sinais da doença. Por razões óbvias não os reproduzimos, são conselhos de morte sob a capa de que por exemplo a anorexia é um “estilo de vida”. Quem conhece a doença sabe que é um “estilo de morte lenta”. São os designados sites pro-ana ou pro-mia e em vários países, nomeadamente em Portugal, são desenvolvidas algumas medidas e programas com vista à sua desactivação e divulgação dos perigos junto de pais e educadores. Os sites pro-ana e pró-mia (=pró morte) ( um estudo académico em português pode ser encontrado aqui) surgiram nos Estados Unidos por volta de 2001 e existem em diversas línguas e formatos embora muitas vezes sejam cópias uns dos outros. Nesses sites exite geralmente uma espécie de ‘lista de deveres’ das anorécticas onde se inclui uma ‘obrigação’ directamente relacionada com a Internet: criar um blogue ou página em que o doente (geralmente a doente, uma adolescente ou pré adolescente) vai dando conta do emagrecimento e registando os “progressos” em relação à doença, ou seja o seu agravamento. Uma espécie ou mesmo um diário. Os comentários são em geral no sentido de a doente manter e agravar o comportamento de progressiva redução de ingestão de alimentos, podendo chegar à recusa absoluta NF (=No Food/ Nenhuma Comida).(alguns comentários: “vais conseguir a tua meta dos 35 kilos!” “A gordura é um nojo, só os ossos são bonitos princesa!” ).
Não consigo perceber ainda todas as razões que se ocultam por detrás da criação desses blogues pro-ana. Estando os doentes fragilizados mentalmente não estranho que por trás de alguns desses blogues estejam comportamentos predatórios. No entanto, não tenho dificuldade em perceber que alguém que sofra de anorexia nervosa tenha gosto em criar um blogue ou página. Durante os anos que estive doente, se tivesse tido essa possibilidade, julgo que também o teria feito. A solidão, ou pior ainda a ‘companhia’ da doença empurram para encontrar ‘outros’ com o mesmo sofrimento onde a partilha do sofrimento pode ser feita de modo mais ou menos anónimo. ‘Outros’ virtuais que ao contrário dos amigos reais podem com um simples digitar do botão desligar das lágrimas, dos gritos, das angústias.
A investigação realizada até agora sobre a relação com as doenças de comportamento alimentar tem demonstrado que as páginas e blogues pró-anorexia e pró-bulimia possuem um efeito de incentivo ao aparecimento e desenvolvimento da doença (que obviamente depende da conjugação de uma complexidade de factores, não é apenas visitando essas páginas que se fica doente, mas o que lá está escrito pode contribuir para o início da doença ou para o seu agravamento) . As idades de quem chega a essa informação são também muito importantes, há por exemplo crianças com 12 a segui-las. Os efeitos de outras páginas informativas ( sites pro-recuperação ) sobre as doenças do comportamento alimentar (DCA) não está ainda completamente esclarecido. Uma coisa é certa: o diagnóstico e tratamento apenas pode ser feito pelos competentes especialistas ou idealmente por uma equipa em conjunto.
Foi realizado há cerca de 3 anos um estudo por investigadores da universidade norte americana Stanford University School of Medicine em colaboração com o Lucile Packard Children's Hospital sobre a influência da Internet sobre a anorexia e a bulimia nos jovens. Um artigo sobre esse estudo pode ser encontrado (aqui nos documentos deste blogue) e também na revista Pediatrics da American Academy of Pediatrics' e dele daremos conta mais detalhada em próximo post.
Dec 20, 2009
Dec 19, 2009
>> Anorexia masculina (três testemunhos )
No semanário Expresso de hoje (19 de dezembro 2009) as páginas 20 e 21 do primeiro caderno são ocupadas com a anorexia masculina. O texto é de Cristina Bernardo Silva e as fotografias de Rui Duarte Silva (com excepção de duas de um doente norte americano retiradas da Internet). São apresentados três testemunhos, de D. de 15 anos, 'Rodrigo' de 19 anos e 'Jorge' de 20 anos.Transcrevemos as declarações publicadas na primeira pessoa. São raríssimos os testemunhos masculinos sobre a anorexia. Parabéns aos três por terem tido a coragem de expor a sua experiência e à jornalista por ter sido capaz de obter esses testemunhos. Sobre as dificuldades especiais de diagnóstico e tratamento nos rapazes e homens, ver mais neste blogue aqui.
D. de 15 anos : "Eu achava que os psiquiatras eram para malucos e dizia que não estava maluco"."Nas aulas, tinha tonturas e dores de estômago.Pedia muitas vezes para sair e o professor começou a desconfiar"."Estava sempre a falar, desestabilizava as aulas".
"Rodrigo" 19 anos: "nesse dia [depois de um comentário jocoso de um tio ao seu peso excessivo] cortei com os chocolates.Poucos meses depois havia dias em que só comia umas folhas de alface.""deixa-se de sentir" [a fome]. [Agora, em tratamento, depois de três internamentos hospitalares um deles em resultado de uma tuberculose, quer ganhar o peso normal "para ser piloto da Força Aérea".
"Jorge" 20 anos: "Percebi que não estava bem quando deixei de poder ter relações sexuais com a minha namorada, porque não tinha erecções.Alem disso, tinha sempre frio, mesmo no Verão."[Estava]"o dia todo a pensar em calorias e a fazer exercício.". Sobre a razão da sua recuperação: "ter encontrado os médicos certos".
Sobre as dificuldades especiais de diagnóstico e tratamento nos rapazes e homens, ver mais neste blogue aqui.
Imagem:obra de Amadeo Souza-Cardoso
Dec 18, 2009
>> a infelicidade aprende-se?
No blogue SALPICOS (aqui), foi publicado um post com o título: "Como nos tornarmos no nosso pior inimigo", assinado por Clara Pracana, de que transcrevemos o início:
"Qualquer pessoa pode ser infeliz, mas tornar-se infeliz é algo que tem de ser aprendido, e para esse objectivo não bastam só alguns golpes da sorte".Este parágrafo foi tirado do livro de Paul Watzlawick (1921-2007) intitulado "The Situation is Hopeless But Not Serious". Escrito nos anos oitenta é um grande (pequeno em tamanho) livro perfeitamente actual. Julgo que existe uma tradução em português.Partindo do absurdo, Watzlawick analisa questões como "por que é que alguém há-de gostar de mim?" e outras ideias fixas com que nos infernizamos a vida".(continuar a leitura) .
Para saber mais sobre Paul Watzlawick pode ver (aqui). Watzlawick foi autor de 18 livros (com 85 edições em língua estrangeira) e publicou mais de 150 artigos e capitulos de livros. Não consegui confirmar se existe a edição em Portugal da obra "The Situation Is Hopeless But Not Serious (The Pursuit of Unhappiness)". Existem pelo menos dois títulos editados em Portugal do mesmo autor mas estão esgotados. Há uma tradução brasileira:"Sempre pode piorar ou a arte de ser (in)feliz: Uma abordagem psicológica". [trad. Por. Irene Aron]. São Paulo: EPU, 1984. 100 p.A tradução do livro em italiano (imagem da capa acima) Istruzioni per rendersi infelici /Como se tornar infeliz, pode ser consultada em pdf no Google-books (aqui). Em espanhol o nome da obra é El arte de amargarse la vida (Ed.Herder) . A versão em inglês pode ser consultada parcialmente na Amazon look inside (aqui).Uma lista de diversas obras do autor podem ser encontradas (aqui).Um artigo em inglês sobre o perfeccionismo aqui. Outro em francês (aqui). Um texto em francês sobre a obra Changements, Paradoxes et Psychothérapie de P. Watzlawick, J. Weakland , R. Fisch (aqui, nos documentos do blogue). Uma conversa/entrevista com P. Watzlawick feita por CarolWilder em 1977 [From the Interactional View] (aqui, nos documentos do blogue).
Dec 16, 2009
>> Natal, Consumo e ...
Encontrei esta informação sobre os resultados de um questionário on line efectuado por uma empresa, a Multidados (aqui), que obtever 3219 respostas. Este tipo de questionários apresenta problemas de representatividade, no entanto seguem alguns resultados, sugerindo grandes mudanças nesta época natalícia por vezes referida como a 'Festa da Família'.
Destacamos 4 percentagens:
20% desejam bom natal pessoalmente
72% das passagens de ano são em casa
na passagem de ano (meia-noite) 10% dá um beijo a amigos/familiares
13% desejam pessoalmente um bom ano
"À semelhança de anos anteriores, a MultiDados levou a cabo, na sua plataforma de inquéritos online e ao seu painel de utilizadores registados, de ambos os sexos, residentes em Portugal Continental e Ilhas, tendo sido validadas 3219 respostas, obtidas entre os dias 4 e 14 de Dezembro de 2009.
Alguns resultados :
"À semelhança de anos anteriores, a MultiDados levou a cabo, na sua plataforma de inquéritos online e ao seu painel de utilizadores registados, de ambos os sexos, residentes em Portugal Continental e Ilhas, tendo sido validadas 3219 respostas, obtidas entre os dias 4 e 14 de Dezembro de 2009.
Alguns resultados :
***Natal 2009***
época de compras: "61,35% da totalidade dos inquiridos já tinha feito, até ao dia 14 de Dezembro, as suas compras de Natal. (...)"
local de compra "17,96% continua a preferir o comércio tradicional e apenas 4,29% compra online"
presentes: "20,38% roupa, 14,21% brinquedos, 12,71% livros, 11,61% chocolates e 10,47% perfumes."
desejar FELIZ NATAL: "O SMS continua a ser o meio mais usado para desejar FELIZ NATAL (56,96%), havendo 19,98% de inquiridos que o desejam pessoalmente e 13,82% por telefone"
***Passagem de ano 2009/2010***
em casa:" (72.34%), sendo que 56,82% vão para casa de amigos/familiares e 15,52% ficam na própria casa; verificou-se ainda que 8,98% do total tenciona passar o ano numa festa de rua"
tradições no dia 31 de Dezembro: "20,43% bebe champanhe, 19,80% come uvas-passas, 14,32% pede desejos e 10,49% dá um beijo aos seus amigos / familiares"
desejar FELIZ ANO:" o SMS é o meio mais usado (63,38%), havendo 16,06% de inquiridos que o desejam por telefone e 13,48% pessoalmente".
Dec 13, 2009
>> Entrevista sobre anorexia (Dra. Isabel do Carmo HSM-Lisboa)
Transcrevemos a entrevista da Dra. Isabel do Carmo do serviço de Endocrinologia do Hospital de St. Maria em Lisboa. Foi originalmente puclicada aqui.
"Como é que se sabe se uma jovem sofre ou não de anorexia nervosa?
A anorética é uma jovem - e eu digo uma jovem porque geralmente são pessoas jovens do sexo feminino - que, voluntariamente, deixa de comer o suficiente. Ela, de facto, não tem falta de apetite mas impõe-se a si mesma uma restrição alimentar. Em consequência disso, perde peso (pelo menos 15% para ser considerado como anorexia). Esta desnutrição reflecte-se no resto do organismo: perda de cabelo, atrofia muscular, magreza acentuada, debilidade, falta de menstruação. Esta rapariga, apesar de ter uma aparência tão magra, vê-se a si própria como tendo excesso de peso - há uma deformação da imagem do corpo que é característica destas situações.
Mas este não é o único distúrbio alimentar. Como se distingue a anorexia da bulimia?
É uma situação diferente. A bulímica é uma rapariga com peso normal que tem grandes períodos de restrição, seguidos de compulsões alimentares. Estes ataques de gula são, depois, geralmente seguidos de manobras compensatórias como o vómito.
Então pode haver casos de jovens com anorexia e com bulimia ao mesmo tempo.
Sim, pode haver uma doente com anorexia nervosa que tenha compulsões alimentares e que induça o vómito mas, neste caso, se tiver anorexia, é uma pessoa muito magra.
Quais os sintomas mais evidentes da anorexia?
Começar a comer muito pouco, ter manias alimentares, a perda de peso e deixar de ser menstruada - tem de ter pelo menos 3 meses sem menstruação para ser considerada como anorética.
Quando falamos de anorexia, falamos então de uma doença meramente psicológica.
Sim, é uma doença psicológica. Não é uma doença física, tanto quanto se pode separar o físico do psicológico.
E o tratamento como é que se processa? Demora muito tempo?
É, acima de tudo, um tratamento psíquico. Às vezes as pessoas pensam que é só um problema de dieta e de alimentação mas isto é, apenas, uma consequência. Tem que ser uma psicoterapia. Quanto ao tempo de tratamento, ele varia muito mas, em geral, é longo. Pode demorar meses, anos... É uma doença que leva muito tempo a instalar-se e que, depois, demora muito tempo a passar. Não é de um momento para o outro.
A anorexia marca muito a pessoa. Que implicações pode ter no futuro?
Há pessoas que ficam completamente bem, enquanto que há outras que ficam com problemas, essencialmente, ao nível dos ossos. O problema principal ao nível físico é a osteoperose. Ainda estamos para saber se será definitivo ou não, porque os aparelhos de osteoperose - para medir a intensidade dos ossos - são relativamente recentes e os estudos nas anoréticas também. Por isso, ainda não sabemos se, a longo prazo, estas raparigas ficam curadas ou não. É difícil responder.
E o mesmo se passa a nível psicológico.
Sim, se há doentes que recuperam bem, outras há em que a doença deixa alguns traços para o resto da vida.
Aonde e a quem se podem dirigir estas jovens ou os seus familiares?
Temos 3 consultas: uma no Porto, no Hospital de S. João, outra em Coimbra, no Hospital da Universidade e aqui em St. Maria [nota de autora do blogue, ver mais aqui] . Mas, é preciso que se diga, estamos neste momento em situação de saturação, com falta de técnicos. Existem casos de risco outros mais ligeiros que podiam receber o apoio do médico de família, aliviando o nosso serviço. Estamos mesmo sem técnicos no hospital e não temos nem psicólogos nem psiquiatras e esta ajuda seria preciosa.
O principal grupo de risco são as jovens adolescentes. Haverá alguma razão para o elevado número de raparigas que sofrem de anorexia e para o número reduzido de doentes do sexo masculino?
Não há nenhuma explicação que nos diga, com toda a certeza, porque são as raparigas as principais vítimas. Biologicamente as raparigas são diferentes dos rapazes, a relação rapariga/ mãe também é diferente e o mesmo se passa com o ambiente social. O que é certo é que, segundo as estatísticas, só há 1 rapaz para cada 10 raparigas a sofrer desta doença.
Culpa-se muito a moda por exercer pressão sobre as jovens. As imagens das top models enchem as revistas, os ecrans da televisão...
Existe, de facto, pressão no sentido da magreza, das pessoas serem magras e de terem um peso inferior ao seu peso saudável. Este é um dos factores, mas não é o único.
Então é uma doença do nosso século?
Não, é uma doença de longa data. Há casos datados desde o século XIV, muito ligados aos excedismos religiosos. A St. Catarina de Siena é um caso clássico.
O papel da escola e da família na prevenção desta doença é muito importante.
Sim, informando... Sobretudo informando que, no período da adolescência, as pessoas crescem em altura e em largura e que os tecidos do corpo necessitam de alimento para esse crescimento. Parece óbvio mas, nem sempre, a mensagem passa. Há que fazer saber aos jovens que eles precisam de carne, de peixe, de leite, de fruta, de pão, de massa ou de arroz para serem saudáveis.
Acha que a escola e a sociedade têm passado esta mensagem?
A escola tem estado muito desperta para estas coisas. Os programas falam muito neste problema e os professores, de um modo geral, estão despertos para estas situações. A sociedade em geral também. Eu penso que, neste momento, a informação circula muito bem.
Existem números concretos quanto aos casos de anorexia em Portugal?
Nas escolas secundárias, num estudo que fizemos nos distritos de Lisboa e de Setúbal, há uma rapariga em cada 200 com anorexia. Bulímicas são mais: 3 em cada 100 na população universitária. No Porto, os números são semelhantes. Falta-nos números a nível nacional mas parece que o Departamento de Psicologia da Universidade de Braga está a fazer um estudo neste âmbito (alguns projectos e publicações aqui).
"Como é que se sabe se uma jovem sofre ou não de anorexia nervosa?
A anorética é uma jovem - e eu digo uma jovem porque geralmente são pessoas jovens do sexo feminino - que, voluntariamente, deixa de comer o suficiente. Ela, de facto, não tem falta de apetite mas impõe-se a si mesma uma restrição alimentar. Em consequência disso, perde peso (pelo menos 15% para ser considerado como anorexia). Esta desnutrição reflecte-se no resto do organismo: perda de cabelo, atrofia muscular, magreza acentuada, debilidade, falta de menstruação. Esta rapariga, apesar de ter uma aparência tão magra, vê-se a si própria como tendo excesso de peso - há uma deformação da imagem do corpo que é característica destas situações.
Mas este não é o único distúrbio alimentar. Como se distingue a anorexia da bulimia?
É uma situação diferente. A bulímica é uma rapariga com peso normal que tem grandes períodos de restrição, seguidos de compulsões alimentares. Estes ataques de gula são, depois, geralmente seguidos de manobras compensatórias como o vómito.
Então pode haver casos de jovens com anorexia e com bulimia ao mesmo tempo.
Sim, pode haver uma doente com anorexia nervosa que tenha compulsões alimentares e que induça o vómito mas, neste caso, se tiver anorexia, é uma pessoa muito magra.
Quais os sintomas mais evidentes da anorexia?
Começar a comer muito pouco, ter manias alimentares, a perda de peso e deixar de ser menstruada - tem de ter pelo menos 3 meses sem menstruação para ser considerada como anorética.
Quando falamos de anorexia, falamos então de uma doença meramente psicológica.
Sim, é uma doença psicológica. Não é uma doença física, tanto quanto se pode separar o físico do psicológico.
E o tratamento como é que se processa? Demora muito tempo?
É, acima de tudo, um tratamento psíquico. Às vezes as pessoas pensam que é só um problema de dieta e de alimentação mas isto é, apenas, uma consequência. Tem que ser uma psicoterapia. Quanto ao tempo de tratamento, ele varia muito mas, em geral, é longo. Pode demorar meses, anos... É uma doença que leva muito tempo a instalar-se e que, depois, demora muito tempo a passar. Não é de um momento para o outro.
A anorexia marca muito a pessoa. Que implicações pode ter no futuro?
Há pessoas que ficam completamente bem, enquanto que há outras que ficam com problemas, essencialmente, ao nível dos ossos. O problema principal ao nível físico é a osteoperose. Ainda estamos para saber se será definitivo ou não, porque os aparelhos de osteoperose - para medir a intensidade dos ossos - são relativamente recentes e os estudos nas anoréticas também. Por isso, ainda não sabemos se, a longo prazo, estas raparigas ficam curadas ou não. É difícil responder.
E o mesmo se passa a nível psicológico.
Sim, se há doentes que recuperam bem, outras há em que a doença deixa alguns traços para o resto da vida.
Aonde e a quem se podem dirigir estas jovens ou os seus familiares?
Temos 3 consultas: uma no Porto, no Hospital de S. João, outra em Coimbra, no Hospital da Universidade e aqui em St. Maria [nota de autora do blogue, ver mais aqui] . Mas, é preciso que se diga, estamos neste momento em situação de saturação, com falta de técnicos. Existem casos de risco outros mais ligeiros que podiam receber o apoio do médico de família, aliviando o nosso serviço. Estamos mesmo sem técnicos no hospital e não temos nem psicólogos nem psiquiatras e esta ajuda seria preciosa.
O principal grupo de risco são as jovens adolescentes. Haverá alguma razão para o elevado número de raparigas que sofrem de anorexia e para o número reduzido de doentes do sexo masculino?
Não há nenhuma explicação que nos diga, com toda a certeza, porque são as raparigas as principais vítimas. Biologicamente as raparigas são diferentes dos rapazes, a relação rapariga/ mãe também é diferente e o mesmo se passa com o ambiente social. O que é certo é que, segundo as estatísticas, só há 1 rapaz para cada 10 raparigas a sofrer desta doença.
Culpa-se muito a moda por exercer pressão sobre as jovens. As imagens das top models enchem as revistas, os ecrans da televisão...
Existe, de facto, pressão no sentido da magreza, das pessoas serem magras e de terem um peso inferior ao seu peso saudável. Este é um dos factores, mas não é o único.
Então é uma doença do nosso século?
Não, é uma doença de longa data. Há casos datados desde o século XIV, muito ligados aos excedismos religiosos. A St. Catarina de Siena é um caso clássico.
O papel da escola e da família na prevenção desta doença é muito importante.
Sim, informando... Sobretudo informando que, no período da adolescência, as pessoas crescem em altura e em largura e que os tecidos do corpo necessitam de alimento para esse crescimento. Parece óbvio mas, nem sempre, a mensagem passa. Há que fazer saber aos jovens que eles precisam de carne, de peixe, de leite, de fruta, de pão, de massa ou de arroz para serem saudáveis.
Acha que a escola e a sociedade têm passado esta mensagem?
A escola tem estado muito desperta para estas coisas. Os programas falam muito neste problema e os professores, de um modo geral, estão despertos para estas situações. A sociedade em geral também. Eu penso que, neste momento, a informação circula muito bem.
Existem números concretos quanto aos casos de anorexia em Portugal?
Nas escolas secundárias, num estudo que fizemos nos distritos de Lisboa e de Setúbal, há uma rapariga em cada 200 com anorexia. Bulímicas são mais: 3 em cada 100 na população universitária. No Porto, os números são semelhantes. Falta-nos números a nível nacional mas parece que o Departamento de Psicologia da Universidade de Braga está a fazer um estudo neste âmbito (alguns projectos e publicações aqui).
foto flickr cc (aqui)
Dec 11, 2009
>> anorexia masculina, oculta e desconhecida
A anorexia masculina é muito pouco conhecida e as estatísticas existentes são (ainda mais) raras que as referentes às mulheres. Imagine um rapaz que receia estar com um distúrbio alimentar e telefona para um serviço de apoio a marcar uma consulta. Pode acontecer perguntarem-lhe 'quem é a familiar com o problema? . Imagine que procura informação na net e encontra sites informativos vários em que sem ser referindo o sexo masculino ou feminino apenas se fala de 'as doentes', 'elas', 'as jovens'. Imagine que procura informação sobre os sintomas associados à anorexia nervosa e encontra uma listagem que, sem destinguir sexo feminino ou masculino, indica que um sintoma é a perda de menstruação (sim é possível encontrar isso!). Imagine que sendo um homem com orientação heterosexual encontra a doença caracterizada como sendo associada a comportamentos homosexuais. Imagine que consulta o 'Catálogo' das doenças mentais, o DSM (5 páginas em relação à ANOREXIA NERVOSA em português , aqui, obtidas neste site) também aí não ficaria completamente esclarecido, mais, poderia até encontrar razão para 'ter vergonha' da doença.
A ANOREXIA NERVOSA MASCULINA é muito desconhecida: Porque é que as doenças do comportamento alimentar são muito menos frequentes no sexo masculino que no sexo feminino? Existem múltiplas hipóteses mas as respostas ainda estão em aberto.
A ANOREXIA NERVOSA MASCULINA encontra-se oculta: Para além disso, existe possivelmente uma subestimação do número de indivíduos afectados, porque, no caso dos homens, os sintomas são mais facilmente ocultados ou aceites socialmente.
Texto original em inglês, seguinte encontrado (aqui) e parcialmente reproduzido abaixo:"Apesar dos valores habitualmente aceites [ para os Estados Unidos] sejam os da National Eating Disorders Association (NEDA) que indicam que 10% dos 10 milhões de doentes norte americanos com transtornos alimentares são do sexo masculino, em 2007 um estudo dea Universidade de Harvard , envolvendo 3.000 participantes do sexo masculino e feminino mostrou que quase 25% dos casos de anorexia e bulimia ocorrem em homens e que 40 % dos comedores compulsivos [no original: binge eaters] são do sexo masculino.
Enquanto a maioria das pessoas sabe da prevalência da anorexia nervosa, bulimia e compulsão alimentar nas jovens e mulheres, poucas reconhecem que os jovens e homens sofrem com igualmente desses transtornos alimentares. Uma razão para a falta de atenção em relação aos transtornos alimentares nos homens, de acordo com um médico norte-americano [Kennington], é que essas doenças são mais facilmente camufladas neles que nelas. Enquanto as mulheres fazem por vezes dietas extremas que abrem caminho a um distúrbio alimentar, o que pode levantar suspeitas por parte da família e dos amigos, os homens geralmente concentram-se em fazer exercício físico excessivo, o que pode parecer aos outros uma prática enganosamente saudável. "Um homem que pratica exercício intenso [na 'malhação' no Brasil] duas ou três horas por dia pode ser considerado como sendo apenas alguém 'disciplinado' ou ‘em fitness’ [a 'abater os pneus' em Portugal], e pode não chamar a atenção da mesma forma que uma mulher que se recusa a comer ou com um aspecto esquelético". "Na verdade, um homem magro e musculoso suscita geralmente comentários positivos e elogios pelo seu corpo, o que faz com que o seu comportamento auto-destrutivos aparenta ao doente ‘valer a pena’.
Enquanto a maioria das pessoas sabe da prevalência da anorexia nervosa, bulimia e compulsão alimentar nas jovens e mulheres, poucas reconhecem que os jovens e homens sofrem com igualmente desses transtornos alimentares. Uma razão para a falta de atenção em relação aos transtornos alimentares nos homens, de acordo com um médico norte-americano [Kennington], é que essas doenças são mais facilmente camufladas neles que nelas. Enquanto as mulheres fazem por vezes dietas extremas que abrem caminho a um distúrbio alimentar, o que pode levantar suspeitas por parte da família e dos amigos, os homens geralmente concentram-se em fazer exercício físico excessivo, o que pode parecer aos outros uma prática enganosamente saudável. "Um homem que pratica exercício intenso [na 'malhação' no Brasil] duas ou três horas por dia pode ser considerado como sendo apenas alguém 'disciplinado' ou ‘em fitness’ [a 'abater os pneus' em Portugal], e pode não chamar a atenção da mesma forma que uma mulher que se recusa a comer ou com um aspecto esquelético". "Na verdade, um homem magro e musculoso suscita geralmente comentários positivos e elogios pelo seu corpo, o que faz com que o seu comportamento auto-destrutivos aparenta ao doente ‘valer a pena’.
Outro aspecto que dificulta a identificação e diagnóstico de transtornos alimentares no sexo masculino é o facto dos critérios de diagnóstico para os transtornos alimentares serem basicamente concebidos para as mulheres. Por exemplo, a amenorréia (perda de menstruação, 'período' ou 'regras'), é um dos critérios de diagnóstico para a anorexia nervosa que claramente exclui os homens. Um estudo recente do Rhode Island Hospital e da Brown University, sugere que os critérios do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, o DSM-IV [Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, publicado pela American Psychiatric Association] na parte referente aos transtornos alimentares tem uma utilidade clínica limitada, existindo recomendações dos investigadores para alargar os critérios para a bulimia, anorexia e transtorno de compulsão alimentar, o manual de diagnóstico [DSM-IV] [*]não é adequado aos milhares de homens com transtornos nos comportamentos e hábitos alimentares. "Porque o material de diagnóstico nem sequer trata as especificidades do doente do sexo masculino com transtornos alimentares, tais como alterações nos níveis de testoesterona ou perda do desejo sexual, o DSM-IV, de uma certa forma pode ser um veículo de vergonha", afirma Kennington. "Alguns homens vêem aspectos que não lhes são aplicáveis e simplesmente fecham o livro."
Desse manual DSM-IV, as páginas referentes à ANOREXIA NERVOSA ( aqui, em português, na lista de documentos deste blogue)
[*]Pelo blogue da Vanessa Mardsen fiquei a saber que a nova edição do manual, a DSM-V (esse manual vai sendo actualizado) teve a edição adiada até Maio de 2013.
2 comentários, interrogações e afins:
Vanessa Marsden disse...
Ola ex-ana!
Muito legal este post sobre a anorexia masculina. Ainda 'e um assunto muito pouco debatido. Lembrei-me de um cantor americano, lider da banda Silverchair que lutou muitos anos contra a anorexia. Nao sei se sabias da historia. A banda foi muito conhecida uns 7 anos atras.
Abracos!
12 de Dezembro de 2009 10:35
ex ana disse...
Obrigada Vanessa pelo comentário e pela informação sobre o lider dos Silverchair.(*) A anorexia masculina para mim é muito importante por duas razões. Uma negativa porque os doentes que para além da anorexia nervosa podem acrescentar o estigma de ser uma 'doença de mulheres'e existirem tratamentos 'formatados' para mulheres.Outra positiva, porque - e posso estar errada mas já tenho visto referências nesse sentido- em termos de investigação podem fornecer chaves para um melhor conhecimento (e tendencialmente tratamento!) da doença. Há estudos de gémeos que mais tarde irei referir.
Mais uma vez obrigada pelo comentário e dica.
(*) Vou voltar caso, encontrei a notícia numa revista Rolling Stones de 1999 http://www.rollingstone.com/artists/silverchair/articles/story/5921593/silverchair_frontman_reveals_battle_with_anorexia
2 comentários, interrogações e afins:
Vanessa Marsden disse...
Ola ex-ana!
Muito legal este post sobre a anorexia masculina. Ainda 'e um assunto muito pouco debatido. Lembrei-me de um cantor americano, lider da banda Silverchair que lutou muitos anos contra a anorexia. Nao sei se sabias da historia. A banda foi muito conhecida uns 7 anos atras.
Abracos!
12 de Dezembro de 2009 10:35
ex ana disse...
Obrigada Vanessa pelo comentário e pela informação sobre o lider dos Silverchair.(*) A anorexia masculina para mim é muito importante por duas razões. Uma negativa porque os doentes que para além da anorexia nervosa podem acrescentar o estigma de ser uma 'doença de mulheres'e existirem tratamentos 'formatados' para mulheres.Outra positiva, porque - e posso estar errada mas já tenho visto referências nesse sentido- em termos de investigação podem fornecer chaves para um melhor conhecimento (e tendencialmente tratamento!) da doença. Há estudos de gémeos que mais tarde irei referir.
Mais uma vez obrigada pelo comentário e dica.
(*) Vou voltar caso, encontrei a notícia numa revista Rolling Stones de 1999 http://www.rollingstone.com/artists/silverchair/articles/story/5921593/silverchair_frontman_reveals_battle_with_anorexia
>> Perfeccionismo e transtornos alimentares (artigo científico)
Publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria (Ago-2009) e disponível integralmente online (aqui) o artigo científico Perfectionism in obsessive-compulsive and eating disorders /Perfeccionismo no transtorno obsessivo-compulsivo e nos transtornos alimentares, tem como autores: Berta Rodrigues MaiaI; Maria João SoaresI; Ana GomesII; Mariana MarquesI; Ana Telma PereiraI; Ana CabralI; José ValenteI; Sandra Carvalho BosI; Michele PatoI; Fernando PocinhoIV; Maria Helena AzevedoI; António MacedoI IInstitute of Medical Psychology, School of Medicine, Universidade de Coimbra, Portugal IIDepartment of Educational Sciences, Universidade de Aveiro, Portugal IIIDepartments of Psychiatry and Behavioural Sciences, University Southern California, Los Angeles, USA IVPsychiatric Clinic, Hospital Universidade de Coimbra, Portugal
Perfeccionismo no transtorno obsessivo-compulsivo e nos transtornos alimentares, conforme texto online aqui
Perfeccionismo no transtorno obsessivo-compulsivo e nos transtornos alimentares, conforme texto online aqui
RESUMO
"OBJETIVO: Este estudo tem dois objetivos principais. Primeiro, avaliar as dimensões do perfeccionismo no transtorno obsessivo-compulsivo e nos transtornos alimentares em comparação com duas amostras controle: psiquiátrica (depressão/ansiedade) e não clínica. Segundo, avaliar se o perfeccionismo é um traço de personalidade especificamente relacionado com estas diferentes condições clínicas.
"OBJETIVO: Este estudo tem dois objetivos principais. Primeiro, avaliar as dimensões do perfeccionismo no transtorno obsessivo-compulsivo e nos transtornos alimentares em comparação com duas amostras controle: psiquiátrica (depressão/ansiedade) e não clínica. Segundo, avaliar se o perfeccionismo é um traço de personalidade especificamente relacionado com estas diferentes condições clínicas.
MÉTODO: 39 pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo, 24 com transtornos alimentares, 65 com um diagnóstico de depressão e/ou ansiedade (todos estes pacientes encontravam-se em regime de ambulatório) e 70 controles não clínicos completaram a versão portuguesa da Multidimensional Perfectionism Scale.
RESULTADOS: Comparativamente à amostra não clínica, todas as amostras clínicas apresentaram níveis significativamente mais elevados na Multidimensional Perfectionism Scale total, no Perfeccionismo Auto-Orientado e no Perfeccionismo-Socialmente-Prescrito. Não houve diferenças estatisticamente significativas no Perfeccionismo-Auto-Orientado e na Multidimensional Perfectionism Scale total nas três amostras clínicas. No entanto, a amostra com transtornos alimentares apresentou níveis significativamente mais elevados de Perfeccionismo-Socialmente-Prescrito, comparativamente à transtornos alimentares e à amostra psiquiátrica (depressão/ansiedade). CONCLUSÃO: O perfeccionismo revelou estar associado a uma grande variedade de condições psicopatológicas. Contudo, as diferenças encontradas entre a amostra de transtornos alimentares, de transtorno obsessivo-compulsivo e a psiquiátrica no Perfeccionismo-Socialmente-Prescrito necessitam de investigação subsequente no sentido de clarificar a especificidade desta dimensão com os transtornos alimentares.
Descritores: Personalidade; Transtorno obsessivo-compulsivo; Transtornos alimentares; Depressão; Ansiedade "
Descritores: Personalidade; Transtorno obsessivo-compulsivo; Transtornos alimentares; Depressão; Ansiedade "
Das REFERÊNCIAS retiramos ainda esta em português: Soares M, Gomes A, Macedo A, Santos, V, Azevedo MH. Escala multidimensional do perfeccionismo: adaptação à população portuguesa. Revista Portuguesa Psicos. 2003;5(1):46-55.
>> sessão informativa em Chaves
Vamos tendo notícias de sessões informativas sobre os distúrbios alimentares frequentemente promovidas por escolas, associação de pais, centros de saúde, e outras organizações. Nunca serão demais essas iniciativas. Esta ocorreu em Chaves no passado dia 30 de Novembro (aqui). Parabéns aos organizadores! Se conhecerem mais actividades similares enviem notícia para esqueciaana@gmail.com .
Imagem: Cartaz do evento
Dec 9, 2009
>> testemunho de um pai
Abaixo transcrevo parte de uma entrevista dada à revista Activa à Jornalista Cristina Correia em 27 de Outubro de 2009. Toda a entrevista pode ser lida aqui
Foto flickr cc, título my life (aqui)
José Delgado, 48 anos, viu definhar de dia para dia o corpo e o sorriso da filha mais nova, Sofia. Ainda hoje, com a quase completa recuperação, não sabe dizer o que levou a menina de então 11 anos (hoje tem 18) a olhar para o seu corpo magro ao espelho e a dizer que o odiava, a esconder comida, a recusar refeições, a bater no estômago vazio para ver se ele abatia ainda mais, a pensar em suicídio.
O alerta soou depois da família ver uma reportagem sobre anorexia nervosa, onde reconheceu alguns dos sintomas da filha. (...)
Apesar de muita gente lhe chamar 'mania', a anorexia nervosa é um distúrbio alimentar que pode levar à morte. Estima-se que as taxas de mortalidade da doença se situem entre os 10% e os 15%; o suicídio ronda os 2,5%, segundo dados da Associação de Familiares e Amigos de Anorécticos e Bulímicos (AFAAB). 'A minha filha chegou a dizer-me que se suicidava. Isso mexe muito com um pai. Nessas alturas, dizia-lhe que, se isso acontecesse, iríamos ficar muito mal, mas que quem tinha mais a perder era ela.' Na pior fase da doença, a jovem ficou acamada em casa, em regime ambulatório, durante três meses. (...)
(...)
José Delgado acrescentar-lhe-ia outros traços: quase todos os anorécticos são excelentes alunos e demonstram uma maturidade precoce. 'A minha filha não teve adolescência; passou da pré-adolescência à idade adulta. E hoje está numa fase em que os colegas da idade dela são putos que não cresceram.'
(...)
Na sua luta de sete anos, José Delgado aprendeu muita coisa. 'É preciso estarmos muito atentos aos momentos em que eles querem falar connosco, porque são poucos e são muito subtis a demonstrá-lo. Aprendi que a educação que demos aos nossos filhos não tem nada que ver com a doença há muitos pais que se culpabilizam que os nossos filhos precisam de segurança e firmeza; que, num distúrbio alimentar como este, a comida não é o essencial. Como diz Daniel Sampaio, a comida já está na mesa, não é preciso falar sobre ela. Aprendi a desligar a televisão à hora das refeições. Quantas vezes a minha família esteve toda à mesa e a Sofia não comeu o que estava estipulado, mas existiu diálogo.' Para um anoréctico, esta é a hora de todas as angústias. Sentir-se pressionado a comer só piora tudo.
(...)
Em algumas fases da doença mentem muito.' Mas há sinais ainda mais subtis. 'Os irmãos mais novos e os animais de estimação engordam de repente. (...)
(...)
Foi por pensar que a partilha da sua experiência poderia ajudar na cura dos filhos que José Delgado se envolveu na associação AFAAB. 'São mais as pessoas que nos telefonam com dúvidas do que aquelas que participam nas reuniões de pais. Ainda há muita vergonha e medo de falar sobre a doença. Há quem não saia de casa porque tem vergonha dos filhos ou porque não querem perguntas de vizinhos e família. Só fecham mais o ciclo de isolamento da família. Alguns pais adoecem com depressões. Há casos de rupturas familiares quando as pessoas não aguentaram a carga.'
(...)
'A maior parte das doentes fica curada ou têm uma vida normal, apesar de manterem traços da doença.' O primeiro passo no tratamento é também o mais difícil de dar, diz o médico Abel Matos Silva. 'Antes de tudo, é preciso que a doente admita ter um problema.
(...)
Normalmente, é a família que a leva ao médico, dado que a própria se recusa a aceitar a gravidade da situação. O tratamento pode incluir psicoterapia individual, de grupo e familiar, aconselhamento nutricional e medicação e, nos casos mais graves, o internamento um índice de massa corporal inferior a 15 já o sugere.'
José Delgado, 48 anos, viu definhar de dia para dia o corpo e o sorriso da filha mais nova, Sofia. Ainda hoje, com a quase completa recuperação, não sabe dizer o que levou a menina de então 11 anos (hoje tem 18) a olhar para o seu corpo magro ao espelho e a dizer que o odiava, a esconder comida, a recusar refeições, a bater no estômago vazio para ver se ele abatia ainda mais, a pensar em suicídio.
O alerta soou depois da família ver uma reportagem sobre anorexia nervosa, onde reconheceu alguns dos sintomas da filha. (...)
Apesar de muita gente lhe chamar 'mania', a anorexia nervosa é um distúrbio alimentar que pode levar à morte. Estima-se que as taxas de mortalidade da doença se situem entre os 10% e os 15%; o suicídio ronda os 2,5%, segundo dados da Associação de Familiares e Amigos de Anorécticos e Bulímicos (AFAAB). 'A minha filha chegou a dizer-me que se suicidava. Isso mexe muito com um pai. Nessas alturas, dizia-lhe que, se isso acontecesse, iríamos ficar muito mal, mas que quem tinha mais a perder era ela.' Na pior fase da doença, a jovem ficou acamada em casa, em regime ambulatório, durante três meses. (...)
(...)
José Delgado acrescentar-lhe-ia outros traços: quase todos os anorécticos são excelentes alunos e demonstram uma maturidade precoce. 'A minha filha não teve adolescência; passou da pré-adolescência à idade adulta. E hoje está numa fase em que os colegas da idade dela são putos que não cresceram.'
(...)
Na sua luta de sete anos, José Delgado aprendeu muita coisa. 'É preciso estarmos muito atentos aos momentos em que eles querem falar connosco, porque são poucos e são muito subtis a demonstrá-lo. Aprendi que a educação que demos aos nossos filhos não tem nada que ver com a doença há muitos pais que se culpabilizam que os nossos filhos precisam de segurança e firmeza; que, num distúrbio alimentar como este, a comida não é o essencial. Como diz Daniel Sampaio, a comida já está na mesa, não é preciso falar sobre ela. Aprendi a desligar a televisão à hora das refeições. Quantas vezes a minha família esteve toda à mesa e a Sofia não comeu o que estava estipulado, mas existiu diálogo.' Para um anoréctico, esta é a hora de todas as angústias. Sentir-se pressionado a comer só piora tudo.
(...)
Em algumas fases da doença mentem muito.' Mas há sinais ainda mais subtis. 'Os irmãos mais novos e os animais de estimação engordam de repente. (...)
(...)
Foi por pensar que a partilha da sua experiência poderia ajudar na cura dos filhos que José Delgado se envolveu na associação AFAAB. 'São mais as pessoas que nos telefonam com dúvidas do que aquelas que participam nas reuniões de pais. Ainda há muita vergonha e medo de falar sobre a doença. Há quem não saia de casa porque tem vergonha dos filhos ou porque não querem perguntas de vizinhos e família. Só fecham mais o ciclo de isolamento da família. Alguns pais adoecem com depressões. Há casos de rupturas familiares quando as pessoas não aguentaram a carga.'
(...)
'A maior parte das doentes fica curada ou têm uma vida normal, apesar de manterem traços da doença.' O primeiro passo no tratamento é também o mais difícil de dar, diz o médico Abel Matos Silva. 'Antes de tudo, é preciso que a doente admita ter um problema.
(...)
Normalmente, é a família que a leva ao médico, dado que a própria se recusa a aceitar a gravidade da situação. O tratamento pode incluir psicoterapia individual, de grupo e familiar, aconselhamento nutricional e medicação e, nos casos mais graves, o internamento um índice de massa corporal inferior a 15 já o sugere.'
Dec 8, 2009
>> uma jovem na terra (actualizada em Julho 2012)
(actualizada em Julho 2012, com mais notícias da Severn Cullis-Suzuki aqui)
Chama-se Severn Cullis-Suzuki, tem 30 anos e uma história de vida muito rica (ver mais aqui).Tinha 12 anos quando fez este discurso no United Nations Earth Summit 1992 (Rio de Janeiro). Hoje, que se discute (mais uma vez) a TERRA no conforto das cadeiras gostamos de a lembrar.
Chama-se Severn Cullis-Suzuki, tem 30 anos e uma história de vida muito rica (ver mais aqui).Tinha 12 anos quando fez este discurso no United Nations Earth Summit 1992 (Rio de Janeiro). Hoje, que se discute (mais uma vez) a TERRA no conforto das cadeiras gostamos de a lembrar.
Dec 7, 2009
>> Jovens e distúrbios alimentares
Transcrevemos as declarações da psicóloga Ercília Duarte, coordenadora do Projecto Escola e Família em Santa Maria da Feira.
(notícia do passado dia 2 de Dezembro, encontrada aqui)
"Os jovens, e até mesmo as crianças que padecem deste tipo de distúrbio, acabam por adquirir estratégias de manipulação dos sintomas e conseguem mesmo desviar as atenções dos adultos sobre estes problemas."
(notícia do passado dia 2 de Dezembro, encontrada aqui)
"Os jovens, e até mesmo as crianças que padecem deste tipo de distúrbio, acabam por adquirir estratégias de manipulação dos sintomas e conseguem mesmo desviar as atenções dos adultos sobre estes problemas."
"Falar de distúrbios alimentares implica falar de uma espiral negativa de sentimentos em relação à imagem de si mesmo, que vêem e passam aos outros; implica falar de factores hereditários e vivências familiares e da forma como estes influenciam o 'sentir' do jovem/criança. Implica inevitavelmente falar do meio/grupo e respectivas crenças que os acompanham, da sociedade e dos conceitos de beleza que transmite e respira."
Um jovem precisa de se sentir integrado num grupo, que assume um papel determinante sobretudo na adolescência. "No entanto, ninguém é feliz com o outro sem que antes seja feliz consigo mesmo, por isso as discrepâncias de sentimentos muitas vezes leva o jovem a recorrer a tentativas erradas de modificar algo que pensa e sente ser um defeito que os outros criticam." Por isso, não se devem fechar os olhos aos distúrbios alimentares. "Para além de ser um assunto sério, é uma realidade que tem vindo a crescer de forma evidente, o que anuncia a necessidade de aumentar a atenção para com os jovens que se preocupam demasiado com a imagem que os outros têm de si", refere.
Para Ercília Duarte, a intervenção em casos de anorexia e bulimia tem de envolver todo o núcleo familiar, mais uma equipa multidisciplinar. "A primeira grande dificuldade é fazer o jovem entender que precisa de ajuda, o que muitas vezes é impensável, pois para eles o problema está nos outros e não em si mesmo. Num processo de intervenção, o primeiro passo é o reconhecimento do problema que tem de estar entendido e devidamente fundamentado, ou seja, como, porquê, quando começou e como poderá acabar." Reconhecido o problema é preciso colaboração de todas as partes, até porque o jovem precisa de "compreensão, tolerância, força, auto-estima, vontade, coragem e harmonia". "Tudo o que não precisa é de sentimento de culpa e de críticas que em nada o ajuda a restabelecer a auto-estima".
A escola tem também um papel importante, uma missão preventiva (cont aqui)
Um jovem precisa de se sentir integrado num grupo, que assume um papel determinante sobretudo na adolescência. "No entanto, ninguém é feliz com o outro sem que antes seja feliz consigo mesmo, por isso as discrepâncias de sentimentos muitas vezes leva o jovem a recorrer a tentativas erradas de modificar algo que pensa e sente ser um defeito que os outros criticam." Por isso, não se devem fechar os olhos aos distúrbios alimentares. "Para além de ser um assunto sério, é uma realidade que tem vindo a crescer de forma evidente, o que anuncia a necessidade de aumentar a atenção para com os jovens que se preocupam demasiado com a imagem que os outros têm de si", refere.
Para Ercília Duarte, a intervenção em casos de anorexia e bulimia tem de envolver todo o núcleo familiar, mais uma equipa multidisciplinar. "A primeira grande dificuldade é fazer o jovem entender que precisa de ajuda, o que muitas vezes é impensável, pois para eles o problema está nos outros e não em si mesmo. Num processo de intervenção, o primeiro passo é o reconhecimento do problema que tem de estar entendido e devidamente fundamentado, ou seja, como, porquê, quando começou e como poderá acabar." Reconhecido o problema é preciso colaboração de todas as partes, até porque o jovem precisa de "compreensão, tolerância, força, auto-estima, vontade, coragem e harmonia". "Tudo o que não precisa é de sentimento de culpa e de críticas que em nada o ajuda a restabelecer a auto-estima".
A escola tem também um papel importante, uma missão preventiva (cont aqui)
Foto flickr aqui
>> Colóquio Caldas de Vizela (11 Dezembro)
Saudamos a iniciativa e divulgamos:
(fonte: blogue de alunos de Caldas de Vizela ,aqui )No próximo dia 11 de Dezembro pelas 21h00 realiza-se na Sala de Alunos de Caldas de Vizela um colóquio subordinado ao tema "Doenças do Séc. XXI". O painel será moderado pelo Dr. João Cocharra e será aberto a toda a comunidade. Do Programa do Colóquio (clique na imagem à esquerda) destacamos dois pontos:
1. Anorexia, Bulimia e Obesidade
pelo Dr. João Cocharra
5. Como Devem Lidar os Pais com as Doenças do Séc. XXI?
Pela Psicóloga Estela Silva
(fonte: blogue de alunos de Caldas de Vizela ,aqui )No próximo dia 11 de Dezembro pelas 21h00 realiza-se na Sala de Alunos de Caldas de Vizela um colóquio subordinado ao tema "Doenças do Séc. XXI". O painel será moderado pelo Dr. João Cocharra e será aberto a toda a comunidade. Do Programa do Colóquio (clique na imagem à esquerda) destacamos dois pontos:
1. Anorexia, Bulimia e Obesidade
pelo Dr. João Cocharra
5. Como Devem Lidar os Pais com as Doenças do Séc. XXI?
Pela Psicóloga Estela Silva
Dec 6, 2009
>> o corpo: como é e como nos apercebemos
Ter uma imagem distorcida do próprio corpo é várias vezes referido como um sintoma dos doentes anorécticos. Sentirem-se gordas/os mesmo quando o índice de massa corporal (IMC) está em níveis tão baixos que a vida se encontra em risco ( IMC, relação entre peso e altura que permite quantificar as situações de magreza ou obesidade). Os ossos espetam-se para fora da pele, mas mesmo assim os doentes acham-se 'veêm-se" gordos. Contudo, isso não é verdade para todos os doentes. Como foi divulgado em dois artigos de Novembro na revista Psychological Medicine podem existir também doentes que olhando para o espelho se apercebem de que estão muito magros, mas apesar disso não conseguem parar os comportamentos anorécticos.Eu fui uma delas pois estavam muito magra e via-me ao espelho magra (mas nunca 'suficientemente magra') mas recentemente, em contacto com outras doentes e ex-doentes apercebi-me que não fui excepção, elas também se viam magras ou esqueléticas ao espelho).Independentemente de estarmos ou não afectados por uma doença de comportamento alimentar, o que vimos no espelho depende de vários factores, como informam as notas seguintes etiradas do site espanhol STOP OBSESION . Para uma explicação mais detalhada sobre os padrões estéticos, pode ler-se (em espanhol) o artigo de Carmen Bañuelos Madera (aqui , no arquivo de documentos deste blogue; contributos e sugestões para or arquivo são mais que bem-vindos)
"Qual a diferença entre o nosso corpo e a percepção que temos dele? O corpo é algo objectivo que se pode medir, quantificar. A percepção do nosso corpo é subjectiva, a ideia que temos dele. O corpo físico pode manter-se igual e no entanto a percepção que temos dele modificar-se.
A percepção do nosso corpo ( ou seja a “forma como nos vemos, tendo aqui a visão um sentido lato) depende entre outros factores, dos seguintes:
Da observação visual: o que vimos quando nos olhamos ao espelho.
Dos sentimentos e o nosso estado de espírito .
As nossas ideias e pensamentos, ou seja os nossos conhecimentos a informação que detemos, o que aprendemos.
O ambiente e factores sócio-culturais (por exemplo a moda, a publicidade, os meios de comunicação). Actualmente o padrão de beleza dominante está associado a um culto exagerado da magreza."
Da observação visual: o que vimos quando nos olhamos ao espelho.
Dos sentimentos e o nosso estado de espírito .
As nossas ideias e pensamentos, ou seja os nossos conhecimentos a informação que detemos, o que aprendemos.
O ambiente e factores sócio-culturais (por exemplo a moda, a publicidade, os meios de comunicação). Actualmente o padrão de beleza dominante está associado a um culto exagerado da magreza."
Dec 5, 2009
>> as "vozes" dentro de nós
O texto seguinte tenta descrever o que são as chamadas vozes "negativas" ouvidas pelos que sofrem de Doenças do Comportamento Alimentar. Foi retirado do site pró-recuperação Something Fishy. Tratam-se de “vozes” no sentido figurado.
"Quando sofremos de uma doença do comportamento alimentar, as "vozes" que ouvimos, são as "vozes" que damos ao nosso próprio auto-ódio e à falta de auto-estima. São muitas vezes referidas como vozes negativas, registos negativos ou pensamentos negativos. Para alguém que nunca tenha sofrido de uma doença do comportamento alimentar (anorexia nervosa, bulimia), a melhor forma de compreender o que são as "vozes" é imaginar diálogos que pode ter consigo próprio. Por exemplo, se cometeu um erro e se auto-censurou em pensamento em relação a esse erro. Outro exemplo, quando é necessário tomar uma decisão difícil e se reflecte sobre os prós e os contras.
Imagine agora que a sua auto-reflexão e os seus pensamentos eram apenas negativos e que a única maneira de se livrar dessa voz "negativa" era pensar em comida, peso e alimentação. Se sofremos de anorexia nervosa e/ou bulimia sentimos uma confusão enorme em escutar essas “vozes” … elas falam de um lugar algures dentro de nós que está invadido pela baixa auto-estima. Que quer acreditar que não merecemos ser felizes, que não prestamos para nada.
Por vezes essas vozes são descritas pelos doentes como “pensamentos em voz alta”, “ a minha cabeça” ou como “voz ou vozes”.
Essas vozes dizem coisas que nos convencem que somos estúpidas/os, inúteis, merecemos ser infelizes, para não comermos, para continuar a comer ou pra nos livrarmos do que comemos. Dizem-nos que “ o mundo seria melhor sem ti”. Vêm de um lugar dentro de nós atormentado pelo pessimismo e auto-ódio incentivando-nos a continuar com o distúrbio alimentar e a convencer-nos que não merecemos recuperar, que merecemos uma vida de dor.
As “vozes” dos nossos distúrbios alimentares tentam também convencer-nos que não temos força de vontade, que somos fracas/os quando comemos, e que nunca ninguém irá gostar de nós. Essas “vozes” intimidam-nos com culpas e por vezes repreendem-nos pelo comportamento alimentar anormal.
A recuperação não é fácil e exige esforço. Estamos a lutar contra nós próprias/os ( e contra o que as nossas “vozes” negativas nos estão sempre a lembrar) estamos a lutar de facto pelo que merecemos (recuperação, felicidade e amor-próprio!). Aprender a lidar com essas “vozes” é uma tarefa difícil ... aprender a não as ouvir pode ser como matar a/o nossa/o melhor amiga/o. É confuso e assustador. Em muitos casos a nossa doença de comportamento alimentar manteve-nos focadas/os fora de nós próprias/os e das nossas emoções, e se pararmos de ouvir as "vozes", então o que irá alimentar a nossa doença?
Um dos ingredientes essenciais para a recuperação está a aprender a amarmo-nos a nós próprias/os, e as “vozes” lutam desesperadamente para que isso não aconteça. Se conseguirmos combater a voz ou as vozes dentro de nós que continuam a reforçar a nossa negatividade, vamos conseguir encontrar o nosso caminho para o outro lado, para a cura. (...)
Por vezes essas vozes são descritas pelos doentes como “pensamentos em voz alta”, “ a minha cabeça” ou como “voz ou vozes”.
Essas vozes dizem coisas que nos convencem que somos estúpidas/os, inúteis, merecemos ser infelizes, para não comermos, para continuar a comer ou pra nos livrarmos do que comemos. Dizem-nos que “ o mundo seria melhor sem ti”. Vêm de um lugar dentro de nós atormentado pelo pessimismo e auto-ódio incentivando-nos a continuar com o distúrbio alimentar e a convencer-nos que não merecemos recuperar, que merecemos uma vida de dor.
As “vozes” dos nossos distúrbios alimentares tentam também convencer-nos que não temos força de vontade, que somos fracas/os quando comemos, e que nunca ninguém irá gostar de nós. Essas “vozes” intimidam-nos com culpas e por vezes repreendem-nos pelo comportamento alimentar anormal.
A recuperação não é fácil e exige esforço. Estamos a lutar contra nós próprias/os ( e contra o que as nossas “vozes” negativas nos estão sempre a lembrar) estamos a lutar de facto pelo que merecemos (recuperação, felicidade e amor-próprio!). Aprender a lidar com essas “vozes” é uma tarefa difícil ... aprender a não as ouvir pode ser como matar a/o nossa/o melhor amiga/o. É confuso e assustador. Em muitos casos a nossa doença de comportamento alimentar manteve-nos focadas/os fora de nós próprias/os e das nossas emoções, e se pararmos de ouvir as "vozes", então o que irá alimentar a nossa doença?
Um dos ingredientes essenciais para a recuperação está a aprender a amarmo-nos a nós próprias/os, e as “vozes” lutam desesperadamente para que isso não aconteça. Se conseguirmos combater a voz ou as vozes dentro de nós que continuam a reforçar a nossa negatividade, vamos conseguir encontrar o nosso caminho para o outro lado, para a cura. (...)
Se ama alguém que está neste sofrimento, recorde estas breves notas. Procure que esse alguém encontre também apoio especializado. O apoio a quem ama constrói-se com amizade, incentivo, optimismo e não a ampliar as “vozes” negativas com culpas ou criticismos. (...).
Na recuperação os doentes lutam contra as “vozes negativas” dentro deles e encontram os próprios caminhos para (…)
Nota: É também possível para um doente com anorexia ou bulimia ouvir vozes de facto, [tal como acontece com um doente esquizofrénico] Essas vozes reais podem ser resultado da má nutrição extrema ou desidratação, ou de alguma doença relacionada com outros transtornos psiquiátricos. Na maioria dos casos, o uso mais comum para o termo "vozes", é como foi descrito anteriormente, mas existem casos em que um doente pode realmente ter alucinações auditivas (...). As alucinações podem também ser um efeito secundário de alguns medicamentos (...).
Nota: É também possível para um doente com anorexia ou bulimia ouvir vozes de facto, [tal como acontece com um doente esquizofrénico] Essas vozes reais podem ser resultado da má nutrição extrema ou desidratação, ou de alguma doença relacionada com outros transtornos psiquiátricos. Na maioria dos casos, o uso mais comum para o termo "vozes", é como foi descrito anteriormente, mas existem casos em que um doente pode realmente ter alucinações auditivas (...). As alucinações podem também ser um efeito secundário de alguns medicamentos (...).
Foto flickr cc aqui
Dec 4, 2009
>> Perfeccionismo e Atitudes Alimentares dos Estudantes Portugueses (resultados de uma investigação)
Foi publicado muito recentemente o estudo abaixo resumido e que recolheu informação junto de 382 estudantes portuguesas. Foram aplicados questionários internacionais (sobre perfeccionismo e sobre atitudes alimentares) . Apresentamos abaixo um resumo e recomendamos a leitura.(o texto em inglês pode ser lido na íntegra aqui)
Perfectionism and eating attitudes in portuguese students: A longitudinal study
European Eating Disorders Review, Volume 17, Issue 5, Date: September/October 2009, Pages: 390-398
Maria João Soares, António Macedo, Sandra Carvalho Bos, Mariana Marques, Berta Maia, Ana Telma Pereira, Ana Gomes, José Valente, Michele Pato, Maria Helena Azevedo
O estudo baseado em recolha de informação em diferentes anos para as mesmas estudantes, teve por objectivo “investigar o papel do perfeccionismo no desenvolvimento dos distúrbios do comportamento alimentar”. Foram analisadas 382 estudantes universitárias com base no Hewitt & Flett MPS [Escala de Perfeccionismo Multidimensional] e no EAT-40 [Teste de Atitudes Alimentares / Eating Attitudes Test] no início da investigação e um ano depois (T1) e 206 estudantes dois anos depois (T2).”
Os resultados permitiram concluir que “O perfeccionismo na situação inicial estava associado significativamente com o comportamento anormal no longo prazo no que se refere a atitudes e comportamentos alimentares. O Perfeccionismo Auto-Orientado [ou seja, padrões irrealistas auto impostos e auto escrutínio/avaliação crítico; em inglês Self-Oriented Perfectionism (SOP)] e o Perfeccionismo Induzido Socialmente [percepção de que os outros possuem padrões irrealisticamente elevados e exigem a perfeição do próprio; em inglês Socially Prescribed Perfectionism (SPP)] foram predictores significativos das doenças do comportamento alimentar [disordered eating behaviours]. A análise de regressão revela que o SOP inicial foi predictivo das preocupações com dieta [Diet Concerns] e das perturbações do comportamento alimentar no geral ( nível de EAT total) passado um ano e dois [T1 e T2]. O SPP foi um predictor significativo da Pressão Social para Comer [que inclui a pressão dos outros para ganhar peso, que é apercebida pelo indivíduo ] passado um ano e dois (T1 e T2) e do comportamento bulímico passado um ano (T1).
Conclusão: os resultados contribuem para uma melhor compreensão da associação entre o perfeccionismo e as doenças do comportamento alimentar . O Perfeccionismo Auto-Orientado e o Perfeccionismo Induzido Socialmente antecipam atitudes e comportamentos alimentares anormais e o Perfeccionismo Auto-Orientado conclui-se ser preditivo de preocupações com dieta e de uma modo geral perturbações alimentares.
Da Introdução
"Muitos estudos têm demonstrado que o perfeccionismo é um factor que permite prever inadaptações psicológicas que desempenham um papel importante no estudo das causas, manutenção e evolução de um largo espectro de estados psicopatológicos tais como a depressão, comportamentos obscessivo-compulsivos, fobia social, comportamento suicidário, doenças do comportamento alimentar (Shafran & Mansell, 2001) problemas de sono (Azevedo et al., 2007). O perfeccionismo tem sido descrito, em particular, como um importante factor de risco das doenças do comportamento alimentar [eating disorders ED], com alguns estudos a revelarem que os níveis elevados de perfeccionismo nos adolescentes são factores predictivos de doenças do comportamento alimentar no futuro (Tyrka, Waldron, Graber, & Brooks-Gunn, 2002).
No início da década de 90 , aperspectiva unidimensional tradicional do perfeccionismo alterou-se para uma perspectiva multidimensional mais completa baseada na visão de que o perfeccionismo tem componentes pessoais e sociais e que as suas dimensões interpessoais são da maior relevância para compreender as dificuldades de adaptação experimentadas pelos perfeccionistas. Nesta linha de aproximação multidimensional, Hewitt and Flett (MPS-H&F, 1991) e Frost, Marten, Lahart, e Rosenblate (MPS-F, 1990) desenvolveram medidas de perfeccionismo auto-apercebido designadas por Escala Multidimensional de Perfeccionismo [Multidimensional Perfectionism Scale (MPS)]" (continuar a ler)
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European Eating Disorders Review, Volume 17, Issue 5, Date: September/October 2009, Pages: 390-398
Maria João Soares, António Macedo, Sandra Carvalho Bos, Mariana Marques, Berta Maia, Ana Telma Pereira, Ana Gomes, José Valente, Michele Pato, Maria Helena Azevedo
O estudo baseado em recolha de informação em diferentes anos para as mesmas estudantes, teve por objectivo “investigar o papel do perfeccionismo no desenvolvimento dos distúrbios do comportamento alimentar”. Foram analisadas 382 estudantes universitárias com base no Hewitt & Flett MPS [Escala de Perfeccionismo Multidimensional] e no EAT-40 [Teste de Atitudes Alimentares / Eating Attitudes Test] no início da investigação e um ano depois (T1) e 206 estudantes dois anos depois (T2).”
Os resultados permitiram concluir que “O perfeccionismo na situação inicial estava associado significativamente com o comportamento anormal no longo prazo no que se refere a atitudes e comportamentos alimentares. O Perfeccionismo Auto-Orientado [ou seja, padrões irrealistas auto impostos e auto escrutínio/avaliação crítico; em inglês Self-Oriented Perfectionism (SOP)] e o Perfeccionismo Induzido Socialmente [percepção de que os outros possuem padrões irrealisticamente elevados e exigem a perfeição do próprio; em inglês Socially Prescribed Perfectionism (SPP)] foram predictores significativos das doenças do comportamento alimentar [disordered eating behaviours]. A análise de regressão revela que o SOP inicial foi predictivo das preocupações com dieta [Diet Concerns] e das perturbações do comportamento alimentar no geral ( nível de EAT total) passado um ano e dois [T1 e T2]. O SPP foi um predictor significativo da Pressão Social para Comer [que inclui a pressão dos outros para ganhar peso, que é apercebida pelo indivíduo ] passado um ano e dois (T1 e T2) e do comportamento bulímico passado um ano (T1).
Conclusão: os resultados contribuem para uma melhor compreensão da associação entre o perfeccionismo e as doenças do comportamento alimentar . O Perfeccionismo Auto-Orientado e o Perfeccionismo Induzido Socialmente antecipam atitudes e comportamentos alimentares anormais e o Perfeccionismo Auto-Orientado conclui-se ser preditivo de preocupações com dieta e de uma modo geral perturbações alimentares.
Da Introdução
"Muitos estudos têm demonstrado que o perfeccionismo é um factor que permite prever inadaptações psicológicas que desempenham um papel importante no estudo das causas, manutenção e evolução de um largo espectro de estados psicopatológicos tais como a depressão, comportamentos obscessivo-compulsivos, fobia social, comportamento suicidário, doenças do comportamento alimentar (Shafran & Mansell, 2001) problemas de sono (Azevedo et al., 2007). O perfeccionismo tem sido descrito, em particular, como um importante factor de risco das doenças do comportamento alimentar [eating disorders ED], com alguns estudos a revelarem que os níveis elevados de perfeccionismo nos adolescentes são factores predictivos de doenças do comportamento alimentar no futuro (Tyrka, Waldron, Graber, & Brooks-Gunn, 2002).
No início da década de 90 , aperspectiva unidimensional tradicional do perfeccionismo alterou-se para uma perspectiva multidimensional mais completa baseada na visão de que o perfeccionismo tem componentes pessoais e sociais e que as suas dimensões interpessoais são da maior relevância para compreender as dificuldades de adaptação experimentadas pelos perfeccionistas. Nesta linha de aproximação multidimensional, Hewitt and Flett (MPS-H&F, 1991) e Frost, Marten, Lahart, e Rosenblate (MPS-F, 1990) desenvolveram medidas de perfeccionismo auto-apercebido designadas por Escala Multidimensional de Perfeccionismo [Multidimensional Perfectionism Scale (MPS)]" (continuar a ler)
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Dec 2, 2009
>> Natal, festividades e ansiedade
No blogue colectivo SALPICOS, que acompanho, e da autoria de Elsa Gomes Neto, foi colocado um post muito interessante e oportuno nesta época de 'festividades'. Recomendo a leitura aqui. Começa assim:
"A ideia da família reunida a festejar o Natal está longe de despertar afectos consensuais, pois a forma como cada pessoa sente a sua família e a sua relação com cada um dos seus elementos, pais, irmãos, primos, etc, é única. Ora se nesta época é socialmente obrigatório que essa re-união aconteça é também psicologicamente obrigatório que ...."[ continuar a ler no blogue Salpicos]
Na mesma linha de época festiva:
A imagem foi retirada daqui (site ed-bites), é a propósito do 'Dia de Acção de Graças' (a 'festa da família' nos Estados Unidos) e dos sentimentos negativos que pode criar. Alegra-te! Ao menos não és o Pássaro Grande (quem conhece a série, que atravessa gerações, sabe quem é o pássaro gigante amarelo aqui despromovido a vulgar perú sem sorte).
Podem ainda ser encontrados, dois links (em inglês) no mesmo site ed-bites (um deles sobre festividades e alimentação, que irei reproduzir em português), sobre como manter um bom estado de espírito durante as festividades. Sou contra receitas, mas algumas podem ser úteis.
"A ideia da família reunida a festejar o Natal está longe de despertar afectos consensuais, pois a forma como cada pessoa sente a sua família e a sua relação com cada um dos seus elementos, pais, irmãos, primos, etc, é única. Ora se nesta época é socialmente obrigatório que essa re-união aconteça é também psicologicamente obrigatório que ...."[ continuar a ler no blogue Salpicos]
Na mesma linha de época festiva:
A imagem foi retirada daqui (site ed-bites), é a propósito do 'Dia de Acção de Graças' (a 'festa da família' nos Estados Unidos) e dos sentimentos negativos que pode criar. Alegra-te! Ao menos não és o Pássaro Grande (quem conhece a série, que atravessa gerações, sabe quem é o pássaro gigante amarelo aqui despromovido a vulgar perú sem sorte).
Podem ainda ser encontrados, dois links (em inglês) no mesmo site ed-bites (um deles sobre festividades e alimentação, que irei reproduzir em português), sobre como manter um bom estado de espírito durante as festividades. Sou contra receitas, mas algumas podem ser úteis.
Dec 1, 2009
Nov 27, 2009
>> Jovem brilhante morreu devido a anorexia (UK)
Tive conhecimento desta triste notícia pelo blogue da Vanessa Marsden, médica psiquiátrica e investigadora . A notícia original pode ser lida no Mail online (aqui) , foi publicada há 15 horas e recebeu até agora 193 comentários.
É uma má notícia mas é também um alerta para a mortalidade causada pela anorexia e bulimia. Porque sabemos que a doença ataca jovens com diferentes perfis. Alice Rae "tinha tudo para ser feliz" (diziam, dizem), era inteligente (e por isso devia pensar e agir correctamente, pensam), atingiu níveis muito elevados de excelência e de perfeição, era sociável tinha amigos e amigas, página no Facebook, tinha futuros promissores, etc.etc.etc.
Chamava-se Alice Rae, tinha 18 anos sofria de anorexia e bulimia durante os últimos 2 anos. Tinha sempre sido uma aluna brilhante, com classificações máximas e tinha sido aceite para entrar na prestigiada Universidade de Cambridge para estudar economia. Vivia com os pais Christine e Peter. Tinha três irmãos: William, Tom e Georgina. "Era uma jovem encantadora, amorosa, bonita, inteligente extraordinariamente dotada." Os pais "tinham muito orgulho nela". "A Alice era muito inteligente, feliz, participante activa na comunidade escolar com um enorme potencial. A sua morte chocou-nos a todos" . Algumas semanas antes de falecer tinha sido admitida num hospital com níveis de potássio no sangue que punham a vida em risco, mas tinha tido alta poucas horas depois. [ Este caso dramático está a motivar também discussão no Reino Unido sobre a qualidade dos serviços públicos de saúde prestados aos doentes com anorexia e bulimia.]
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