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Dec 5, 2009

>> as "vozes" dentro de nós

O texto seguinte tenta descrever o que são as chamadas vozes "negativas" ouvidas pelos que sofrem de Doenças do Comportamento Alimentar. Foi retirado do site pró-recuperação Something Fishy. Tratam-se de “vozes” no sentido figurado.
"Quando sofremos de uma doença do comportamento alimentar, as "vozes" que ouvimos, são as "vozes" que damos ao nosso próprio auto-ódio e à falta de auto-estima. São muitas vezes referidas como vozes negativas, registos negativos ou pensamentos negativos. Para alguém que nunca tenha sofrido de uma doença do comportamento alimentar (anorexia nervosa, bulimia), a melhor forma de compreender o que são as "vozes" é imaginar diálogos que pode ter consigo próprio. Por exemplo, se cometeu um erro e se auto-censurou em pensamento em relação a esse erro. Outro exemplo, quando é necessário tomar uma decisão difícil e se reflecte sobre os prós e os contras.
Imagine agora que a sua auto-reflexão e os seus pensamentos eram apenas negativos e que a única maneira de se livrar dessa voz "negativa" era pensar em comida, peso e alimentação. Se sofremos de anorexia nervosa e/ou bulimia sentimos uma confusão enorme em escutar essas “vozes” … elas falam de um lugar algures dentro de nós que está invadido pela baixa auto-estima. Que quer acreditar que não merecemos ser felizes, que não prestamos para nada.
Por vezes essas vozes são descritas pelos doentes como “pensamentos em voz alta”, “ a minha cabeça” ou como “voz ou vozes”.
Essas vozes dizem coisas que nos convencem que somos estúpidas/os, inúteis, merecemos ser infelizes, para não comermos, para continuar a comer ou pra nos livrarmos do que comemos. Dizem-nos que “ o mundo seria melhor sem ti”. Vêm de um lugar dentro de nós atormentado pelo pessimismo e auto-ódio incentivando-nos a continuar com o distúrbio alimentar e a convencer-nos que não merecemos recuperar, que merecemos uma vida de dor.
As “vozes” dos nossos distúrbios alimentares tentam também convencer-nos que não temos força de vontade, que somos fracas/os quando comemos, e que nunca ninguém irá gostar de nós. Essas “vozes” intimidam-nos com culpas e por vezes repreendem-nos pelo comportamento alimentar anormal.
A recuperação não é fácil e exige esforço. Estamos a lutar contra nós próprias/os ( e contra o que as nossas “vozes” negativas nos estão sempre a lembrar) estamos a lutar de facto pelo que merecemos (recuperação, felicidade e amor-próprio!). Aprender a lidar com essas “vozes” é uma tarefa difícil ... aprender a não as ouvir pode ser como matar a/o nossa/o melhor amiga/o. É confuso e assustador. Em muitos casos a nossa doença de comportamento alimentar manteve-nos focadas/os fora de nós próprias/os e das nossas emoções, e se pararmos de ouvir as "vozes", então o que irá alimentar a nossa doença?
Um dos ingredientes essenciais para a recuperação está a aprender a amarmo-nos a nós próprias/os, e as “vozes” lutam desesperadamente para que isso não aconteça. Se conseguirmos combater a voz ou as vozes dentro de nós que continuam a reforçar a nossa negatividade, vamos conseguir encontrar o nosso caminho para o outro lado, para a cura. (...)
Se ama alguém que está neste sofrimento, recorde estas breves notas. Procure que esse alguém encontre também apoio especializado. O apoio a quem ama constrói-se com amizade, incentivo, optimismo e não a ampliar as “vozes” negativas com culpas ou criticismos. (...).
Na recuperação os doentes lutam contra as “vozes negativas” dentro deles e encontram os próprios caminhos para (…)
Nota: É também possível para um doente com anorexia ou bulimia ouvir vozes de facto, [tal como acontece com um doente esquizofrénico] Essas vozes reais podem ser resultado da má nutrição extrema ou desidratação, ou de alguma doença relacionada com outros transtornos psiquiátricos. Na maioria dos casos, o uso mais comum para o termo "vozes", é como foi descrito anteriormente, mas existem casos em que um doente pode realmente ter alucinações auditivas (...). As alucinações podem também ser um efeito secundário de alguns medicamentos (...).
Foto flickr cc aqui

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