Reproduzo abaixo um post escrito por uma jovem espanhola Ana no blogue Confesiones de Ana. Escrevi-lhe e ela concordou em que o post fosse aqui integralmente reproduzido em língua portuguesa. Obrigada Ana pela tua sensibilidade e coragem ! O texto original pode ser encontado aqui. São palavras de esperança para quem como ela segue segura no caminho da recuperação e também para quem se encontra ainda em encruzilhadas. Eu gostei de ler, como muitos outros posts no mesmo blogue.
14 de janeiro de 2009
"Conta a lenda que no Paraíso, sob a Árvore do Bem e do Mal, floriu uma roseira. E perto da primeira rosa nasceu uma ave com uma linda plumagem e um canto incomparável. Essa ave foi o único ser que não quis provar os frutos da Árvore. Quando Adão e Eva foram expulsos do Paraíso, caiu sobre o ninho dessa ave uma centelha da espada de fogo de um Querubim, e o pássaro ardeu num ápice.
Mas, das próprias chamas, surgiu uma nova ave, o Fénix, com uma plumagem magnífica e única, asas vermelhas e corpo dourado.
A imortalidade do Fénix foi a recompensa pela sua obediência ao preceito divino. Recebeu também outras qualidades como o conhecimento, a propriedade curativa das suas lágrimas, e sua força incrível. Ao longo das suas múltiplas vidas, a missão do Fénix foi transmitir conhecimentos que foi guardando desde a sua criação junto à Árvore do Bem e do Mal, e inspirar o trabalho dos pesquisadores do conhecimento, fossem artistas ou cientistas."
Acredita-se que a Fénix foi o único animal do Paraíso que resistiu à tentação, o que fez ele ser um eterno.
E é assim que me sinto. Como uma Ave Fénix que renasce das suas cinzas, deixando para trás a tentação o pecado.
Vejo-me agora: irreconhecível. Olho-me no espelho e tenho dificuldade em identificar a imagem reflectida à minha frente. Mas sou eu, um novo eu, ressuscitado das cinzas, das cinzas das chamas que me foram destruindo-me durante muitos anos. E, tal como a ave Fénix , ressurgi com uma nova imagem que, por muito que me custe, tenho que admiti-lo, é muito mais atraente. Deixei de ser uma menina e transformei-me numa mulher. Uma mulher com curvas, um longo cabelo brilhante, um pele radiosa, uns olhos a brilhar, um sorriso permanente.
Renunciei ao pecado, à tentação e livrei-me das chamas que me consumiam para me converter em quem sou hoje.
Não posso enganar-me a mim própria, tudo o que me magoa continua a estar aqui. Todas as razões que me fizeram mergulhar no mundo sombrio da anorexia estão aqui, não desapareceram, e não desaparecerão. Mas eu aprendi a viver com elas.
Usei a minha anorexia como uma forma de enfrentar meus medos, acreditando que desse modo deixariam de me magoar, deixariam de me amedrontar. Mas estava enganada. Os medos não desapareceram, apenas os transformei em novos medos. Aprendi a não temer a morte, a não temer o passar dos anos, a não ter medo da mudança permanente das coisas, a não temer a transformação do mundo. Mas novos medos nasceram que me tornavam o dia a dia cada vez mais difícil.
Resisti à tentação e livrei-me das chamas, renasci das cinzas, mas os meus medos não desapareceram. Continuo a ter medo da morte, continuo a ter medo do passar dos anos, da instabilidade do mundo. E os medos afectam-me, magoam-me e não posso mudar.
Às vezes tento lembrar-me de como era fácil viver num mundo em que, ao contrário da grande maioria das pessoas não tinha medo da morte. Mas eu sei que era apenas um engano, porque a verdade é que não deixei de ter medo, apenas mudou o meu medo para outros aspectos da minha vida e acabou por ser tudo muito mais difícil ainda.
Não é fácil viveres com os teus medos. Sou uma pessoa extremamente sensível, tudo me afecta muito e às vezes, choro sem motivo. Mas também sorrio sem motivo pelo simples facto de que, apesar dos meus medos, estou satisfeita com o que tenho.
E estou a aprender a gostar do meu corpo. Eu sei que nunca chegará o momento em que direi "Estou satisfeita com meu corpo", não sei se pela minha própria situação ou se pelo facto de ser mulher. Mas hoje, eu começo a aceitar o meu corpo, a aceitar a imagem reflectida no espelho, a não temer tão intensamente uma refeição, uma reunião de família, o verão; a não temer as mudanças naturais do meu próprio corpo, um corpo que começo a aceitar como "algo" belo por ser exactamente como é. E custa-me aceitá-lo, mas começo a fazê-lo (com certeza que com alguns quilitos a menos seria muito mais fácil).
Renasci das cinzas que me consumiram e não foi fácil. Mas fi-lo e ganhei o prémio da vida eterna. E valeu a pena. É difícil renunciar à tentação da anorexia, que sempre considerei como uma coisa "eterna", que gostaria de ter para sempre, mas temos que mudar essa concepção errada. E olhar para o espelho, pelo outro lado, pelo lado da realidade onde a eternidade só é alcançada renascendo das cinzas e vivendo a eternidade da vida com os medos e incertezas que isso implica, mas a vida, ao fim e ao cabo, a vida que é a base da eternidade"
ANA
http://www.elavefenix.net/
"Conta a lenda que no Paraíso, sob a Árvore do Bem e do Mal, floriu uma roseira. E perto da primeira rosa nasceu uma ave com uma linda plumagem e um canto incomparável. Essa ave foi o único ser que não quis provar os frutos da Árvore. Quando Adão e Eva foram expulsos do Paraíso, caiu sobre o ninho dessa ave uma centelha da espada de fogo de um Querubim, e o pássaro ardeu num ápice.
Mas, das próprias chamas, surgiu uma nova ave, o Fénix, com uma plumagem magnífica e única, asas vermelhas e corpo dourado.
A imortalidade do Fénix foi a recompensa pela sua obediência ao preceito divino. Recebeu também outras qualidades como o conhecimento, a propriedade curativa das suas lágrimas, e sua força incrível. Ao longo das suas múltiplas vidas, a missão do Fénix foi transmitir conhecimentos que foi guardando desde a sua criação junto à Árvore do Bem e do Mal, e inspirar o trabalho dos pesquisadores do conhecimento, fossem artistas ou cientistas."
Acredita-se que a Fénix foi o único animal do Paraíso que resistiu à tentação, o que fez ele ser um eterno.
E é assim que me sinto. Como uma Ave Fénix que renasce das suas cinzas, deixando para trás a tentação o pecado.
Vejo-me agora: irreconhecível. Olho-me no espelho e tenho dificuldade em identificar a imagem reflectida à minha frente. Mas sou eu, um novo eu, ressuscitado das cinzas, das cinzas das chamas que me foram destruindo-me durante muitos anos. E, tal como a ave Fénix , ressurgi com uma nova imagem que, por muito que me custe, tenho que admiti-lo, é muito mais atraente. Deixei de ser uma menina e transformei-me numa mulher. Uma mulher com curvas, um longo cabelo brilhante, um pele radiosa, uns olhos a brilhar, um sorriso permanente.
Renunciei ao pecado, à tentação e livrei-me das chamas que me consumiam para me converter em quem sou hoje.
Não posso enganar-me a mim própria, tudo o que me magoa continua a estar aqui. Todas as razões que me fizeram mergulhar no mundo sombrio da anorexia estão aqui, não desapareceram, e não desaparecerão. Mas eu aprendi a viver com elas.
Usei a minha anorexia como uma forma de enfrentar meus medos, acreditando que desse modo deixariam de me magoar, deixariam de me amedrontar. Mas estava enganada. Os medos não desapareceram, apenas os transformei em novos medos. Aprendi a não temer a morte, a não temer o passar dos anos, a não ter medo da mudança permanente das coisas, a não temer a transformação do mundo. Mas novos medos nasceram que me tornavam o dia a dia cada vez mais difícil.
Resisti à tentação e livrei-me das chamas, renasci das cinzas, mas os meus medos não desapareceram. Continuo a ter medo da morte, continuo a ter medo do passar dos anos, da instabilidade do mundo. E os medos afectam-me, magoam-me e não posso mudar.
Às vezes tento lembrar-me de como era fácil viver num mundo em que, ao contrário da grande maioria das pessoas não tinha medo da morte. Mas eu sei que era apenas um engano, porque a verdade é que não deixei de ter medo, apenas mudou o meu medo para outros aspectos da minha vida e acabou por ser tudo muito mais difícil ainda.
Não é fácil viveres com os teus medos. Sou uma pessoa extremamente sensível, tudo me afecta muito e às vezes, choro sem motivo. Mas também sorrio sem motivo pelo simples facto de que, apesar dos meus medos, estou satisfeita com o que tenho.
E estou a aprender a gostar do meu corpo. Eu sei que nunca chegará o momento em que direi "Estou satisfeita com meu corpo", não sei se pela minha própria situação ou se pelo facto de ser mulher. Mas hoje, eu começo a aceitar o meu corpo, a aceitar a imagem reflectida no espelho, a não temer tão intensamente uma refeição, uma reunião de família, o verão; a não temer as mudanças naturais do meu próprio corpo, um corpo que começo a aceitar como "algo" belo por ser exactamente como é. E custa-me aceitá-lo, mas começo a fazê-lo (com certeza que com alguns quilitos a menos seria muito mais fácil).
Renasci das cinzas que me consumiram e não foi fácil. Mas fi-lo e ganhei o prémio da vida eterna. E valeu a pena. É difícil renunciar à tentação da anorexia, que sempre considerei como uma coisa "eterna", que gostaria de ter para sempre, mas temos que mudar essa concepção errada. E olhar para o espelho, pelo outro lado, pelo lado da realidade onde a eternidade só é alcançada renascendo das cinzas e vivendo a eternidade da vida com os medos e incertezas que isso implica, mas a vida, ao fim e ao cabo, a vida que é a base da eternidade"
ANA
http://www.elavefenix.net/
2 comments:
Parabéns, um testemunho tocante!
Muito Obrigada Sofia.
http://esqueciaana.blogspot.com/2009/11/coragem-escreve-se-com-s.html
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